sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

TOP 10 SÉRIES LGBTQIA+ 2021

Em 2021, a temática LGBTIQA+ continuou se destacando e atraindo o público para séries, seja em novas temporadas ou em inéditas e necessárias atrações que sempre destacam a relevância em abordar o assunto. Os canais e as plataformas investiram em temas bastante variados, teve drama biográfico, clássicos de horror, visibilidade trans, trajetória do HIV e a eterna descoberta pela identidade sexual. Ah, e antes que me perguntem onde está Veneno(2020), está no primeiro lugar da lista do ano passado. Então vamos ao que teve de melhor em séries LGBTQIA+ no ano que termina hoje, segundo o @cinematografiaqueer.

 10 - American Horror Story: Double Feature(EUA, 2021)

Intitulada Double Feature, numa provável referência à The Rocky Horror Picture Show(1975), e dividida em duas partes, a décima temporada de American Horror Story, série antológica de Ryan Murphy e Brad Falchuk, foi sem dúvida uma de suas piores. Mas vamos aos aspectos positivos que o legado da série nos proporciona. A primeira parte Red Tide fez uma inteligente analogia entre uma pílula, vampirismo e dependência química e contou com o retorno do outrora astro mirim Macaulay Culkin. Quem tomava o comprimido preto desenvolvia seus maiores potenciais ao mesmo tempo que sede por sangue, mas se a pessoa não tivesse um grande talento se tornaria apenas uma criatura noturna. Foi bastante interessante ver os personagens de Sarah Paulson, Evan Peters, Leslie Grossman, Lily Rabe, Frances Conroy, Finn Wittrock e Angelica Ross, que voltaria igualmente diabólica na segunda parte, passando por momentos obscuros enquanto uma atmosfera de Nosferatu pairava no ar de seus arcos dramáticos, porém o desfecho pareceu apressado e deixou muito a desejar. O que valeu no entanto, foram alguns momentos memoráveis como a participação de Eureka O’Hara e a crítica à exploração criativa de grandes corporações. Na segunda parte. Death Valley, entramos em um mundo de teorias de conspiração e aliens. Num clima noir, os episódios são ambientados em dois períodos, em preto e branco, quando os extraterrestres chegam na Terra e negociam com o governo do presidente Nixon e na atualidade, quando um casal homoafetivo é sequestrado por uma nave e engravida, o que é no mínimo inusitado. Outras aparições na fantasiosa trama incluem Marilyn Monroe, John Kennedy, Steve Jobs, Neil Armstrong e Stanley Kubrick. O caldeirão efervescente de ideias de Ryan Murphy parece não se conter ao entrar em ebulição e misturar muitos temas, enquanto deveria trabalhar melhor em um só. Ainda assim, a série é digna da lista, mas na última posição.

Criada pela adolescente Zelda Barnz, de 19 anos, e seu pai Daniel Barnz, que também dirige(seu outro pai, Ben Barnz, produz) Generat+on, segue um grupo de estudantes do ensino médio cuja exploração da sexualidade contemporânea testa crenças sobre a vida, o amor e a natureza da família em uma cidade conservadora. Na primeira cena, uma garota está sentada em uma praça de alimentação de um shopping gritando com sua amiga para terminar no banheiro. Delilah(Lukita Maxwell), está tendo um bebê, mas ninguém pode saber. Sua amiga enlouquece e tenta lidar com a situação, pesquisando “como dar à luz,” no Google. A partir dessa gravidez inesperada e seu fatídico parto é que os seguintes 8 episódios, de 30 minutos, irão se desenrolar. Destacam-se os personagens Chester (Justice Smith), um adolescente destemido, que se realça por seu visual fluído e ignora as suposições de gênero, e Arianna (Nathanya Alexander), uma jovem adotada por dois pais e bastante descolada



Special é baseada no livro de memórias I'm Special: And Other Lies We Tell Ourselves, de Ryan O'Connell, que estrela, escreve e ainda assina como produtor, da série que acompanha um jovem com uma leve paralisia cerebral. Após encarar uma jornada de descobertas na primeira temporada, a segunda  começa com Ryan mais independente, reforçando sua autoestima, e com o dobro de tempo nos episódios, com subtramas que serão muito bem trabalhadas ao longo dos 8, e últimos, capítulos seguintes. Ryan saiu do armário como gay e deficiente e está aberto para o amor, mas uma relação faz com que ele se sinta usado por um cara que fetichiza sua deficiência. Tudo irá mudar quando surgir Tanner(Max Jenkins), um dançarino atrativo, mas que tem namorado. Os laços maternais se fortalecem, as amizades também e a mãe, Karen volta à infância de Ryan para revisitar suas memórias. Mas no amor, a vida do personagem ainda está confusa mesmo tendo passado por diversas experiências, posições sexuais e tentativas.Além de muito especial, a série também traz um ineditismo por abordar de maneira tão singular um tema pouco explorado na mídia, e deixar uma mensagem poderosa de positividade, inclusão, maturidade e aceitação.


