“Six Candies”, novo longa de Marcelo Briem Stamm, abraça o hedonismo como plataforma narrativa e estética, construindo uma comédia erótica onde múltiplas histórias de homens gays se entrelaçam por meio de um objeto inusitado, um livro de autoajuda que funciona como um manifesto libertário. Através dessa estrutura episódica, o filme organiza seus personagens em uma coreografia de desejos, encontros e pequenos rituais de prazer, sempre partindo da mesma pergunta, o que acontece quando o prazer deixa de ser exceção e passa a ser regra? É a partir desse ponto que a obra articula humor, erotismo e uma celebração explícita da sexualidade gay contemporânea.
A filmografia de Stamm, marcada por títulos como “Somos Tr3s” e “Solo”, costuma circular entre tensões afetivas e dinâmicas de poder. Aqui, no entanto, o diretor radicaliza o tom, inclinando-se para a comédia colorida e satírica sem abandonar seu interesse pelas fricções emocionais do desejo masculino. “Six Candies” opera como uma espécie de derivação natural desse percurso, jogando luz sobre a comunidade gay de forma descontraída, mas nunca superficial, articulando a sensualidade como uma força de afirmação identitária.
Cada subplot emerge como uma pequena variação sobre o mesmo núcleo temático, a busca pela felicidade através da autoindulgência. Aos poucos, o espectador acompanha encontros em saunas, relações casuais, ménage e flertes instantâneos, todos embalados por uma atmosfera festiva que privilegia o corpo em sua expressividade plena. O humor convive com momentos de introspecção, e a diversidade de trajetórias reforça a multiplicidade da experiência gay. Mesmo sem uma grande jornada psicológica, o filme encontra potência na variedade de perspectivas, construindo um mosaico hedonista da vida queer contemporânea.
O visual aposta em cores saturadas, ambientes luminosos e composições que evocam o artifício do erotismo pop. Há um controle rigoroso da paleta cromática, que transforma cada ambiente em um pequeno playground do desejo, reforçando a dimensão performativa dessas masculinidades. O erotismo, frequentemente explícito, nunca aparece como mero choque visual, mas como textura narrativa. Cenas de corpos expostos e situações de sexo casual são tratadas com naturalidade e ironia, dissolvendo tabus e ampliando o espaço para que a sexualidade gay seja mostrada de forma celebratória.
“Six Candies” talvez não ofereça uma reflexão profunda sobre os dilemas da comunidade gay, mas justamente por assumir essa falta de profundidade como estética, encontra um lugar singular. Seu compromisso com o hedonismo, com o sexo, a celebração dos corpos e com a leveza narrativa converte o filme em um pequeno manifesto do prazer como resistência, da liberdade sexual como antídoto ao moralismo e da diversão como prática política.
https://pinkmovie.com.br/movies/details/six-candies/2038
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