"My Summer with Irène", do italiano Carlo Sironi, nos leva para uma aventura siciliana, em 1997, com Clara ( Camilla Brandenburg) e Irène (Noée Abita), duas adolescentes que decidem fugir para uma ilha após um acampamento de férias. O filme, com seu ar de mistério médico, algo como câncer paira no passado delas, é uma celebração da amizade e da juventude em tons suaves.
A amizade entre Clara e Irène é o verdadeiro motor do filme. O diretor sabe como mostrar uma conexão que não depende de grandes discursos: é tudo nos gestos, nos silêncios, nos olhares que dizem mais do que palavras. As duas compartilham uma cumplicidade que as separa do mundo, a saúde, e isso cria um labirinto de apoio mútuo. Uma é sonhadora e frágil, a outra prática e aventureira, mas juntas elas formam um equilíbrio delicado.
A doença está lá, como uma nuvem que não se dissipa, mas o diretor não cai na tentação de transformar o filme em um manual médico. Ele deixa os detalhes de lado, focando nas emoções e nas escolhas das protagonistas. Essa decisão faz a história crescer, virando algo que qualquer um pode sentir, não só quem já passou por algo assim. A doença não define Clara e Irène; ela apenas dá um peso extra aos momentos que elas vivem, como se cada dia na ilha fosse uma pequena vitória contra o destino.
Quando o assunto é representação queer, "My Summer with Irène" prefere o caminho da sutileza. Há uma palpável atração entre Clara e Irène, mas nada que vire um drama de novela. Sironi sugere, insinua, mas não força a barra, e isso é o que torna tudo tão interessante. A sexualidade aqui não é um problema a ser resolvido ou uma bandeira a ser levantada; ela simplesmente existe, como parte natural da vida delas.
O visual do filme é um capítulo à parte. Sironi transforma cada cena em algo que você quase quer emoldurar: a luz suave, a floresta, a caverna, o penhasco, tudo carrega um peso emocional. Não é só cenário; é um reflexo do que Clara e Irène sentem. A estética poética, com simbolismo na medida certa, faz o filme parecer um sonho acordado. A câmera de Gergely Pohárnok captura essa vibe de um verão que parece eterno, mesmo sabendo que não é. É bonito de ver e fácil de se perder nisso.
Mas nem tudo é perfeito. O minimalismo, que é a alma do filme, às vezes pesa contra ele. Falta aquele punch, algo que dê um empurrão na narrativa. Camilla Brandenburg e Noée Abita entregam atuações que enchem os olhos, mas a história fica mais como um punhado de imagens bonitas do que uma jornada que te agarra do começo ao fim.
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