O que Você Queer, é uma produção original da TNT, de 6 episódios, de cerca de 25min. Criada e roteirizada por Bob Pop, famoso escritor e crítico espanhol, a série revisita suas memórias e conta uma bonita história de um homem superando suas diferenças para realizar-se na vida. Um dos aspectos mais importantes da atração é que seu protagonista Roberto, interpretado na fase adolescente por Carlos González e na adulta por Gabriel Sánchez, é gordo, o que o leva a eventuais ataques de gordofobia e homofobia, além de uma quebra de padrão dos corpos revelados em explanações LGBTQIA+. A narrativa não linear, nos permite passear pela vida de seu herói e embarcar numa aventura lúdica, colorida, cruel, realista e repleta de referências à Cultura POP. Mas também estamos diante de uma série que toca na ferida da sociedade onde mais dói. Por um lado, mostrando as reais consequências da falta de respeito que LGBTQ’s suportaram durante toda a sua vida, através de avaliações, conclusões, comentários, gestos e risos. A narrativa acompanha uma pessoa cujo propósito é ser quem ele é e buscar a felicidade. O que no final todos nós almejamos



Ganhador do Emmy, Ewan McGregor brilha do início ao fim de Halston, minissérie em 5 episódios da Netflix, com produção assinada por Ryan Murphy e direção de Daniel Minahan. Baseado na biografia Symply Halston, de Steven Gaines, a série conta a história de ascensão e queda de um ícone da moda. Quando Roy Halston atinge alguma fama por desenhar um chapéu usado por Jackie Kennedy, no início da década de 1960, os caminhos começam a se abrir para o jovem vindo de Indiana, e fã de Balenciaga. Amigo íntimo de Liza Minnelli (Krysta Rodriguez), que aparece numa primeira cena performando Liza with Z, o excêntrico designer tem a oportunidade de apresentar uma coleção numa Batalha de Estilistas, em 1973, no Palácio de Versalhes, e acaba despertando o interesse do investidor David Mahoney(Bill Pullman).Com o dinheiro vêm os excessos, o uso abusivo de álcool, cocaína, sexo com garotos de programa, e noitadas na fabulosa Studio 54, acabam lhe levando a Victor Hugo(Gianfranco Rodriguez), um jovem latino de intenções duvidosas que proporciona os momentos mais eróticos da série. Por toda a emoção por trás de festas, desfiles e glamour, a atração apresenta um símbolo e coloca em questão o comércio da indústria da moda.



Coube ao criador da franquia, O Brinquedo Assassino, Don Mancini, levar o personagem para a televisão. E não poderia haver escolha mais acertada, a série Chucky, da SyFy e USA Network, mantém a essência do boneco e possui uma abordagem um tanto autobiográfica no personagem de Jake(Zackary Arthur ), um adolescente gay, de 14 anos, cujo pai não aceita a "crescente identidade sexual e romântica" do menino. A série começa após os acontecimentos finais de Cult of Chucky (2017), onde o suspense coloca o personagem titular "na estrada para uma exploração sexual" após transferir sua alma para um corpo feminino. Conhecemos então Jake, que comprou, num bazar, o boneco vintage Good Guy, para uma instalação artística que está criando,  sem imaginar pelo que lhe espera. A série que aborda entre outros temas bullying e violência doméstica, chega ao fim mostrando, que tem muito potencial, força e criatividade para novos episódios. Acompanhar as loucas ideias de seu showrunner Don Mancini, que conectam os filmes à série, com alguns de seus personagens originais, como Tiff(Jeniffer Tilly), é uma delícia! Além do mais, a atração consolida o legado do personagem e o identifica de uma vez por todas como um ícone da cultura POP. Após uma bem sucedida estreia, com 8 episódios, com de cerca de 45min, a segunda temporada de Chucky já foi anunciada.



Em Manhãs de Setembro, série da Amazon Prime, Liniker vive Cassandra, uma mulher trans que trabalha como entregadora de aplicativo, de moto pelas ruas de São Paulo, e à noite faz cover da cantora Vanusa, no bar Metamorfose, da amiga Roberta(Clodd Dias). Tudo parece estar indo bem na vida da personagem, que está em um relacionamento estável com Ivaldo, Thomas Aquino, de Bacurau(2019), a quem chama carinhosamente de Filezinho. Um dia porém Leide(Karine Teles) bate em sua porta e apresenta o filho, de 10 anos, Gersinho(Gustavo Coelho). O arco dos personagens inclui ainda o casal maduro formado por Gero Camilo e Paulo Miklos, Ari e Décio, o primeiro é ex-padre e o segundo o músico que acompanha Cassandra nos espetáculo. Lindamente fotografada, a série, produzida pela O2 e dirigida por Luis Pinheiro e Daianara Toffoli , finalmente trouxe representatividade trans ao streaming numa obra nacional, com 5 episódios. E fez isso de forma sublime, homenageando um ícone da música brasileira, que percorre pela narrativa e nos leva a um iluminado gancho para uma nova temporada.


