terça-feira, 22 de julho de 2025

Azul de Niño (Espanha, 2025)

 

"Azul de Niño", o longa-metragem de estreia de Raul Guardans, é uma comédia sombria, tecendo uma narrativa que mistura amor, traição e revelações inesperadas. A trama segue Natalia (Eva de Luis), uma mulher que, após anos desejando um filho, descobre que seu marido Ernesto (Tony Corvillo) mantém um caso. Armando-se de coragem, vinho e cigarros, ela convida a suposta amante para um confronto, apenas para ser surpreendida por Daniel (Raul Guardans), um jovem trabalhador do sexo que abala suas convicções. Quando Ernesto sofre um derrame e acaba na UTI, esposa e amante convergem ao seu leito, desvendando uma teia de segredos e emoções reprimidas. É uma premissa instigante, carregada de potencial dramático e humorístico, que promete explorar as complexidades da identidade e do desejo.

A influência de mestres como Pedro Almodóvar e François Ozon é evidente em "Azul de Niño". Guardans bebe da fonte do melodrama vibrante e colorido de Almodóvar, com personagens intensos e situações que beiram o absurdo, enquanto ecoa a tensão psicológica e a subversão da normalidade doméstica típicas de Ozon. A convergência de Natalia, Ernesto e Daniel em um quarto de hospital é um cenário digno dessas inspirações, repleto de possibilidades para explorar conflitos emocionais e ironias mordazes.

As atuações são, sem dúvida, o maior trunfo de "Azul de Niño". Eva de Luis brilha como Natalia, entregando uma performance multifacetada que transita entre a espirituosidade afiada e a vulnerabilidade crua. Ela encarna uma mulher cuja fachada de confiança rui diante das revelações, capturando o público com sua intensidade. Raul Guardans, além de dirigir, assume o papel de Daniel com notável sutileza, transmitindo a solidão de um jovem que acreditava ter encontrado amor em um relacionamento condenado pela duplicidade.

No entanto, "Azul de Niño" enfrenta dificuldades em sua execução temática. A narrativa acena para questões significativas, como as pressões sociais que moldam identidades falsas e o custo emocional da repressão, mas essas ideias raramente são aprofundadas. O humor sombrio, embora eficaz em momentos isolados, frequentemente entra em choque com a gravidade das situações, criando transições abruptas que confundem mais do que encantam.

A direção de Guardans revela tanto promessa quanto inexperiência. Visualmente, o filme tem seus méritos: o hospital, com sua atmosfera estéril e claustrofóbica, funciona como um palco perfeito para o embate emocional dos personagens. Ainda assim, o ritmo deixa a desejar, especialmente no segundo ato, onde a história perde fôlego ao girar em torno de sentimentos não resolvidos. Para um diretor estreante, Guardans demonstra habilidade em extrair atuações marcantes e criar cenas visualmente interessantes, mas o controle narrativo ainda carece de polidez.

"Azul de Niño" é um debut intrigante que não atinge todas as notas certas, mas deixa uma impressão positiva. Seus pontos fortes, as atuações excepcionais e a premissa ousada compensam em parte as falhas de tom e ritmo, oferecendo um vislumbre do talento de Raul Guardans como cineasta. 

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