segunda-feira, 30 de junho de 2025

Hot Milk (Austrália/Grécia/Reino Unido, 2025)

Por Bruno Weber A obra de Rebecca Lenkiewicz possui um interesse particular por segredos femininos. Foi assim em “Desobediência”, com as ex-amantes Ronit e Esti reavivando seu romance em meio a uma comunidade judaica ortodoxa. Ou com a jovem freira “Ida”, na Polônia dos anos 60, investigando uma tragédia familiar. Em outro drama de época intitulado com o nome da protagonista, a dama da sociedade parisiense “Colette" se inspira na própria juventude na França rural para escrever secretamente o best-seller de seu marido. E, finalmente, “Ela Disse”, de 2022, adapta a história real das jornalistas Megan Twohey and Jodi Kantor, cujo trabalho ajudou a dar início ao movimento #MeToo. Em todos esses trabalhos de Lenkiewicz como roteirista, um tema recorrente é o de mulheres entrando em conflito com fantasmas do passado, e qualquer tipo de catarse que possa vir desse enfrentamento. E mantendo-se nessa temática, em seu primeiro trabalho como diretora ela escolhe adaptar para as telas o romance “Hot Milk”, de Deborah Levy.

Lenkiewicz, que também assina o roteiro, adapta de maneira fiel e direta a trama do livro, que nos apresenta a extremamente complicada relação de Rose (Fiona Shaw) e Sofia (Emma Mackey), mãe e filha, durante uma longa estadia em Almería, uma cidadezinha na costa da Espanha. No início do filme, descobrimos que Rose hipotecou a casa e gastou suas últimas economias para vir nessa viagem e se entregar a um tratamento experimental com o Dr. Gomez (Vincent Perez), um médico misterioso. Ela busca uma cura para a doença que há anos a deixa presa a uma cadeira de rodas, com exceção de alguns dias, quando inexplicavelmente consegue andar. Sofia a acompanha nessa jornada, auxiliando Rose em todas as suas necessidades ao mesmo tempo que atura o abuso emocional e as constantes críticas da mãe. Presa nesse momento letárgico de sua vida, estendendo de forma interminável os seus estudos de antropologia ao mesmo tempo que não parece ter nenhuma outra companhia além da mãe, Sofia encontra uma chance de despertar - e talvez escapar - quando encontra Ingrid (Vicky Krieps), uma alemã desinibida e descontraída, outra turista forasteira daquela terra.


É nas interações entre essas personagens, habilmente interpretadas por esse elenco fortíssimo, que está o maior êxito de “Hot Milk”. A relação entre Sofia e Rose, especialmente, mesmo sendo uma representação bem típica de um relacionamento materno tóxico, é profundamente explorada em suas conversas, mas também em seus momentos de silêncio. Por exemplo, a forma com que Rose tenta diminuir Sofia com cada palavra que sai de sua boca, e também como tenta incutir nela uma aversão aos homens, demonstra o comportamento típico de uma mãe narcisista, que indiretamente quer manter a filha eternamente sob seu controle, ao mesmo tempo que ignora completamente sua verdadeira sexualidade.

Mas além disso, também denota as marcas de um passado traumático do qual ela desesperadamente tenta fugir, e que vai muito além do casamento fracassado com o pai de Sofia. Da mesma forma, Sofia também revela muito de si mesma ao buscar um relacionamento romântico com Ingrid, uma mulher mais velha, caracterizada como uma hippie clássica, fruto de uma época mais livre e repleta de descobertas. Quase uma antítese de Rose, Ingrid representa pra Sofia mais do que uma amante, mas uma espécie de nova figura materna. Um desejo infelizmente fadado ao fracasso, quando Sofia se sente cada menos capaz de lidar com Ingrid, com suas liberdades e traumas. E é interessante como todas as cenas das duas juntas, ainda que possuam demonstrações verdadeiras de carinho, sempre terminam em algum desconforto ou sensação de perigo. Ainda assim, ela ajuda a catalizar o âmago rebelde que Sofia passou anos ignorando.