Sex Education chega à sua terceira temporada mostrando que ainda há muita história para contar. Otis(Asa Butterfield) finalmente está transando, secretamente com Ruby(Mimi Keene), a garota mais popular da Escola Moordale. Eric(Ncuti Gatwa) está em um relacionamento com seu antigo algoz, Adam(Connor Swindells). Todos estão fazendo sexo ao som de Everybody Dance Now.Todo mundo, menos Maeve(Emma Mackey). A personagem que teve o coração partido por Otis, está mais preocupada em relações familiares e curriculares, do que com a antiga “clínica do sexo”. Para limpar a imagem de “Escola do Sexo” entra em cena uma nova diretora, ironicamente chamada de Sra. Hope(Jemima Kirke). Suas ideias são ultrapassadas e retrógradas e vão totalmente contra o que Maeve, Otis e sua mãe Jean(Gillian Anderson) pregavam. Ela defende a abstinência e parece um pouco intolerante em relação à diversidade. Com 08 episódios, de cerca de 1h, a série, criada por Laurie Nunn, para a Netflix, chega ao seu último episódio com os personagens resolvendo suas relações voláteis, para sim ou para o não e resplandecem em cenas que enchem os olhos. Sex Education encerra o círculo dramático de seus protagonistas com uma excelência até então inédita.


A série britânica, do Channel 4 e distribuída internacionalmente pela HBO MAX, sobre a AIDS na Inglaterra, é brilhante, dolorosa e necessária. A produção chega num momento muito oportuno. Em meio a uma pandemia que não escolhe sexo, classe ou religião é sempre bom relembrar um vírus que estigmatizou e vitimou a população LGBTQIA+. Criado por Russel T. Davies, de Queer as Folk, a série de 5 episódios, se passa entre 1981 e 1991, período que a AIDS se expandiu na Europa, apresentando um cenário devastador. Alguns amigos que saem de sua cidade natal vão morar juntos num apartamento, o Pink Palace. São eles, Ritchie(Olly Alexander), Roscoe(Omari Douglas), Mukherjee(Nathaniel Curtis), Colin(Callum Scott Howells) e a destemida Jill(Lydia West).Em 1984, quando já se fala em AIDS o temido “Câncer Gay”, o vírus começa a se espalhar por Londres, os amigos do flat entendem que aquela é uma nova realidade, e uma luta que terão que enfrentar, seja na militância ou numa cama de hospital, condenados pela sociedade. Difícil segurar a lágrimas diante de um retrato tão realista, comovente, triste e necessário do HIV e seu rastro de morte. A produção conta ainda com participações luxuosas de Neil Patrick Harris, e do veterano Stephen Fry. It’s a Sin é um primor!

De forma sublime, empoderada e otimista, como só Ryan Murphy sabe ser, a aclamada série POSE chega ao seu final encerrando a saga de Blanca Evangelista(MJ Rodriguez), Pray Tell(Billy Porter), Elektra(Dominique Jackson), Angel(Indya Morre), Papi(Angel Bismark Curiel) e tantos personagens que moram em nossos corações. A atração termina fazendo história na televisão. Uma série que abordou tantos temas delicados e até hoje polêmicos, que deu visibilidade a tantas personagens trans e nos recontou a história do ballroom, que embora não tenha tido muitos holofotes nessa última temporada, foi a aliança entre todos os personagens. Mesmo com um gostinho agridoce no final, o que era esperado, já que a epidemia da AIDS foi um dos temas principais, a série é sobre esperança, amizade e irmandade. Acabou na hora certa e em altíssimo nível, mas deixará saudade. LIVE...WERK...POSE!

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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Um Dia de Cão(Dog Day Afternoon, EUA, 1975)



Um Dia de Cão, de Sidney Lumet, começa com a história de um homem que assola um banco para financiar a mudança de sexo de seu amante. Real, a situação atraiu centenas de policiais e milhões de telespectadores.. Os personagens são todos verossímeis, simpáticos e convincentes. Em um filme sobre policiais e ladrões, não há bandidos. Apenas pessoas tentando passar por uma tarde de verão que mudou a vida de forma estranha.

Embora o filme contenha uma tragédia e o potencial para uma desgraça ainda maior, também é extremamente engraçado. Mas no roteiro vencedor do Oscar, de Frank Pierson, o riso surge organicamente de pessoas e situações. Você pode acreditar que, mesmo com reféns feitos e armas de fogo circulando, tais elementos da comédia humana surgirão.


Al Pacino interpreta Sonny, que se expande sob as luzes da TV, pavoneando-se para frente e para trás na frente do banco e imprudentemente se expondo aos telhados cheios de atiradores. Seu parceiro, Sal (John Cazale), por outro lado, se encolhe dentro de si. Ele não pode acreditar que é um ladrão de banco. Ele não pode acreditar que Sonny diz que ele vai matar pessoas. Ele se ofende com isso na TV, que confunde um pouco os fatos, ele é descrito como homossexual.


O filme se passa quase inteiramente em uma agência bancária e na barbearia do outro lado da rua, que se torna o "centro de comando" da polícia e do FBI. A câmera de Lumet se move para frente e para trás, em uma lançadeira de negociações. A vista lateral da rua em qualquer direção mostra sua rota de fuga, até que seja bloqueada por uma multidão que rapidamente se forma e se torna um personagem em si mesma.


A certa altura, fazendo ameaças na calçada, Pacino grita "Ática", referindo-se ao infame massacre de prisioneiros em uma prisão no interior do estado. "Attica!" a multidão grita de volta, sem avisar. Eles nunca veem Sal, que está tremendo, pálido, suado, assustado. Eles respondem a Sonny, primeiro como um herói e depois (quando descobrem que ele é gay) com zombarias.

Sonny é gay, junto com muitas outras coisas. Ele também é um filho cuja mãe o critica impiedosamente, um marido e pai cuja esposa (Judith Malina) não o deixa falar nada. Questionada sobre por que não foi ao banco quando ele perguntou por ela, ela explicou ao telefone: "Não consegui uma babá." 


