segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

DESPEDIDA OU CRÔNICA DE UM POSSÍVEL ATÉ BREVE


Todo o filme tem seu final, e apesar de falarmos de muitos aqui, chegou a hora do CINEMATOGRAFIA QUEER subir seus créditos. Foi uma decisão difícil, porém muito bem pensada e planejada. Este é o encerramento de um ciclo que só me agregou durante esses quase três anos, mas é hora de iniciar outros, se dedicar a novos projetos, ideias e trabalhos pessoais.

Imergir no cinema LGBTQIA+ foi uma experiência única, construtiva, e que me enriqueceu tanto cinematograficamente como culturalmente, aprendendo sempre sobre movimentos, marcos históricos, personalidades, conhecendo novos diretores e fatos relevantes de nossa história. Também me deu a oportunidade, de a minha maneira, militar, espalhando a arte queer.

O trabalho para manter as redes atualizadas diariamente foi árduo, empenhei muita paixão e dedicação, mas a pesquisa foi enriquecedora e o reconhecimento e os milhares de seguidores vieram, ainda que lentamente, afinal de contas estamos sempre travando batalhas e a luta por visibilidade é uma delas.

No Twitter, no Instagram, ou no Blog, cada leitura, like, compartilhamento, retuite, salvamento, comentário, foram a engrenagem para que o trabalho seguisse em frente. Obrigado, a cada seguidor, colaborador, pessoas que chegaram agora e quem acompanha desde o início. Por enquanto fica o arquivo, em todas as redes da página, com centenas de textos, dezenas de listas e alguns especiais, e quem sabe, um colorido até breve!


Um Beijo!
Eduardo.

domingo, 25 de dezembro de 2022

Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos(Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios, Espanha, 1988)


Pedro Almodóvar já havia trabalhado com o texto A Voz Humana, de Jean Cocteau, em uma peça dentro de A Lei do Desejo(1987), com Carmen Maura a espera de um telefonema, quebrando o cenário, ao som de Ne Me Quittes Pas, da cantora Maysa. Em Mulheres a beira de um ataque de nervos ele volta a pegar emprestado o argumento do dramaturgo francês, dessa vez para construir uma tragicomédia completa.

Pepa(Carmen Maura) foi recentemente abandonada por seu amante, Iván (Fernando Guillén). Ela tenta desesperadamente entrar em contato com Iván, mas não consegue nem pelo telefone.O outro lado da conversa existe, mas geralmente apenas como uma gravação. As conversas só são possíveis via caixa postal.

O longa foi o primeiro grande sucesso internacional de Almodóvar, sendo indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro, e na verdade marcou um passo em sua carreira e uma renovação de sua abordagem. Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos é um filme histérico que permite ao cineasta apurar seu gosto pelos retratos femininos já esboçados em suas obras anteriores e que culminaram nas décadas seguintes. 


A trama é 100% almodovariana, com coincidências felizes que só poderiam acontecer em seu universo particular e com diálogos engenhosos que contam com segundas e até terceiras leituras. O mais espantoso de tudo é que as peças soltas acabam por se juntar e fazer sentido, desde o divertido táxi mambo ao gaspacho que Pepa prepara com um bom número de tarjas preta.


Em grandes roteiros, até o mínimo detalhe acaba tendo uma razão de existir, e todos os personagens brilham com luz própria. Assim, não só Carmen Maura, capaz de fazer rir e chorar ao mesmo tempo, mas também María Barranco, Rossy de Palma, Antonio Banderas, Julieta Serrano e Chus Lampreave formam uma engrenagem perfeita. E como em todos os filmes de Almodóvar dos anos 80, há espaço para divertidos spots televisivos alheios à trama e homenagens a filmes tão diversos como Johnny Guitar(1954) ou Janela Indiscreta(1954).


Mas no fundo do riso está a tristeza. Entre os intensos vermelhos e azuis do mais puro kitsch geométrico e almodovariano, revela-se a dor do desgosto, a loucura de ser traído . Como o título sugere, Pepa não é a única mulher neste filme à beira de um colapso nervoso. Há Lúcia (Julieta Serrano), ex-mulher de Ivan, que ele abandonou quando ela estava grávida e acabou internada em um manicômio após dar à luz seu filho. Mas recentemente, ao reconhecer a voz de Ivan na TV, ela se lembrou dele, fingiu estar curada para que os médicos a liberassem. Embora, como ela admite, ela não está curada.


