quinta-feira, 21 de maio de 2020

Uma mulher fantástica(Una mujer fantastica, Chile, 2017)


Ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional, o chileno Uma Mulher Fantástica apresenta a história de Marina Vidal(Daniela Vega), garçonete, cantora de boate e namorada do maduro Orlando(Francisco Reyes).

O diretor Sebastián Lelio percebe Marina exatamente como ela é neste retrato requintadamente compassivo de uma mulher trans cujo luto por um amante perdido é obstruído a cada passo pelo preconceito e transfobia institucionalizados.

Estilisticamente, Uma Mulher Fantástica é um desbunde, a fotografia jorra neon. A trilha sonora inquietante toca enigmaticamente sobre a imagem de abertura de águas em cascata nas espetaculares Cataratas do Iguaçu, numa projeção de umas férias românticas que nunca acontecem.

Orlando, divorciado de 57 anos, é apresentado frequentando uma sauna escura no centro de Santiago, para depois um jantar de aniversário romântico com Marina. Ele, naquela mesma noite, sofre um aneurisma fatal sofrendo ferimentos graves após uma queda. Uma vez que Marina relata ao irmão de Orlando, Gapo (Luis Gnecco) que ele morreu na mesa de operação, ela corre em pânico do hospital, saltos altos batendo na noite iluminada da cidade antes que a polícia a persiga. 

Ela pode parecer feroz em uma saia lápis de couro justa e uma gabardine, mas Marina não é uma femme fatale, ela é frágil: nada sobre sua identidade ou seu relacionamento com o falecido é vergonhoso ou falso, mas ela se vê tratada como uma impostora: pelos respondentes imediatos do hospital, que insistem em tratá-la por sua identidade de nascimento; por uma detetive (Amparo Noguera) da Unidade de Investigação de Crimes Sexuais, que a submete a uma humilhação física e, finalmente, pela própria família e ex-esposa de Orlando, Sonia, uma arrepiante e corrosiva Aline Kuppenheim, que reivindica direitos de luto primários e rotula Marina de “quimera”, enquanto tira tudo que Orlando lhe deixou. Marina deve arrumar uma maneira independente de dizer adeus e começar tudo de novo.


Lelio emprega uma rica gama de recursos visuais e sonoros para colocar em primeiro plano e expor a vida interior de uma mulher facilmente desconsiderada pela sociedade patriarcal dominante. Ele a enquadra e a ilumina em uma série de planos que vão do naturalismo ao artifício fantástico, o olhar variável da câmera refletindo não apenas sua identidade dividida aos olhos do público, mas as formas ainda conflitantes em que ela se vê pelos diversos espelhos que aparecem na tela.

Há uma cena em que Marina enfrenta uma tempestade, o que muito bem poderia ser uma analogia para a sociedade. Ainda há uma sequência de dança em êxtase em uma boate gay, uma visão fugaz e idealizada da mulher que, Marina ainda sonha em ser. A música também é engenhosamente usada para defini-la de ambos os lados do espelho: Lelio ousadamente faz o uso literal da canção de Aretha Franklin, You Make Me Feel Like A Natural Woman em um ponto chave de sua protagonista

Entre suas múltiplas virtudes, Uma Mulher Fantástica será lembrado por sua estatueta dourada e por uma atriz trans interpretando uma personagem trans. No entanto, a performance expressiva e sutilmente angustiada de Vega merece muito mais do que elogios políticos. É uma façanha de atuação emocionalmente multifacetada, nutrida com sensibilidade perfeita por seu diretor.

Hollywood(EUA, 2020)



O segundo fruto da parceria entre Netflix e Ryan Murphy, após The Politician, é Hollywood, uma série sobre a era de ouro da indústria do cinema, no cenário pós 2a guerra mundial. O mais importante é que Murphy criador da série, ao lado de Ian Brennan, imprime aqui sua marca consagrada por séries como Pose e American horror Story..

O seriado é pautado no sexo e no abuso que muitos atores se submetiam para conquistar seus objetivos. Porém a inclusão de minorias no cinema(negros, gays, asiáticos), ainda tão em voga, é o fio condutor da série.

Hollywood traz personagens reais como Rock Hudson em uma livre versão interpretada por Jake Picking, o agente asqueroso Henry Wildom interpretado brilhantemente por Jim Parsons, o Shelton de The Big Bang Theory  e fictícios como o jovem diretor Raymond Ansley interpretado por Darren Cris, premiado por seu papel em The Assassination of Giani Versace, onde também trabalhou com Murphy.

O posto de gasolina que vende garotos de programa ao invés de combustível é um dos grandes cenários da série e também o elemento que une os personagens para a construção de Peg depois chamado de Meg, filme sobre uma garota que se jogou da letra H do letreiro Hollywood. A produção e seus desfechos abordam temas como racismo, machismo, assédio e abuso.

Hollywood é uma série linda, bem construída e que retrata uma época memorável ainda que flertando com temas muito atuais. É uma mensagem de esperança para quem espera realizar seus sonhos.