O mais colorido dos  reféns é a cabeça deles, Sylvia (Penelope Allen), que cuida de suas "garotas". Fora do banco e livre para escapar, ela volta para dentro: Ela fica porque gosta de ser o centro das atenções. “Ele não tem um plano”, diz ela sobre Sonny. "É tudo um capricho." Ela pode estar certa. Sal certamente não tem ideia do que Sonny é capaz.


A reviravolta acontece quando o outro personagem principal aparece, este é Leon (Chris Sarandon), amante de Sonny. Ele é inflexível: ele certamente nunca pediu a Sonny que assaltasse um banco para pagar por sua resignação de sexo. Trazido à barbearia e colocado no telefone com Sonny, ele indiretamente revela sua vida emocional interior. Ele estava em uma instituição mental. Ele e Sonny estão se separando. Ele não consegue acompanhar as necessidades emocionais de Sonny. Ele se senta na barbearia e fala com Sonny ao telefone. Essa conversa foi escrita como dois monólogos e se intercalou em uma troca que essencialmente rendeu a Sarandon sua indicação ao Oscar de ator coadjuvante.


Ao longo do filme, nenhum dos dois exibe estereótipos gays. Leon é vulnerável e facilmente ferido, mas não uma drama queen. Pacino é um fato; em uma cena em que dita seu último testamento ao gerente do banco (Sully Boyar), ele diz que ama Leon "mais do que qualquer homem já amou qualquer outro homem". Ele afirma isso como um fato.

Os policiais e os agentes do FBI são fundamentais para o filme, mas menos desenvolvidos do que as pessoas do banco. Charles Durning interpreta o oficial responsável pela polícia de Nova York, e James Broderick é o agente-chefe do FBI. Nenhum dos dois recebe os tipos de elementos da trama que geralmente vêm com os policiais em filmes de reféns. Eles são aliviados por subtramas padrão e apenas fazem seu trabalho; com medo de que um banho de sangue vá explodir.


Em Um Dia de Cão, Sidney Lumet criou um filme que se tornou brilhante por seus personagens profundamente vistos, em uma trama que poderia ter sido obviamente barateada e explorada, mas é sempre humana e verdadeira.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Colette(EUA/Reino Unido/França, 2018)


Colette é um drama biográfico sobre a talentosa novelista francesa Sidonie-Gabrielle Colette, aqui representada pela sempre encantadora atriz inglesa Keira Knightley. O roteiro, coescrito pelo diretor Wash Westmoreland, de Para Sempre Alice( 2014) , e seu falecido marido Richard Glatzer, concentra-se inicialmente nos primeiros anos da autora passado em sua cidade natal na Borgonha e, em seguida, principalmente em Paris em 1893, para onde ela se muda com seu infiel , marido ladrão de talentos parisiense, Willy (Dominic West), que busca o sucesso na literatura a qualquer custo.

Em uma sociedade dominada por homens, Willy leva todo o crédito pela escrita inteligente de sua esposa sem esboçar uma única linha. Seu primeiro livro, Claudine em Paris, é um grande sucesso, mas como um empresário literário vaidoso e ganancioso, ele quer mais e não pretende parar por aí. Na pressa de cumprir os prazos de publicação, ele tranca abusivamente sua esposa em uma sala para forçá-la a escrever um novo romance.

No entanto, e para sua inquietação, Colette não é do tipo submisso, rebelando-se contra o marido e o sistema, e se aventurando em casos lésbicos com a ardente socialite americana Georgie Raoul-Duval (Eleanor Tomlinson) e a perspicaz  Missy (Denise Gough), que a incentiva a usar roupas masculinas. A repentina revelação de que Georgie também divide sua cama com Willy se torna a fonte de inspiração de Colette para seu próximo sucesso literário: Claudine en Ménage.


A deslumbrante fotografia, de Giles Nuttgens, nos convida ao exuberante mundo iluminado por velas da França do final do século XIX, contrastando a densa vegetação ao ar livre do campo com os interiores altamente decorados de Paris. Ambos os locais são sedutoramente pródigos na riqueza dos detalhes banhados por uma luz dourada e suave. A própria Colette, contrasta cada vez mais com os dois cenários, muito curiosa e independente para a vida tranquila do campo, muito honesta e não confinada para as convenções da cidade.


Conforme apresentado aqui, o sexo é quase uma necessidade como combustível para os romances de Claudine que inicialmente são baseados na própria infância de Colette no país, mas que se tornaram descaradamente sexuais virando uma sensação literária. 

Willy e Colette estavam muito à frente de seu tempo escrevendo romances picantes e até mesmo foram precursores de franquias quando as obras são transformados em peças e mais livros são exigidos, até mesmo com o corte de cabelo bob de Colette estabelecendo uma tendência.

O problema aqui era que tudo isso era uma pretensão de que Willy os havia escrito e, inevitavelmente, Colette quer ser reconhecida como a verdadeira autora que vai além dos limites quando eventualmente foge com sua amante lésbica pelo resto de seus dias. Na tentativa de fama, ela tenta a carreira de atriz e expõe os seios no palco, escandalizando a plateia.