E os homens? O personagem masculino central é Ivan, ele criou toda essa bagunça. Ivan pediu a Pepa que preparasse sua mala, pois ele iria viajar. Pepa tem certeza de que ele vai embora com outra mulher porque simplesmente não consegue viajar sozinho. Ela pensa que é Lúcia, enquanto Lúcia pensa que Ivan está saindo com Pepa. Na realidade, é claro, é outra pessoa. Depois, há seu filho, Carlos (Antonio Banderas), que se preocupa com Pepa. 


Candela(Maria Barranco) é outra mulher à beira de um ataque de nervos. Depois de descobrir que seu amante é um dos terroristas xiitas procurados, ela tem medo de ser presa se a polícia descobrir seu envolvimento não intencional. Ela está em pânico, a ponto de tentar se matar pulando do terraço de Pepa. ‘Sua amiga está pulando’, avisa Marisa, de Rossy de Palma.


Há mais um personagem masculino no filme que merece uma menção especial, o taxista. Ele parece ser um alterego do próprio Almodóvar. Até sua aparência lembra o antigo Almodóvar. Esse cara equipou seu táxi com tudo que uma mulher pode precisar. Ele tem todos os tipos de música (embora prefira mambo porque combina melhor com o interior estampado de pantera), ele tem lenços de papel, revistas, muitas coisas diferentes que uma mulher pode pedir e se não tiver, providenciará.


Há grandes frases almodovarianas no filme, algumas ditas pela boca de Loles León, como a secretária do estúdio, mas as mais marcantes proferidas por Pepa: “Aprender mecânica é mais fácil do que aprender psicologia masculina. Você pode entender uma motocicleta, mas jamais pode entender um homem.” 


Almodóvar compreende o poder sexual inerente a um par de saltos altos, e Pepa não ficaria descalça na guerra entre os sexos. Ela pode estar hesitante, mas tem o bom senso de ir vestida para matar. Maura é uma comediante de olhos penetrantes e uma atriz ferozmente impassível que junto a direção atrevida, alguns planos ousados, dá o tom perfeito do filme 


sábado, 24 de dezembro de 2022

Sublime(Argentina, 2022)

Baseado em uma crônica da adolescência e do despertar de si mesmo na exploração do amor, Mariano Biasin em seu primeiro longa-metragem depois de duas décadas como assistente de direção, oferece com delicadeza e humildade uma história de construção luminosa e decisiva para o que se desenrola no limiar da idade adulta.

Se o tema da descoberta e afirmação da homossexualidade na adolescência não é um assunto em si surpreendente, a abordagem de Mariano Biasin, toda em tocante modéstia, faz a singularidade do filme. 


O longa, ao recusar-se a dramatizar a descoberta de uma identidade sexual que pertença a cada um na sua singularidade, faz desta experiência de vida um ato que deixa de ser angustiante, libertando assim o tabu de ser si mesmo.


Sublime é um belo  postal de declaração de amor mas não menos magnífico pelo encorajamento dirigido a todos os adolescentes na determinação de se afirmarem num mundo resolutamente benevolente.


Manuel (Martin Miller), ou Manu como seus amigos o chamam, é um jovem relativamente normal de 16 anos com aparelho ortodôntico, cujo quarto é decorado com pôsteres do Pink Floyd. Manu toca baixo em uma banda que não consegue decidir um nome, além do apelido de ex.

Ele se aproxima muito de Felipe (Teo Inama Chiabrando), seu melhor amigo desde a infância, quando os dois se unem por causa de problemas com garotas, prática de banda, composição de letras e “magia”. Manu, que está namorando uma doce garota chamada Azul (Azul Mazzeo), começa a perceber que seus sentimentos podem estar em outro lugar. 


Felipe acaricia suavemente o rosto de Manu e seus olhares se encontram. Manu fica tão perto de beijar Felipe de verdade; ele acorda pouco antes de seus lábios se tocarem, e a atração sexual escorre na vida cotidiana de Manu. Filmado na Argentina, a beleza da história de amadurecimento é acentuada por locais igualmente impressionantes. Uma das melhores tomadas do filme é simples: Manu e Felipe juntos na praia, com um arco-íris se formando ao longe.


Para quem deseja uma experiência explícita e hipersexualizada, procure em outro lugar. Sublime está interessado em explorar Manu enquanto ele descobre sua identidade, tanto sexual quanto humana. Também há uma doce inocência nisso, e a música envolve o espectador com um sentimento agudo entre os sonhos de Manu e a vida cotidiana. A música diferencia Sublime de filmes semelhantes e dá a Manu um senso de propósito distinto. 