É uma pena que essas relações intrigantes entre as personagens não sustentem um filme com um ritmo tão errático. “Hot Milk” parece ser mais longo do que realmente é, se perdendo em cenas que deviam ilustrar o tédio e confusão que Sofia sente, mas que por isso mesmo parecem tediosas e confusas. Sem falar de sequências de sonho desnecessárias, que não conseguem nem ser muito inspiradas visualmente. Algumas das metáforas que o filme emprega também parecem muito óbvias. Como o cachorro do vizinho que não para de latir, reclamando por estar amarrado - um simbolismo claro para o modo que Sofia se sente. Ou quando ela assiste a um vídeo de antropologia sobre uma dança folclórica africana em que um grupo de garotas devem derrotar uma bruxa - uma alusão direta ao seu desejo de se libertar da mãe. Ainda assim, o filme utiliza algumas táticas e subversões interessantes. Em especial, o momento em que Ingrid entra em cena, cavalgando pela praia, e aos olhos de Sofia é quase como um príncipe encantado numa história de fantasia.


Porém, nenhuma dessas poucas virtudes de sua linguagem - e nem sua cena final impactante - conseguem livrar “Hot Milk” da sensação de que o filme parece ter algo importante a dizer, mas que não consegue. Em alguns momentos, parece um tanto cru e inacabado. Como um daqueles filmes que surgem quando um estudante de cinema diz "quero fazer um filme", e começa a escrever sem saber exatamente de onde vem e para onde vai. Talvez seja sintoma de uma diretora estreante que ainda pense muito como uma roteirista consolidada, e por isso mesmo não sabe o que cortar.

Ovnis, Monstros e Utopias: Três Curtas Queer (Portugal, 2024)

 

“Ovnis, Monstros e Utopias: Três Curtas Queer” é um programa cinematográfico que reúne portugueses: “Entre a Luz e o Nada”, de Joana de Sousa, “Sob Influência”, de Ricardo Branco, e “Uma Rapariga Imaterial” de André Godinho. O filme utiliza os elementos simbólicos de ovnis, monstros e utopias para explorar a vivência queer através de gêneros como ficção científica, terror psicodélico e fantasia erótica. Embora unificados por uma temática queer, os filmes apresentam abordagens distintas, desafiando normas sociais e questionando categorizações rígidas.


“Entre a Luz e o Nada” segue Shade,  jovem não-binárie, durante dois dias na periferia de Lisboa, onde uma rave em edifícios abandonados se torna um espaço de evasão e liberdade. Joana de Sousa, ex-programadora do Doclisboa, imprime uma estética sensorial marcada por luzes, purpurinas e música techno, evocando sonhos coletivos e um misticismo que sugere uma nova religião ou utopia

“Sob Influência” centra-se em Laura (interpretada por Odete), uma jovem que, durante um fim de semana com amigos numa casa isolada, experimenta um alucinógeno que a desconecta da realidade. Ricardo Branco, também assistente de direção em “Entre a Luz e o Nada”, explora o terror psicodélico, transformando Laura num “corpo alheio” que vagueia num estado de sonho acordado. Os “monstros” aqui são internos, simbolizando os limites da percepção e da identidade, reforçados pela estética sombria e voyeurística. O filme destaca-se por seus visuais e pela performance de Odete, que rejeita etiquetas e encarna uma exclusividade radical.

“Uma Rapariga Imaterial” apresenta Tiago, perdido numa floresta, que encontra João, uma figura imaterial que transcende gênero, idade e raça, vivendo isolada da sociedade. André Godinho cria uma narrativa fantástica e erótica, com uma montagem hipnótica (de Francisco Moreira) que culmina numa sequência de sexo erotizado, onde João é interpretado por três atores (João Abreu, Aurora Pinho e Mafalda Banquarte), desafiando normas de gênero e sexualidade. Inspirado por cineastas como João Pedro Rodrigues e Bertrand Mandico, o curta brilha esteticamente, mas tropeça ao tentar transmitir uma mensagem revolucionária.