O longa enfrenta o mesmo desafio em todos os filmes sobre escritores: não há nada menos cinematográfico do que alguém sentado em uma mesa com juntando palavras, mesmo quando é com uma elegante caneta-tinteiro em um lindo cenário da belle époque. Teria dado mais profundidade à história, especialmente para o público americano, que pode saber vagamente que Colette escreveu a história que inspirou Gigi(1958), para fornecer mais um sentido de seu trabalho, sua franqueza e modernidade.


Mas a química é palpável entre Knightley e West, estejam eles apaixonados ou separados, e a atriz britânica dá uma de suas melhores performances como uma garota com espírito livre e grande talento para se tornar uma mulher com ferocidade e voz.

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Toda Forma de Amor(Beginners, EUA, 2010)


Dez meses depois da morte de sua mãe, o pai de Oliver diz a ele algo surpreendente: "Eu sou gay". Seu pai tem 75 anos e foi casado por 38. O próprio Oliver tem cerca dessa idade quando fica sabendo dessa notícia e está em um tipo diferente de armário: com medo de falhar, com medo de se comprometer, com medo de confiar, ele nunca teve um relacionamento significativo.

Toda Forma de Amor, de Mike Mills, é sobre como os dois homens encontram o amor. É um filme em que apenas um cachorro chamado Arthur parece ter tudo em perspectiva. Arthur tem apenas uma pequena parte e se comunica por legendas, refletindo os tipos de pensamentos que cães, obcecados pelo estudo dos humanos, podem de fato ter.

Mas a presença desse sábio Jack Russell Terrier fornece uma perspectiva à parte da sexualidade e da personalidade, que percebe apenas quando tudo é ou não é como deveria ser.


Oliver, interpretado pelo envolvente Ewan McGregor, é um artista cujo trabalho, aparentemente bem-sucedido, comunica uma relutância em ser seguro e ousado. Seu pai, Hal, é interpretado por Christopher Plummer, ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante, como um homem que chegou a um acordo com sua falecida esposa, Georgia (Mary Page Keller), há muitos anos e tem sido fiel a isso. Ele sempre soube sobre sua homossexualidade, e a revelação ao filho transmite orgulho, alívio e uma espécie de alegria. 

O filme se move facilmente com três intervalos de tempo. Há o período entre o anúncio de seu pai e sua própria morte alguns anos depois, o período na vida de Oliver após a morte, e flashbacks das memórias de infância de Oliver. Se tivermos de extrair um significado, pode ser que nunca seja tarde para recomeçar, e o pai dê o exemplo para o filho.


Christopher Plummer, um ator cheio de presença e graça, traz uma alegria digna a seu novo estilo de vida gay. Ele se delicia com o arco-íris do orgulho, dança em clubes, dá festas e apresenta Oliver a seu namorado, Andy (Goran Visnjic)., que ama verdadeira e profundamente o idoso, com uma plenitude que quase envergonha Oliver. O filme dá a devida atenção à felicidade de Hal e ao processo de sua morte, do qual ele se aproxima com o consolo de que, finalmente, não há nada que ele deva manter em segredo.


Um dos prazeres do longa é o calor e a sinceridade dos personagens principais. Não há vilão. Eles começam querendo ser mais felizes e terminam tendo sucesso. A única pessoa deixada de fora é a mãe morta, Geórgia. E Oliver demonstra imensa felicidade, quando está ao lado de seu envolvimento amoroso, a atriz francesa Anna, interpretada por Melánie Laurent.


Toda Forma de Amor não chega a ser um drama profundo; É uma fábula de esperança com imenso otimismo e um estilo alegre que brinca consigo mesmo. Como muitos cães, ele ignora contratempos e continua esperando que possa sair para brincar.



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Wolf(Irlanda/Reino Unido/Polônia, 2021)



Wolf é sobre um jovem que sente que não pertence ao seu corpo. Que sua verdadeira condição é a de um lobo. Poderia o filme, de Nathalie Biancheri, ser uma alegoria para a transexualidade? Claro que sim!  A cineasta exerce um controle estilístico tão forte sobre o material que ela consegue fazê-lo funcionar. 

O ator britânico George MacKay, que aqui consegue exibir uma fisicalidade ainda mais intensa do que em 1917(2019), interpreta o personagem central, Jacob, que sofre de uma chamada disforia de espécie. Seus pais preocupados o enviam para a curiosamente chamada clínica True You, onde seus colegas pacientes incluem pessoas que pensam que são animais como um pato, esquilo, cavalo, panda, aranha e papagaio. A instalação também inclui uma paciente de longa data, a felina Wildcat (Lily-Rose Depp), cuja intimidade com o lugar aparentemente permite que ela vagueie pelo terreno à vontade. Poderia essa instituição ser uma crítica às clínicas de ‘readequação sexual’ legalizadas nos EUA? Sim!


Embora uma terapeuta gentil e empática (Eileen Walsh) conduza muitas das sessões destinadas a ajudar os pacientes a se reconectar com suas identidades humanas, a instituição é na verdade dirigida pelo Dr. Mann (Paddy Considine). Referido como “O Zookeeper”, sua abordagem é muito mais dura, caindo no sadismo. Para curar o infeliz Jeremy (Darragh Shannon), que se considera um esquilo, ele instrui o jovem a tentar escalar uma árvore usando as unhas como garras, com resultados previsivelmente terríveis. E ele incentiva Judith (Lola Petticrew), que se vê como um papagaio (e divertidamente se veste como tal), a pular de uma janela do segundo andar para ver se ela consegue, de fato, voar.