Spoiler Alert(EUA, 2022)



Spoiler Alert, estrelado e produzido por Jim Parsons, é uma história de amor entre dois gays morando em NY, quando a vida os acerta com um golpe de realidade. Parsons adquiriu os direitos de um livro de memórias best-seller, de Michael Ausiello, no momento em que o leu. Ele interpreta Michael, o presidente e diretor editorial da TVLine.com e seu parceiro Kit Cowan é vivido pelo britânico Ben Aldridge.

Os dois atores têm uma química eletrizante na tela e dão tanta autenticidade à medida que se apaixonam (e se apaixonam novamente) durante 14 anos. Nenhum deles é um parceiro perfeito, mas é impossível não se deixar levar pela realidade e profundidade de seus sentimentos por cada um. 


É numa pista de dança, numa rara noite com um colega da TV Guide, que Michael conhece Kit, o homem que acaba por ser o amor da sua vida. Kit tem tudo o que Michael gostaria de ter: confiança, amigos legais e um belo físico. E, no entanto, Kit está disposto a esperar que Michael derrube suas paredes emocionais. Além disso, Michael não é o único com neuroses. Kit tem uma bagagem que precisa superar se ele e Michael quiserem viver a vida de parceria monogâmica que Michael, em particular, parece querer.

Toda a história dramática é tecida nos 11 meses entre Kit recebendo um diagnóstico de câncer terminal, flashbacks da vida do casal, e sua morte. Isso significa que Kit deve finalmente se assumir como gay para seus pais interpretados com muita ternura por Sally Field e Bill Irwin. 


Com um roteiro de Dan Savage e David Marshall Grant e dirigido por Michael Sholwater, de Os Olhos de Tammy Faye(2021), o relacionamento dos homens em Spoiler Alert brilha tanto, mas  por mais maravilhoso que seja, ainda é uma história comovente. 


Uma reclamação comum sobre filmes LGBTQIA+ é que eles sempre terminam tragicamente. Spoiler Alert não quebra esse molde, mas, como é baseado na história de vida do jornalista de TV, Michael Ausiello, está aprovado.



Elephant(Slon, Polônia, 2022)

De um dos países mais homofóbicos da Europa, a Polônia vem o romance Elephant. O filme de estreia de Kamil Krawczycki, segue o jovem Bartek(Jan Hrynkiewicz), que cuida de uma fazenda de cavalos e de sua mãe ingrata no sul do país. Bartek se apaixona por um músico que volta para casa para o funeral de seu pai.

Barek  cuida obedientemente de sua mãe possessiva, depressiva e ingrata (Ewa Skibinska). Um dia, seu vizinho de meia-idade morre de ataque cardíaco e seu filho músico Dawid (Pawel Tomaszewski) volta ao povoado para o funeral. Bartek fica fascinado por Dawid e se apaixona por ele.

Agora ele enfrenta uma escolha agonizante de amor e liberdade de um lado ou sua família opressora e obrigações agrícolas do outro. Ele ama seus cavalos e seu campo, sua mãe e irmã, mas certamente não seus vizinhos homofóbicos. Ele é um homem muito bom, bom demais para escolher o caminho mais fácil e egoísta.


Simples, direto, direto e satisfatório, Elephant vai em frente e chega lá. Bartek tem uma chance única de liberdade e felicidade. Ele é um jovem forte, física e mentalmente, mas ele é forte o suficiente para assumir? Sua mãe doente está arrastando-o para baixo de todas as maneiras, e porque ele é um homem tão bom, ele mal consegue deixá-la por conta própria. 


O domínio de Kamil Krawczycki sobre a história, personagens e temas é bom e forte, e ele move seu filme atraente e suavemente, com belos visuais, filmado nas montanhas Pieniny, Malopolskie, e uma trilha sonora fantástica. O longa trata do cuidado familiar, da responsabilidade, do despertar sexual.

Embora não se destaque pela inovação ou originalidade, tem um significado especial ao valorizar uma escassa filmografia de temática LGBTQIA+ na Polónia com uma proposta tão sincera e que apresenta uma evolução tão emocionante e reveladora de seu personagem principal.


A Christmas to Treasure(EUA, 2022)

Riley(Roberto Aguirre) vê Everett(Kyle Dean Massey) decorando a varanda da frente da falecida Sra. Marley com uma guirlanda de Natal e o impede. A cidade está pronta para vender a casa. Everett pergunta a Riley o que ele deve fazer para salvar a casa. Riley diz que Everett teria que pagar o saldo devido aos impostos sobre a propriedade. Cerca de US $ 200.000. Everett sai derrotado.