“Ovnis, Monstros e Utopias: Três Curtas Queer” ganha peso político ao reunir estas obras num manifesto cinematográfico que afirma a vivência queer como performance e resistência. Mais do que narrativas isoladas, os curtas, juntos, inscrevem vozes marginalizadas no cinema português, desafiando o apagamento e celebrando a diversidade através de gêneros não convencionais.

domingo, 29 de junho de 2025

TOP 10 - Melhores Filmes LGBTQIA+ do 1º Semestre de 2025

O #pridemonth vai encerrando com o que o cinema queer nos trouxe de melhor até aqui. 2025 já tá fazendo história! De Recife a Paris, de rios vietnamitas a vilarejos opressivos, esses filmes são um amor, luta e estética que entram sem bater na porta. Alguns vi nos cinemas, outros em streamings, e uns poucos por caminhos tortuosos (entendam!). A lista celebra narrativas que sangram emoção, desafiam normas e costuram nossas vivências.

Sol de Inverno

10. The Wedding Banquet (EUA, 2025)

Andrew Ahn reinventa o clássico de Ang Lee com Lee(Lily Gladstone), artista nativo-americana, e Angela (Kelly Marie Tran) adicionando amor sáfico que não havia no original. Segredos familiares e diálogos afiados agitam a trama, com estética vibrante. Gladstone entrega emoção crua, Hang Chi-Chan é o falso noivo e Bowen Yang rouba cenas com humor. A representatividade indígena queer eleva o original.

09. Sol de Inverno (My Sunshine, França/Japão, 2024) “Sol de Inverno”, de Hiroshi Okuyama, é um raio de luz gelado que ilumina a juventude queer com delicadeza. Na gélida Hokkaido, Takuya (Keitatsu Koshiyama), um jovem apaixonado pela patinação artística, desafia as expectativas machistas do hóquei e encontra em Sakura (Nakagawa Ririka) uma conexão que floresce entre giros no gelo. A fotografia cristalina de Okuyama capta a brisa invernal e o calor da descoberta, com uma trilha melancólica que embala a transição de Takuya rumo à sua verdade. Um coming-of-age queer sutil, mas poderoso, que patina com graça entre o silêncio e a emoção.
8. Three Kilometres to the End of the World (Romênia, 2024) O terceiro longa de Emanuel Pârvu, premiado com o Queer Palm em Cannes 2024, disseca homofobia e moralidade conservadora. No Delta do Danúbio, Adi (Ciprian Chiujdea), 17 anos, sofre um ataque homofóbico que abala sua família e vila. A trama expõe rachaduras na psique de uma sociedade tradicionalista, com direção crua e atuações intensas. Um retrato doloroso e necessário que ressoa além do rural romeno.

7. Filhas da Noite (Brasil, 2025)

“Filhas da Noite”, de Henrique Arruda e Sylara Silvério, é um hino às rainhas trans recifenses, um doc híbrido cheio de plumas e memórias. Vencedor em Brasília, acompanha Sharlene Esse, Raquel Simpson e veteranas em performances e VHS, celebrando décadas de resistência. A estética neon e brega, com Raquel cantando “Mudanças”, evoca nostalgia sem pieguice. Figurinos exuberantes e pesquisa profunda, com cenas do Show de Calouros, fazem cada frame um manifesto de orgulho e visibilidade.

6. O Melhor Amigo (Brasil, 2025)

Allan Deberton faz de “O Melhor Amigo” um musical tropicaliente, o MAMMA MIA do Nordeste, expandindo seu curta com Lucas (Vinícius Teixeira) e Felipe (Gabriel Fuentes) em Canoa Quebrada. Reencontro, amor e humor queer florescem com coreografias, hits como “Escrito nas Estrelas”, "Amante Profissional" e Gretchen no “Melô do Piripipi”. A fotografia de Ivo Lopes Araújo abraça as dunas cearenses, descentralizando o cinema brasileiro. Leve e verdadeiro, é um convite pra cantar e se apaixonar.