Jacob não está imune a tal tratamento, às vezes sendo forçado a usar uma coleira ou ficar confinado em uma gaiola. Seus instintos de lobo continuam a subir à tona, no entanto, enquanto ele vagueia ao redor da instalação de quatro e uiva na lua do entardecer. E sua conexão com Wildcat é definitivamente tanto física quanto emocional, como evidenciado por seus rituais de acasalamento animalescos. O vínculo crescente do par e os esforços de Jacob para sobreviver aos métodos terapêuticos cada vez mais perigosos do Zookeeper são o ponto crucial da história.


Embora as oportunidades alegóricas sejam abundantes, Biancheri felizmente evita ser muito pesada com elas. Ela também fornece as doses necessárias de sadismo, como fazer a garota papagaio viver de acordo com sua inspiração aviária, repetindo tudo o que ouve.

 

O que realmente faz o filme funcionar são as performances altamente comprometidas de seus três protagonistas. Considine oferece uma reviravolta assustadora enquanto o médico está tão firmemente convencido da eficácia de seus métodos extremos que está disposto a colocar seus pacientes em perigo. Instruídos pelo treinador de movimento, Terry Notary, cujos créditos incluem Avatar(2009) e o Hobbit(2012), os protagonistas empregam sua ágil fisicalidade para um efeito tremendo. Eles conseguem fazer a disforia de espécie parecer ardente como o inferno.


domingo, 26 de dezembro de 2021

TOP 10 FILMES LGBTQIA+ 2021

Para a alegria dos cinéfilos, mostreiros e do público em geral, 2021 foi um grande ano para o cinema! Após 2020 relativamente morno, devido ao caos sanitário mundial, este ano já começou com tudo, provando que a sétima arte pode aquecer nossos corações mesmo nos momentos mais obscuros. As plataformas de streaming investiram pesado em conteúdo, os Festivais Internacionais deram luz à produções dos mais longínquos países além de celebrar o trabalho de aclamados diretores e revelar novos talentos. A temática LGBTQIA+ vem cada vez mais ganhando terreno, força e relevância. Este, que já pode ser considerado um subgênero, proporciona cada vez mais obras lindas, memoráveis e icônicas, que temos o imenso prazer de falar, divulgar e exaltar. Ao longo deste ano, foram centenas de filmes vistos, e no que diz respeito aos lançamentos, foram muitas surpresas demonstrando uma impressionante qualidade tanto técnica quanto criativa. Após pensar e repensar chegamos no aguardado TOP 10 FILMES LGBTQIA+ DE 2021 do @cinematografiaqueer. Que o audiovisual venha ainda mais poderoso e transformador no ano que se aproxima. Eis a lista:

10 - Benedetta(França/Bélgica/Holanda, 2021)

Polêmico e corajoso, Benedetta, de Paul Verhoeven, é um choque. A história, baseada no livro biográfico Atos Impuros – A Vida de uma Freira Lésbica na Itália da Renascença, de Judith C. Brown, nos leva à Toscana, no século XVII, quando a jovem Benedetta Carlini entra feliz no convento chefiado por uma abadessa materialista, interpretada por Charlotte Rampling. Anos mais tarde, a personagem vivida por Virginie Efira, sofre de um distúrbio e tem perturbações e visões religiosas e eróticas. Assistida por uma companheira, a relação entre as duas acaba se tornando um romance. Ganhador do Coelho de Ouro de Melhor Filme Internacional no Festival Mix Brasil 2022.




O Canto do Cisne, do escritor e roteirista Todd Stephens, acompanha o aposentado cabeleireiro das estrelas da vida real, de Sandusky, Ohio, Pattrick Pitsenbarger, vivido pela lenda do cinema Udo Kier. Tudo começa, quando o Pat, retirado em um asilo, é chamado para fazer o penteado de uma antiga cliente, uma mulher republicana que deve parecer deslumbrante em seu funeral. No início ele declina, mas logo descobre que aquela pode ser sua última jornada. O filme conta ainda com Jennifer Coolidge e Michael Urie no elenco.



Após passar uma noite inteira em uma festa em uma luxuosa cobertura, Santiago, numa interpretação impressionante de Leonardo Sbaraglia, retorna para casa e percebe que acidentalmente trancou sua filha adolescente Laila; Sentindo remorso, ele  promete fazer tudo o que quiser para fazê-la feliz. "Eu quero ver a mãe", ela responde. Ambos embarcam em uma viagem ao Brasil onde Laila vai encontrar sua mãe emocionalmente instável. Mas tendo sido deixado recentemente por seu namorado de longa data Luis, Santiago está tão desesperado para agradar a todos ao seu redor que ele negligencia as necessidades de sua filha. Esse comportamento é característico da montanha-russa emocional do personagem. Uma jornada cheia de contradições e paixões, criando um quebra-cabeças da vida na Argentina falida após 2001, onde Santiago faz seu caminho de festa em festa em sua busca apenas para amar e ser amado.