Riley trabalha em seu escritório e recebe um envelope vermelho. Dentro está uma carta da Sra. Marley com pistas para um mapa do tesouro. Quando Riley era jovem, a Sra. Marley fazia mapas do tesouro para ele e seus amigos, Everett, Tipper(Katie Walder), Clay(Norman Towns, Michelle(Nikki McKenzie) e Austin(Taylor Frey). A Sra. Marley instruiu seu advogado a enviar as cartas um ano depois de sua morte. Everett corre para o escritório de Riley com sua carta. Eles ligam para os amigos para ver se eles também receberam cartas.


Austin e Tipper são donos de uma empresa de eventos e fisgaram um cliente rico com uma ideia maluca para uma festa. O cliente gosta da ideia, mas acha que não tem pessoas e espaço suficientes para realizá-la. Tipper e Austin prometem que vão expandir. Eles recebem suas cartas. Tipper está animada, mas Austin se preocupa. A última vez que viu Everett, eles terminaram. Tipper sabe que acompanha as redes sociais de Everett semanalmente, mas não quer falar com ele.


Clay e Michelle são casados ​​e felizes com carreiras em expansão. Clay é um famoso jogador de basquete e Michelle é a representante de relações públicas de metade do time. Eles recebem suas cartas da Sra. Marley. Eles não se importam com o dinheiro, mas sentem falta dos amigos e da brincadeira.

A maioria deles acredita que é apenas um jogo. Outros ouviram rumores de que a Sra. Marley era uma mulher rica com dinheiro na propriedade. Esses seis amigos vão homenagear a falecida enquanto encontram um tesouro uns nos outros.


Cativante, o filme lembra P.S. Eu te amo. Alguém do além-túmulo escreve uma carta para ajudar seus entes queridos. A Sra. Marley viu que Everett e Austin pertenciam um ao outro, e ela criou a caçada para ajudá-los a ver isso. Além disso, suas seis cartas tiveram um efeito cascata em Ricky, Clay, Michelle e Tipper. A comédia romântica, de Jake Helgren, para a Lifetime, destaca os diferentes resultados de assumir e seu impacto na comunidade LGBTQIA+. A obra é divertida, mas o ritmo oscila muitas vezes.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

TOP 10 FILMES LGBTQIA+ 2022

2022 foi certamente um ano interessante para o cinema LGBTQIA+. Além de muitas obras naturalizando personagens queer, que não são o centro da temática, o coming-of-age se consolidou como um dos subgêneros mais queridos. As biografias(e até as inventadas) ganharam vida! Teve produções de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, com cineastas consagrados e estreantes lançando suas obras, principalmente por meio dos grandes festivais. Também foi um grande ano para o cinema nacional, com os nossos filmes sendo premiados e finalmente ganhando as salas de cinema para depois irem para o streaming. E se há longas de 2021, é porque somente se tornaram acessíveis neste ano e não poderiam ficar de fora. Então vamos logo aos nossos preferidos do ano que está terminando:


Camila Sairá Esta Noite, de Inés Barrionuevo, é um excelente exemplo de como contar uma história adolescente, mergulhada nas questões sociais da juventude. É filmado com um estilo impressionantemente atraente que prende sua atenção do início ao fim. É emocional, político, romântico e encantador.

Cate Blanchett está magnífica em Tár, de Todd Field. A atriz brilha de forma tão impressionante, protagonizando a ascensão e queda, de Lydia Tár, a primeira mulher da história a se tornar diretora em Berlim, de uma das orquestras mais importantes do mundo, uma estrela internacional de primeira grandeza no campo da música clássica. 


08 - Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo( Everything Everywhere All at Once, EUA, 2022)

O inventivo filme de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, conhecidos coletivamente como Daniels, impacta por suas multicamadas estéticas e profundidades no roteiro, e ele é tudo inclusive queer.  Michelle Yeoh estrela como Evelyn, sua filha Joy(Stephanie Hsu), abertamente gay, traz sua namorada para casa na esperança de se assumir para seu avô Gong Gong (James Hong), mas Evelyn abafa o caso.O filme é surpreendentemente uma obra sobre a aceitação da identidade LGBTQIA+. O drama familiar quebra todos os gêneros cinematográficos e centra-se nas relações, em forma de saga repleta de ação, absurdos e referências,



Um encontro espiritual entre dois mestres do cinema, o prolífero cineasta francês François Ozon e o falecido alemão Rainer Werner Fassbinder, cuja obra As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant(1972), serve como base para Ozon construir uma sátira lúdica e musical sobre o ídolo. O ator Denis Menochet, em uma performance tour de force, personifica o próprio Fassbinder, inclusive em maneirismos e compulsões. Peter von Kant é uma criatura fascinante e excêntrica, um homem condenado à autodestruição por seu próprio egocentrismo melancólico.



