"Árni" é o primeiro longa-metragem da diretora Dorka Vermes. A trama central gira em torno de Árni, um jovem que vive em um circo itinerante, explorando temas de solidão, resiliência e a busca por uma vida mais significativa em um ambiente hostil.
Árni, interpretado por Péter Turi, cuja performance é central para o sucesso da obra é um personagem solitário, mas carregado de uma força interior que se manifesta através das circunstâncias adversas de sua vida no circo. A história é uma alegoria para a luta das minorias e dos excluídos, refletindo sobre como eles precisam ser resilientes para sobreviver em uma sociedade que muitas vezes os rejeita ou ignora. Dorka Vermes utiliza a interação do protagonista com uma cobra como um ponto de transformação, simbolizando a necessidade de enfrentar e superar medos e desafios internos.
"Árni" explora a identidade e a sexualidade através do personagem principal. Sua jornada é marcada por uma busca por autenticidade e conexão em um ambiente onde ele é o "outro", não fazendo parte da família que administra o circo. O filme desconstrói as expectativas de gênero e sexualidade. Árni, com sua sensibilidade e comportamento não se encaixa nos papeis tradicionais.
A interação com o novo python do circo pode ser vista como uma metáfora para a exploração de desejos e identidades que são frequentemente ocultas ou reprimidas, encorajando uma leitura queer sobre a aceitação e a expressão do desejo.
Em termos de saúde mental, "Árni" retrata a solidão, a alienação e a busca por um sentido de pertencimento que pode ser interpretada como uma alusão à jornada de muitas pessoas que enfrentam questões de neurodivergência. O personagem de Árni vive uma vida quase monástica, cuidando dos animais do circo, um mecanismo para lidar com sua própria solidão e isolamento.
O filme também aborda temas de resiliência e força interior, mostrando como alguém pode navegar pelas dificuldades da vida com uma saúde mental frágil, mas com um espírito persistente. O uso de imagens e simbolismos, como a interação com as serpentes, representam o conflito interno e a luta por manter a sanidade em um ambiente caótico e opressivo.
A análise do filme sob essas duas lentes permite ver como "Árni" não apenas conta uma história pessoal, mas também dialoga com questões mais amplas de identidade, aceitação e saúde mental. O filme serve como um aviso da necessidade de espaços seguros para a expressão de identidades não normativas e do reconhecimento das lutas silenciosas contra problemas psiquiátricos, muitas vezes invisíveis para a sociedade.