O Melhor Amigo
5. Viet and Nam (Vietnã, 2025)

“Viet and Nam”, de Truong Minh Quy, é um romance poético entre Viet (Nguyen Nhat Minh), pescador, e Nam (Tran Vuong), artista urbano, num amor proibido. A cinematografia de Pham Ngoc Lan capta a melancolia dos rios vietnamitas, com trilha que funde sons tradicionais e modernos. A química delicada dos atores reflete lutas identitárias numa sociedade conservadora. Apesar de um desfecho aberto, é um achado sensível que expande o cinema queer asiático.

4. Misericordia (França, 2024) “Misericordia”, de Alan Guiraudie, cutuca tabus com desejo e moralidade numa vila isolada. Jérémie (Félix Kysyl) se envolve com o pastor André (Jean-Baptiste Durand) e Jeanne (Catherine Frot) num triângulo de tensões sexuais e espirituais. A estética austera de Claire Mathon e a trilha minimalista de Gaspar Claus criam um clima único. Com seu ritmo lento habitual, Guiraudie cria uma obra corajosa que marca o cinema queer europeu.

3. Plainclothes (EUA, 2025)

Carmen Emmi mergulha nos banheirões dos anos 90 com Lucas (Tom Blyth), policial infiltrado em Syracuse, 1997, em conflito com sua identidade. Ele atrai homens para prendê-los por “atentado ao pudor”, até se apaixonar por Andrew (Russell Tovey). A trama, inspirada nas memórias do diretor, revira repressão queer com intensidade. Atual e visceral, ecoa na América de hoje.


2. Vivre, mourir, renaître (França, 2024)

Gaël Morel tece um drama nostálgico dos anos 90 sobre amor e AIDS. Emma (Lou Lampros), Sammy (Théo Christine) e Cyril (Victor Belmondo) formam um triângulo inclusivo em Paris, enfrentando o HIV com esperança. Cyril, positivo, abandona o AZT, mas o amor e a terapia tripla trazem luz. Atuações comoventes, trilha pop e tom poético driblam o melodrama, celebrando a resiliência queer. Um renascimento que marcou lá no início do semestre.

1. Homem com H (Brasil, 2025)

HOMEM COM H, de Esmir Filho, é uma explosão de Ney Matogrosso, com Jesuíta Barbosa encarnando o ícone com alma e fogo. Da infância em Mato Grosso à rebeldia dos Secos & Molhados, o filme dança com androginia e resistência na ditadura, tocando feridas brasileiras como o luto da AIDS e a busca por liberdade. Barbosa, dublado por Ney, incendeia o palco, numa fotografia onírica que pulsa como o Brasil. Um filme que como Ney é revolucionário e que chegou na hora certa!
HOMEM COM H

Conclusão

O primeiro semestre de 2025 incendiou o cinema queer com narrativas que costuram plumas, revolta e ternura, do Recife ao Vietnã. “Homem com H” lidera como um grito brasileiro de liberdade, enquanto cada filme tece nossa história com cores, lutas e desejos. O segundo semestre já acena com mais ícones, mais caos e mais arte que transborda!

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Things Like This (EUA, 2025)


 "Things Like This" é uma comédia romântica que, apesar de se apoiar em clichês desgastados, ganha força pela humanidade de seus personagens e pela rara representatividade gorda no cinema. Dirigido e estrelado por Max Talisman, o filme apresenta Zack Anthony (Talisman), um aspirante a romancista desempregado e emocionalmente imaturo que acorda ao lado de Ben (James Leon) após um caso de uma noite, só para ser rejeitado com a frase cortante: "Você é como o Ursinho Pooh: adorável com barriga e sem calças." Esse golpe inicial define o tom da jornada de Zack, que logo cruza caminhos com Zack Mandel (Joey Pollari), um assistente administrativo preso em um emprego sem alma e um namoro morno com Eric (Taylor Trensch).