É 31 de dezembro de 1982. O biólogo Suzano(Johnny Massaro), está de volta à Vitória, na casa da irmã Maura(Clara Choveaux) e do sobrinho Muriel(Alex Bonini), após uma temporada em Paris. O personagem já começa a apresentar sintomas, de algo que ele sabe que contraiu, e se prepara para a proximidade da morte.Os Primeiros Soldados, de Rodrigo de Oliveira, descentraliza a ação do eixo Rio-SP, e nos leva para o Espírito Santo, para tratar de um tema até então pouco explorado no cinema nacional: o início da epidemia da AIDS



Ainda bem que há um documentário em nossa lista, um gênero incompreendido pelo qual tanto prezo e o melhor, é sobre David Bowie! Moonage Daydream, de Brett Morgen,  é um surto de epifania, uma gloriosa montagem comemorativa e caleidoscópica de material de arquivo, imagens de performances ao vivo, vídeo-arte e pinturas experimentais do camaleão do rock.


Vencedor do Grand Prix, em Cannes 2022, Close, de Lukas Dhont, segue Leo (Eden Dambrine) e Remi (Gustav De Waele) dois adolescentes, amigos de infância. Muito próximos, eles compartilham um forte vínculo. Na escola, os dois meninos são inseparáveis. Mas, um dia, um grupo de meninas pergunta: “Vocês estão namorando? ". Uma observação sem agressividade, mas uma representação clara da homofobia comum que mudará drasticamente o destine dos personagens.

Great Freedom, um filme incisivo e excelente que é parte drama prisional e parte uma história de amor realizada pelo cineasta austríaco Sebastian Meise, contando a história do encarceramento de um homem gay que durou várias décadas. O longa conta de forma gloriosa a história da perseguição aos homossexuais e, posteriormente, à vida e ao amor entre pessoas do mesmo sexo na Alemanha, mesmo após a era nazista. O filme faz um lembrete sobre a longa jornada que a comunidade LGBTQIA+  traçou até aqui e impõe a certeza de que nada dura para sempre.

02 - Paloma(Brasil/Portugal, 2022)


Paloma(Kika Sena) decide realizar o seu sonho mais caloroso: um tradicional casamento na igreja com o namorado Zé(Ridson Reis). Ela é uma mãe dedicada, agricultora e tem economizado para pagar a festa. A recusa do padre em casá-los obrigará Paloma a enfrentar a sociedade rural. Ela sofre violência, traição, preconceito e injustiça, mas nada abala a fé e a determinação dessa mulher trans. O filme, de Marcelo Gomes, é baseado em fatos reais e denuncia a transfobia. 

01 - Fogo-Fátuo(Portugal/França, 2022)


Apresentado como um delírio musical pelo seu realizador, João Pedro Rodrigues, Fogo-Fátuo assume efetivamente a forma de um sonho, mostrando-se como as últimas memórias ou devaneios de um velho no leito de morte. O ano é 2069. O Rei Alfredo (Joel Branco) está morrendo e revive sua vida. Ele se lembra de sua infância e juventude, de seu pai, que o apresentou ao seu amor pela floresta, e de sua mãe, sempre insatisfeita com suas decisões.


POSTS RELACIONADOS:

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

TOP 10 SÉRIES LGBTQIA+ 2022


Mais um ano, novas temporadas e atrações fresquinhas. 2022 entregou no quesito série, mesmo que algumas trazendo apenas personagens LGBTQIA+, abordados com naturalidade, sem ser o tema central. As maiores plataformas de streaming oferecem opções variadas para as atrações episódicas, indo da doce comédia romântica, o drama sombrio, o terror, a sátira e até séries documentais. The White Lotus foi aclamada no Emmy e voltou para mais uma temporada. Ryan Murphy esteve imparável e produziu diversos projetos sem perder a inovação e qualidade. E a Netflix trouxe séries de todos os lugares, com narrativas hipersexualizadas de ensino-médio, a maturidade LGBTQIA+ e o mais doce dos romances, o adolescente. Vamos a lista!


Queer as Folk, icônica série idealizada por Russel T. Davies, ocupa um lugar afetivo na memória do público gay. Fazer um reboot da atração exigia cuidados e a nova versão, agora comandada por Stephen Dunn, apesar de trazer diversos temas pertinentes, decepcionou! Ainda assim, o novo Queer as Folk encontra maneiras deliciosas e delirantes de oferecer histórias espinhosas e arcos de personagens que se recusam a achatar ou homogeneizar a comunidade LGBTQIA+. Conversas francas sobre sexo, desejo pós-transição e a importância dos espaços de vida noturna gay estão ao lado de momentos lindos de arte drag, festas de sexo e protestos sombrios.