Desconstruindo o gênero do faroeste, a ganhadora do Oscar pelo roteiro de O Piano(1993), Jane Campion conta a história dos irmãos Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), que são ricos proprietários da maior fazenda de Montana. Enquanto o primeiro é brilhante, mas cruel, o segundo é a gentileza em pessoa. Quando George secretamente se casa com a viúva local Rose (Kirsten Dunst), o invejoso Phil faz tudo para atrapalhá-los, até porque a homossexualidade aparente do recém chegado Pete(Kodi Smit-McPhee), acaba lhe impactando. O longa vem acumulando prêmios, como o de Melhor Direção no Festival de Veneza, e é uma das grandes apostas para o Oscar 2022.


Adaptação para o cinema do livro de Pedro Lemebel, o filme ambientado na primavera de 1986, com o controle opressor de Pinochet no Chile, conta a história de La Loca del Frente, interpretada pelo brilhante ator Alfredo Castro, uma travesti envelhecida, solitária, loquaz e fisicamente miserável que mora em um bairro pobre de Santiago, ouvindo boleros para afogar o barulho de tiros e policiais do lado de  fora. O romance narra paralelamente a história de amor entre La Loca e um guerrilheiro que está preparando um ataque verídico ao tirano, ao mesmo tempo em que relata os horrores da ditadura chilena.


Baseado no Baile dos Quarenta e Um, que foi um escândalo da sociedade mexicana no início do século XX, o filme gira em torno de uma operação policial ilegal realizada em novembro de 1901 em uma casa particular na Cidade do México. O escândalo girou em torno do fato de que, na orgia, do grupo de homens que compareceu, 19 estavam vestidos com roupas femininas. Apesar dos esforços do governo para abafar o incidente, a imprensa fez questão de relatar, já que os participantes pertenciam aos escalões superiores da sociedade, incluindo o genro do atual Presidente do México, Porfirio Diaz. Este escândalo foi único porque foi a primeira vez que se falou abertamente sobre homossexualidade na mídia mexicana e teve um impacto duradouro na cultura machista do país. Estrelado por Alfonso Herrera, de Sense 8 e Rebelde.


O documentário animado, nos apresenta Amin Nawabi (pseudônimo), um intelectual altamente graduado de 36 anos, luta com um segredo doloroso que manteve escondido por vinte anos e que ameaça desestabilizar a vida que construiu para si e para o futuro marido. Recontada pelo diretor Jonas Poher Rasmussen, seu amigo próximo, a história extraordinária da viagem feita por Amin na infância, como refugiado afegão, vem à luz pela primeira vez. História de autodescoberta, a animação mostra que só quem confronta o passado pode criar um futuro, e só quem pára de fugir de si mesmo descobre o verdadeiro significado de ter um lar.



A história do longa, de Aly Muritiba, segue Daniel, Antonio Saboia, numa performance impressionante, um policial que perdeu o emprego após um ataque de violência. O vazio em sua vida, ocupado apenas por cuidar de seu pai demente, só é preenchido quando ele envia uma mensagem de texto para Sara, uma mulher que conheceu online. Quando suas mensagens de repente param de receber respostas, ele decide ignorar um encontro que está por vir com a justiça local e viajar de Curitiba para Juazeiro, cidade natal de Sara, para procurá-la. Selecionado para tentar uma vaga no Oscar de Filme Internacional, o longa foi o grande vencedor da edição 2021 do Festival Mix Brasil, além de ter sido premiado no Festival de Veneza.


Ganhador da Palma de Ouro, no Festival de Cannes, em 2021, Titane da diretora Julia Ducournau, é um filme atrevidamente ousado e deliciosamente visceral. Após sofrer um acidente na infância, Alexia(Agathe Rousselle) precisou colocar uma placa de titânio e carrega uma grande cicatriz na cabeça. Ela é uma stripper feroz e uma assassina compulsivamente delirante. Crescida, Alexia com a cabeça ainda raspada pela metade, ganha a vida se despindo em feiras de automóveis. A reviravolta do filme acontece quando Vincent (Vincent Lindon), um bombeiro musculoso, pensa encontrar o seu filho há muito tempo desaparecido Adrien.

No filme mais feminino do diretor espanhol Pedro Almodóvar em anos, Penélope Cruz, premiada em Veneza, interpreta Janis, uma fotógrafa que busca desenterrar os fósseis de seus antepassados mortos durante a Guerra Civil. Para isso, ela conta com a ajuda do antropólogo Arturo, o único homem relevante no elenco, com quem terá uma tórrida noite de desejo. A narrativa almodovariana nos leva direto ao hospital, onde Janis prestes a dar à luz conhece Ana, uma ingênua adolescente grávida, que entrelaça seu destino com a protagonista criando um poderoso elo. O longa traz frescor e criatividade ao narrar uma história densa e fazer uma analogia entre maternidade e a denúncia aos horrores do franquismo e da guerra civil espanhola.

MENÇÃO HONROSA:


Cinebiografia do gênio do cinema, dirigida por Oskar Röhler. Em 1982, o cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, interpretado por Oliver Masucci, morreu de overdose, com apenas 37 anos, deixando uma obra impressionante para sua pouca idade. Em menos de duas décadas, ele produziu mais de 40 filmes e diversas peças, além de colaborar em outras funções, como ator, montador e roteirista. Sua ascensão fulminante como um dos principais diretores da Europa coincide com sua queda mental e física.