A representatividade gorda, encarnada por Zack Anthony, é o ponto forte do filme e uma adição bem-vinda aos filmes queer. Max Talisman não apenas interpreta um protagonista acima do peso, mas o faz com uma engenhosidade que escapa das armadilhas habituais de humor rasteiro ou autopiedade. Zack é autoconsciente sobre seu corpo, mas o roteiro o define por suas lutas internas, o desemprego, a estagnação como escritor e não apenas por sua aparência. Em um cenário que raramente dá espaço a corpos fora do padrão, essa escolha é um aceno valioso, ainda que o filme não explore o tema com a profundidade que poderia.


Na direção, Max Talisman estreia com uma estética que oscila entre o encantador e o desajeitado, refletindo a dualidade dos protagonistas. As ruas de Nova York e Nova Jersey ganham vida em uma fotografia que alterna tons quentes e frios, capturando o caos emocional dos Zacks. No entanto, a edição tropeça em transições que remetem a séries de TV, e a trilha sonora exagera ao tentar forçar emoção, revelando a inexperiência do diretor.

Os temas centrais,  autoaceitação, resistência a estereótipos e a busca por amor, são tratados com intensidade, mas sem grande ousadia. Zack Anthony, rejeitado por Ben e pressionado por Kenny, luta para se enxergar como digno, enquanto Zack Mandel, sufocado por Margie e entediado com Eric, termina o namoro com frieza após rejeitar um pedido de casamento O filme acerta ao mostrar que o amor entre dois homens falhos, um impulsivo, outro reservado,  pode ser bagunçado e real, especialmente quando temperado por referências pessoais, como a avó Portia (Barbara Barrie) de Anthony ou o pai distante Paul (Eric Roberts) de Mandel.

"Things Like This" se resume a uma estreia promissora de Max Talisman, que, apesar de tropeçar em clichês e diálogos ocasionalmente constrangedores, se destaca pela humanidade de seus personagens e pela representatividade de corpos que oferece. Não reinventa o gênero, mas entrega uma história que resiste graças às atuações sólidas de Talisman, Pollari e cia., e à decisão de colocar um protagonista acima do peso no centro da tela com respeito e complexidade. 

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Betânia (Brasil, 2024)


 "Betânia", de Marcelo Botta, é um drama sensível que acompanha a jornada de Betânia, uma mulher de 65 anos que, após a morte do marido, decide retornar ao pequeno povoado onde nasceu, no sertão nordestino. O filme explora temas como ancestralidade, pertencimento e as transformações sociais e ambientais que impactam comunidades tradicionais. Com uma narrativa contemplativa, Botta constrói um retrato íntimo de uma mulher em busca de reconexão com suas raízes, ao mesmo tempo em que enfrenta os desafios de um mundo em mudança.

A luz mais forte em "Betânia" é a atuação de Diana Mattos, que dá vida à protagonista com uma combinação impressionante de força e fragilidade. Sua interpretação transmite o peso do luto e o processo de redescoberta pessoal, ancorando emocionalmente a narrativa. A fotografia de Beto Martins também merece destaque, capturando a beleza crua do sertão e usando a paisagem como reflexo das lutas internas da protagonista.

Por outro lado, "Betânia" enfrenta problemas de ritmo e estrutura narrativa. Algumas sequências contemplativas, embora esteticamente belas, se prolongam demais, comprometendo a fluidez. Além disso, os personagens secundários poderiam ser mais desenvolvidos, já que suas interações com a protagonista nem sempre têm o impacto merecido.

Embora a trama principal não gire em torno dessa questão, "Betânia" inclui uma representatividade queer de forma sutil e significativa. Uma personagem queer é apresentada, trazendo à tona um conflito familiar que, mesmo explorado brevemente, ressoa com força na comunidade LGBTQIA+. Essa inclusão desafia as normas heteronormativas frequentemente predominantes em contextos rurais e enriquece a discussão do filme sobre identidade e diversidade.

O que o filme também faz bem é abordar questões sociais e ambientais relevantes. A luta da comunidade contra a desertificação e a especulação imobiliária reflete desafios reais enfrentados por muitas regiões do Brasil. A relação de Betânia com a terra e sua determinação em preservar sua herança cultural funcionam como metáforas poderosas para a resistência diante das pressões da modernidade.