O realizador mexicano Manolo Caro, conhecido por La Casa de Las Flores fez algo diferente aqui. O thriller espanhol Sagrada Família é centrado em torno de uma família recém-chegada a Madri com um passado oculto complexo. Gloria (Najwa Nimri) é uma mulher de meia-idade que mora em um novo bairro com seu bebê e uma filha adolescente Aitana(Carla Campra). Ela está se adaptando ao novo estilo de vida entre suas amigas socialites, mas também tem relutância em formar novas amizades


A comédia Uncoupled, da Netflix, de Darren Star, a mente por trás de Sex and the City, dá uma olhada divertida  no que significa seguir em frente, para um homem gay com mais de 40 anos, após o fim repentino de um relacionamento de dezessete anos. Neil Patrick Harris estrela como Michael, um corretor de imóveis que planeja uma festa surpresa lendária para seu parceiro Colin (Tuc Watkins) em seu aniversário de cinquenta anos, acontece que o marido escolheu a data para tirar silenciosamente as coisas de casa.
Cassandra(Liniker) está na estrada com Leide(Karine Teles) e Gersinho (Gustavo Coelho) no começo da segunda temporada de Manhãs de Setembro, série de Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck para a Amazon. O carro para e é preciso que chame o pai da trans, surge então Seu Jorge, como Lourenço. O tom é dado logo no início, a temporada é sobre família, Cassandra está reestabelecendo seus laços de sangue, mas também sendo acolhida por aquela família que escolheu.


A série de Sam Levinson, para a HBO, é sem dúvida alguma grandiosa, mas a segunda temporada apesar de mais sombria deixou a desejar na profundidade de alguns temas abordados. Os visuais inspirados em obras de arte, a trilha sonora inebriante, e momentos simplesmente icônicos, no entanto, mantém a qualidade da atração. O vazio que habita em Rue(Zendaya) e que só pode ser preenchido com doses de droga é o que a consome e a destrói, e também é o fio condutor da série, mas sempre há uma luz, sempre há uma esperança, e por mais que Euphoria não seja moralista, ela é realista mesmo em um universo lúdico que traz beleza para a escuridão.


Junto de Ryan Murphy está Ian Brennan. Eles trabalharam duro para contar a história de Dahmer: Um Canibal Americano,  um exame profundo de uma mente doente, perversa e sádica. Evan Peters, faz algo diferente aqui ele encarna o brilho louco dos olhos do psicopata, Jeffrey Dahmer, ele assusta, ele intimida, ele irrita, ele canibaliza.


Heartstopper é adaptada da bem-sucedida webcomic de Alice Oseman, que se transformou em uma graphic novel que vendeu mais de um milhão de cópias. Ambientado na Inglaterra, é o conto do tímido geeky Charlie (Joe Locke), o único aluno gay assumido em sua escola, que é designado para sentar ao lado de Nick (Kit Connor), um jogador de rugby muito popular e atlético.


Ambientada durante a década de 1980, em Nova York, a 11ª temporada de American Horror Story foi apresentando os sintomas desde o seu primeiro episódio. Depois de muitas decapitações, avisos de tarô do Anjo da Morte e um sentinela de piñata humana, acontece que o pior serial killer de todos é a AIDS. Isso é crucial para os dois episódios finais de AHS: NYC. Estas são parcelas delirantes e surreais que prosperam em metáforas sonhadoras em vez de raciocínio lógico, lembrando a obra prima Angels in America(2003).



Em 1968, após levar um tiro da anarcofeminista Valerie Solanas, o pai da POP Art e artista multifacetado, Andy Warhol, sobreviveu milagrosamente e começou a escrever um diário. Publicado em 1989, após sua morte, o livro, editado por Pat Hackett, revelou muito mais do que o efeminado excêntrico por trás da peruca. A série documental, escrita por Andrew Rossi, e produzida por Ryan Murphy, para a Netflix, vai ainda mais a fundo e analisa as entrelinhas. A atração é inteligentemente narrada pela voz de Andy Warhol, recriada por meio de inteligência artificial.