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sábado, 25 de dezembro de 2021

Navidad(Chile, 2009)


 Navidad
, segundo longa do chileno Sebástian Lelio, premiado anos mais tarde com o Oscar por Uma Mulher Fantástica(2017), é um drama simples, mas poderoso e envolvente, muito humano, que expõe o pior e o melhor lado dos relacionamentos.

É véspera de Natal e Aurora (Manuela Martelli) e Alejandro (Diego Ruiz), dois adolescentes, resolvem invadir a casa de campo da família dela para passar a data. A amizade é prejudicada, mas o aparecimento da frágil e diabética Alicia (Alicia Rodríguez), desabada no jardim, aproxima os dois.


Apesar de haver pouca diferença de idade, Aurora instintivamente cuida da adolescente problemática, que está em busca de seu pai, mas seu relacionamento logo assume uma nova dimensão. Cada um dos personagens tem seus próprios problemas, mas quando reunidos, eles parecem menos importantes e seu lado jovem e despreocupado transparece.


Nada é convencional: Alejandro foi expulso da escola e de casa; Alicia fugiu de sua mãe e Aurora é um espírito totalmente livre. Ela parece não ter certeza de sua sexualidade, mas é revigorante ver que isso não lhe causa nenhum grande tumulto - expressões de sexualidade vêm naturalmente neste filme. 

Navidad tem um pequeno elenco e pouco enredo ou movimento. O filme se passa quase inteiramente na casa abandonada no campo que pertenceu ao pai de Aurora. Seus LPs - motivo da visita à casa de campo, trazem uma sonoridade hippie ressoante com a vibe jovial do próprio filme.

Os personagens cantam e dançam em meio a seus problemas, refugiando-se nas batidas vivas e nas memórias que as letras de um POP nostálgico chileno evocam. Fotos escuras acompanham principalmente essa música colorida e os cenários são simples, tanto dentro da casa quanto na natureza selvagem. Ideais simples, afeto humano e um modo de vida singelo são o que esses adolescentes em sua bolha parecem representar. 


As atuações de todos os três são dignas. Rodríguez captura a ingenuidade e a solidão de Alicia, enquanto Martelli é uma mulher forte e autoconfiante, ao invés de adolescente, que deixa Alejandro em sua sombra. Ruiz consegue encarnar perfeitamente um jovem, ainda inseguro de si mesmo, tentando fazer a coisa certa. Ele frequentemente parece hesitar antes de decidir como reagir ao comportamento dela.


Navidad tem uma qualidade honesta, não é de forma alguma pretensioso e retira os personagens para revelar os instintos humanos, longe do molde que a sociedade tantas vezes  impõe, colocando os jovens a descobrir maneiras muito mais divertidas do que abrir presentes de Natal.




sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Dashing in December(EUA, 2020)


Dashing in December é o primeiro filme de Natal queer da Paramount Channel produzido pela MTV. Dirigido pelo prolífico cineasta, assumidamente queer, Jake Helgren o longa mistura natal com cowboys, remetendo imediatamente ao O Segredo de Brokeback Mountain(2005) e uma de suas estrelas é o ator gay argentino Juan Pablo Di Pace, da série de TV Dallas.


Wyatt (Peter Porte) é um executivo bem-sucedido de Nova York e um verdadeiro workaholic. Recentemente rompeu com seu namorado e se afastou de sua mãe viúva Deb(Andie McDowell), que dirige um Rancho no Colorado, ele relutantemente decide ir para casa para o Natal pela primeira vez em anos.


Ele tem um motivo oculto, pois quer persuadir sua mãe a vender a Fazenda, que ele vem subsidiando financeiramente desde a morte de seu pai. O que ele não sabia é que ela havia contratado um belo e jovem fazendeiro gay Heath (Di Pace) que agora comanda o lugar e que ele naturalmente odiou à primeira vista.


Embora Heath entenda porque Wyatt quer vender, ele acredita que tudo o que eles precisam é uma boa ideia para salvar o rancho. Ele decide trabalhar com Wyatt para encontrar uma solução melhor. Enquanto trabalham, eles se apaixonam.

Não apenas Heath sabe sobre a longa ausência de Wyatt, mas também fica chateado quando Wyatt revela seu desejo de que Deb venda o rancho. Mas, apesar de sua introdução complicada, Wyatt e Heath começam a se relacionar assim que descobrem que têm algo em comum: ambos são gays. Por meio dessa descoberta, esses dois homens muito diferentes encontram um terreno comum e uma conexão é estabelecida. Mas com Wyatt ainda pretendendo vender o rancho, este romance de Natal do Colorado está destinado ao desastre?


Quando o filme encontra seu ritmo, a atuação se equilibra e permite que você se envolva nos personagens. Enquanto Wyatt está fadado a perder fãs com seu tratamento inicial para com Heath, o roteiro dá a ele um bom desenvolvimento do personagem que Peter Porte vende efetivamente.


Conforme o filme avança, Wyatt permite que sua guarda baixe e que suas camadas emocionais se desvendam, com o protagonista trazendo muita ressonância para o crescimento do personagem. Juan Pablo di Pace é igualmente cativante como Heath. A química romântica, apesar de limitada, é notável.


Com muitas cenas tocantes que irão puxar as cordas do coração e personagens que você vai adorar ver crescer e evoluir, o longa sobrevive às suas fases mais difíceis para criar uma doce e comovente história de amor de Natal.