"Betânia" é uma obra que, apesar de suas falhas de ritmo, oferece uma reflexão rica sobre identidade, pertencimento e resistência. A sutil inclusão de uma perspectiva queer adiciona profundidade e atualidade à narrativa, enquanto as atuações e a estética visual sustentam seu apelo emocional. Marcelo Botta entrega um filme imperfeito, mas instigante, que convida o espectador a pensar sobre as complexas camadas da transformação pessoal e social.


quarta-feira, 25 de junho de 2025

Enigma (EUA, 2025)

"Enigma", dirigido pela ativista trans Zackary Drucker, é um documentário que explora o fascínio humano por mistérios e complexidade da identidade. O filme traça as vidas de duas figuras trans icônicas, April Ashley e Amanda Lear, que começaram em um mesmo ponto, o cabaré parisiense Le Carroussel nos anos 60 , e seguiram caminhos radicalmente opostos. Em tempos de polarização e debates acalorados sobre transexualidade, "Enigma" chega como um respiro, crítico, sim, mas também cheio de personalidade.

O ponto alto do filme está nas trajetórias de April Ashley e Amanda Lear (ou Peki Oslo, dependendo de quem você pergunta). April, uma britânica que enfrentou o mundo de peito aberto, tornou-se uma ativista incansável, lutando por reconhecimento legal como mulher, uma batalha que, ironicamente, viu retrocessos recentes na Suprema Corte inglesa. Amanda, por outro lado, escolheu o caminho do enigma, negando até hoje qualquer passado trans e vivendo como a diva misteriosa que flertou com David Bowie e Salvador Dalí. Drucker não força conclusões, mas deixa essas histórias falarem por si, mostrando que não há um único jeito "certo" de ser trans, e isso é o que torna o filme tão humano.


A direção de Drucker é um malabarismo esperto entre o leve e o pesado. O filme abre com as luzes e o glamour de Le Carroussel, onde drag queens brilhavam e celebridades como Elvis Presley apareciam na plateia. Há uma nostalgia gostosa aí, mas ela logo dá lugar às realidades duras: os choques da terapia forçada que Ashley enfrentou, ou a cirurgia arriscada em Casablanca que ambas buscaram. Ainda assim, o humor está lá, como quando as entrevistadas riem de terem ido ao mesmo cirurgião, "todos parecendo clones!".


A montagem alterna entre arquivos antigos, recortes de jornais, imagens de shows, e entrevistas atuais, criando um carrossel (com o perdão do trocadilho) de memórias e reflexões. A trilha sonora, discreta mas emotiva, com uma pegada disco, reforça o tom bittersweet da narrativa. Não é um documentário revolucionário em estilo, mas a escolha de deixar as protagonistas brilharem, sem recursos desnecessários, confere ao filme uma naturalidade que ecoa. Você sente que está ouvindo amigas contando suas vidas, não assistindo a uma obra didática.


No fim, "Enigma" é sobre escolhas, ser transparente como Ashley ou enigmática como Lear, e sobre como ambas podem ser formas válidas de sobreviver num mundo que nem sempre acolhe. A sensação que fica é um gosto de quero mais de Le Carrousel, acho que merecia um documentário próprio,  e a curiosidade, junto com Drucker, de perguntar: 'Quem é Amanda, afinal? É crítico, é amoroso, é um enigma, e isso é mais que suficiente.

Bulletproof: A Lesbian's Guide to Surviving the Plot (Canadá, 2024)

O documentário "Bulletproof: A Lesbian's Guide to Surviving the Plot", de Regan Latimer, é uma obra que combina humor, emoção e crítica social para abordar um tema de grande relevância: a representação de personagens lésbicas na mídia, com foco no famigerado tropo narrativo "bury your gays". Esse padrão, no qual personagens LGBTQ+ frequentemente encontram finais trágicos ou são eliminados das histórias, é dissecado por Latimer com uma abordagem ao mesmo tempo divertida e profundamente pessoal.