Irma Vep é uma explosão metalinguística. A série de Olivier Assayas, para a HBO, produzida em parceria com a A24,  zomba das estruturas convencionais e mistura imagens do filme de 1996, da série Les Vampires, de 1915, de Louis Feuillade, originária da mítica personagem, para criar algo novo. Alicia Vikander interpreta a jovem estrela Mira Harberg, que depois de estrelar um filme de super-herói decide que só pode ser levada a sério como atriz se concordar em aparecer em um programa francês dirigido por um aclamado cineasta. Vikander está maravilhosa, não só como Mira, mas também como Irma Vep e Musidora, a atriz que deu vida à personagem original. MENÇÃO ESPECIAL - THE WHITE LOTUS 2ª TEMPORADA
'Tutti Gay'

A premiada The White Lotus, de Mike White, para a HBO quebra a narrativa dos gays bonzinhos e higienizados. Apesar da gerente na Sicília, ser administrada pela lésbica Valentina(Sabrina Impacciatore), é quando Quentin (Tom Hollander) e seu bando de gays europeus ricos e maduros aparecem que a série toma um rumo inesperado. À primeira vista, este é um grupo de turistas ricos e divertidos que fazem amizade com Tanya (Jennifer Coolidge) e a levam em todos os tipos de aventuras. Quentin ainda trouxe seu “sobrinho” na viagem, Jack (Leo Woodall), que é o par perfeito para a jovem assistente de Tanya, Portia (Haley Lu Richardson).


The White Lotus tem tudo a ver com subverter as primeiras impressões e suposições / expectativas de quem as pessoas são e acabam sendo, e foi exatamente isso que aconteceu na segunda temporada. Através do artifício de serem BFFs de Tanya, eles mentiram para ela, zombaram dela, sequestraram-na e quase a mataram. O "sobrinho" de Quentin, Jack, acabou sendo seu michê. Os gays também não eram ricos - eles não tinham nada além de uma vila velha e decadente para usar como fachada de luxo.


Parece que a série fez questão de destacar o que o público espera desses personagens apenas para revelar lados muito mais sombrios deles ao longo do curso da temporada. Junto com Tanya, muitos espectadores se convenceram de que este era um grupo de homens fabulosos no estilo Queer Eye que estava prestes a dar a Tanya a transformação de sua vida. Mas assim como os heterossexuais, pessoas LGBTQIA+ podem, e devem, ser representadas como vilãs e cheias de defeitos de caráter.



POSTS RELACIONADOS: TOP 10 SÉRIES 2021

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

retrospeQUEERtiva - PARTE 3: MULHERES NA DIREÇÃO

Aqui a gente celebra a mulher por trás das câmeras! Foram anos de luta para ocupar um espaço majoritariamente masculino. Hoje, as mulheres na direção estão no caminho da igualdade, mas falta, ainda falta.  Ano a ano, diretoras renomadas lançam suas obras, em Festivais, e são aclamadas e premiadas, por trazer um olhar feminino e uma abordagem sensível em seus trabalhos. Novos nomes surgem e a equalidade se faz presente. 2022 foi um ano onde esses talentos se sobressaíram, tanto nos cinemas quanto no streaming. Nossa seleção LGBTQIA+ de filmes dirigidos por Elas, traz uma variada gama de temas do coming-of-age ao terror, sempre celebrando e a reafirmando o empoderamento.


Uma viagem à fronteira, a exploração do desejo sexual mais profundo, as feridas abertas de uma família desfeita e o mistério são os componentes que definem o universo narrativo de Como Matar a Besta, estreia da diretora Agustina San Martín.


Escrito e dirigido por Inés María Barrionuevo, co-escrito por Andrés Aloi, em Camila Sairá Esta Noite, quando sua avó fica gravemente doente, Camila(Nina Dziembrowski), é forçada a se mudar para Buenos Aires, deixando para trás uma escola pública liberal de ensino médio para uma instituição privada tradicional. Fazer um filme sobre adolescentes que um público mais amplo possa desfrutar não é uma tarefa fácil, mas o longa está à altura desse desafio. Ele consegue capturar de forma impressionante a juventude de sua história sem sobrecarregar o tom, mantendo uma atmosfera convincente e sincera.



A realeza e o pedestal-prisão da feminilidade são o tema do filme da realizadora austríaca Marie Kreutzer, de O Chão Sob Meus Pés(2019), que imagina a vida doméstica da imperatriz dos Habsburgos, Elizabeth da Áustria, em 1877, ano do seu 40º aniversário. Elizabeth é brilhantemente interpretada por Vicky Krieps, premiada em Cannes, como misteriosa e sensual, imperiosa e severa: uma mulher de paixões e descontentamento que enfrenta aversão gelada da corte e da família de seu marido infiel.


