segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Rent Free (EUA, 2024)


“Rent Free”, de Fernando Andrés, apresenta Ben (Jacob Roberts) e Jordan (David Treviño) como dois amigos de longa data tentando sobreviver em Austin após perder o apartamento. Eles fazem um pacto para viver “rent-free” durante um ano dormindo com amigos enquanto trabalham em bicos na economia gig, planejando fugir da cidade que parece ter crescido demais para eles. Esse plano aparentemente simplório se transforma em jornada emocional marcada por amizade, desejo e ansiedade sobre quem se pretende ser.

A amizade entre esses dois jovens é retratada com delicadeza e sinceridade. Ben é impulsivo, cheio de desejos urgentes e planos à beira do improviso enquanto Jordan carrega uma calma angustiada, uma insegurança que aparece nos silêncios tanto quanto nos conflitos. “Rent Free” entende que em relacionamentos próximos as verdadeiras tensões estão nas pequenas decisões cotidianas, nos gestos de abandono, nas expectativas que divergiram com o tempo.

A estética do filme reafirma que ele é indie em alma, em orçamento e em aspiração. Fernando Andrés dirige, fotografa e edita, imprimindo um estilo quase artesanal com cores suaves e visual limpo enquanto escolhe composições de cena que favorecem a austeridade e presença, especialmente nas tomadas em casas alheias, nos sofás de amigos e nas fugas noturnas. Essas escolhas visuais reforçam que “rent-free” não é só uma ideia financeira, mas um estado emocional, uma sensação de estar temporário em qualquer lugar.


Há falhas perceptíveis mas que não anulam os méritos. Às vezes o ritmo parece hesitar demais entre cenas de comédia leve e reflexões mais densas, alguns personagens secundários ficam menos explorados e certas piadas parecem forçadas. Mesmo assim, a honestidade da experiência queer, a sensação de fragilidade econômica e o desejo de pertencimento tornam “Rent Free” algo mais que um filme bonito de amizade, o tornam impacto emocional para quem vive crises de lugar ou status.

“Rent Free” é um convite ao espelho. Ele mostra que crescer nem sempre significa grandiosidade, que amizade pode ser lar quando não há teto fixo, que identidade queer não precisa de drama explícito para afirmar seu valor. O filme não resolve tudo, mas ao contar essa história ele reivindica espaço para vozes que vivem nas bordas da estabilidade, para quem vê valor em momentos simples, improvisados, não perfeitos.

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