A pequena Vicky (Sally Drame) vive nos Alpes franceses com sua mãe Joanne, Adèle Exarchopoulos, de Azul é a Cor mais Quente(2013), e seu pai bombeiro Jimmie(Moustapha Mbengue). A criança é intimidada na escola por causa de seu black-power. É por isso que ela adora acompanhar a mãe no Aquafit. A ex-Miss Rhône-Alpes lidera os concursos à beira da piscina. Mas apesar de uma grande foto de casamento no local de trabalho: seu relacionamento está em crise. Desde o primeiro quadro, a diretora Léa Mysius marca The Five Devils com uma força perversa de criatividade visual e estilo. Mysius criou uma história de amor divertidamente vibrante e peculiar que percorre o tempo.


Há muita diversão desagradável no slasher, da A24, Morte. Morte. Morte. A estreia em inglês da diretora holandesa, Halina Reijn, faz a difícil pergunta de saber se há algo realmente novo a fazer com o subgênero, e a resposta chega no final.Abrindo com um beijo apaixonado entre Bee (Maria Bakalova) e Sophie (Amandla Stenberg), Morte. Morte. Morte. é refrescantemente aberto sobre seu estado de adolescentes, queers, mimados. E ricos, por sinal.

Em um mundo que está constantemente dizendo às mulheres como se comportar, Girl Picture, sucesso no festival de Sundance, da diretora Alli Haapasalo, vem como um respiro de ar fresco. O longa é a história de três jovens mulheres navegando pelos desafios do início da idade adulta, e consegue combinar o foco no sexo e na sexualidade com uma integridade inata que o torna cativante sem esforço. 



Aftersun, o comovente filme de estreia da escocesa Charlotte Wells, vai direto na alma e no coração. O longa causou furor na Semana dos Realizadores, no último Festival de Cannes, onde agraciou a cineasta com o French Prize. Em um resort na costa da Turquia, no final dos anos 1990, Calum(Paul Mescal), um jovem pai de 30 anos, e Sophie(Frankie Corio), de 11, são confundidos com irmãos. Tem a ver com sua aparência jovial, com certeza, mas também com o humor descontraído e cumplicidade que eles compartilham enquanto nadam, jogam sinuca ou filmam um ao outro.



Coube a diretora Anne Fletcher, de Vestida para Casar(2008) e A Proposta(2009), dirigir a continuação do clássico de Halloween, da Disney, Abracadabra. O desafio para a sequência de um filme amado é manter a essência do original para deixar os fãs felizes sem ser confuso para os que estão chegando, e Abracadabra 2 faz isso com sucesso.  Os destaques do primeiro filme são celebrados  e há alguns momentos muito engraçados, envolvendo as irmãs Sanderson. 


Sinéad O’Connor é uma artista com paixão ardente e teimosia obstinada do que Sinéad. A cantora irlandesa rapidamente incendiou o mundo com sua voz melódica, e com a mesma rapidez se tornou um para-raios político e uma piada de fim de noite. O documentário Nothing Compares relata essa ascensão e queda meteóricas ao mesmo tempo em que argumenta convincentemente que O'Connor estava à frente de seu tempo como uma artista feminista. Revelando a hipocrisia do mundo da mídia, a diretora Kathryn Ferguson conta a história inteiramente com imagens de arquivo e encenações

Bem-vindos à Escola para Homossexuais St. Sebastian onde a cultura LGBTQIA+ faz parte do currículo e dar pinta é uma atividade extra.  Este é um lugar fantástico. Nas cenas de abertura, os alunos fumam maconha, dão uns amassos com os namorados, se entregam à moda não-binária e andam de skate pelos corredores. O filme sueco, de Ylva Former, baseado no romance de Kristofer Folkhammar, tem muitos conceitos intelectualmente desafiadores. O uso da teoria crítica é evidente e a homossexualidade masculina é a norma.
A maioria de nós, independentemente de idade, gênero, etnia e orientação sexual, se sentirá representado de uma forma muito especial no encontro com o cativante drama juvenil de Anna Emma Haudal. A jovem Liv, que se mudou recentemente de casa, mas ainda mora perto de seus pais, está apaixonada pelo doce Sebastian(Clint Ruben), mas é atraída pela brincalhona Andrea, que na encantadora figura de Josephine Park irrompe em sua vida.

Explodindo de raiva está o espanhol Piggy, de Carlota Pereda.  Expandindo o curta-metragem com o nome de Cerdita, o filme se passa em uma vila espanhola isolada, onde estradas de terra e janelas mal ventiladas oferecem pouco alívio do calor opressivo de um longo verão. A jovem Sara, sofre bullying de outras garotas por estar acima do peso, e a gordofobia abordada no filme terá consequências mortais.