O cerne de "Bulletproof" está na exploração de como as personagens lésbicas são retratadas no cinema e na televisão. O filme passeia pelo impacto emocional e cultural, destacando como ele perpetua estereótipos e priva o público, especialmente a comunidade LGBTQ+ ,  de representações positivas e diversificadas. Através de exemplos da cultura pop e análises perspicazes, o documentário argume

Entre as muitas atrações destacadas no filme, a análise de “The Children’s Hour” traz uma reflexão sombria sobre os finais trágicos impostos às lésbicas na era clássica do cinema, enquanto a controvérsia em torno da morte de Lexa em “The 100” ilustra vividamente o tropo "bury your gays" que Latimer critica com veemência. Por outro lado, a inclusão de “Wynonna Earp” e “Black Mirror (San Junipero)” oferece um contraponto esperançoso, celebrando personagens lésbicas que sobrevivem e prosperam, alinhando-se à visão do documentário de promover narrativas positivas e diversificadas que desafiam os estereótipos perpetuados pela mídia ao longo das décadas.Nesse The Celulloid Closet” sáfico é claro que não poderia faltar clássicos como “Xena”, “Buffy” e “Scooby Doo”.

A força do filme reside em sua execução criativa. Latimer utiliza uma mistura de animações originais, piadas pessoais e entrevistas com figuras como insiders da indústria, defensores da comunidade LGBTQ+ e fãs. O humor é uma ferramenta constante, tornando temas complexos mais acessíveis sem perder a seriedade da crítica.

"Bulletproof" transcende seu público-alvo imediato ao oferecer uma análise que interessa a qualquer pessoa curiosa sobre o papel da mídia na sociedade. Ao criticar práticas narrativas problemáticas, Latimer também celebra os avanços na representação LGBTQ+ e aponta caminhos para o futuro.


terça-feira, 24 de junho de 2025

3ª Edição da Mostra Quem Quer Queer? Celebra o Orgulho LGBTQIAPN+ no Rio

De 27 de junho a 7 de julho de 2025, a terceira edição da Mostra Quem Quer Queer? (QQQ) traz uma celebração vibrante do Mês do Orgulho LGBTQIAPN+ aos cinemas Estação NET Botafogo, Estação Net Rio e Estação NET Gávea, no Rio de Janeiro. Com curadoria do Grupo Estação, Wescla Vasconcelos e Cine Drag, e apoio da RIOFILME, o evento apresenta mais de 20 obras que destacam a representatividade queer, incluindo clássicos como “O Beijo da Mulher Aranha” (Hector Babenco), “Retrato de Uma Jovem em Chamas” (Céline Sciamma), “O Segredo de Brokeback Mountain” (Ang Lee), “A Criada” (Park Chan-Wook), “Thelma e Louise” (Ridley Scott), “Má Educação” (Pedro Almodóvar), “Para Wong Foo, Obrigada por Tudo!” (Beeban Kidron), “Vampiras Lésbicas” (Jesús Franco) e “Cecil Bem Demente” (John Waters), além de curtas brasileiros e portugueses.

A abertura, no dia 27 de junho, contará com uma festa no Estação Net Rio, animada pelos DJs Máxima, Pambelli e Effy Um. Entre as novidades, a mostra apresenta a entrega do primeiro Troféu Queer, no encerramento em 7 de julho, homenageando a artista e transpóloga Renata Carvalho por sua relevância no audiovisual e na visibilidade queer. O evento culmina com a pré-estreia de “Salomé”, de André Antônio, estrelado por Renata Carvalho, Aura do Nascimento e Fellipy Sizernando.

Renata Carvalho

No dia 6 de julho, a Sessão Cine Drag exibe o premiado documentário “Dzi Croquettes”, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, celebrando a arte drag com performances temáticas. No mesmo dia, o QQQ Mini Ball, a partir das 13h no Estação NET Botafogo, transforma o cinema em um ballroom, com premiações nas categorias Baby Vogue, Runway e Vogue OTA, seguido por uma sessão especial de “Paris is Burning” às 15h15.

Outro destaque é a exibição de “Ovnis, Monstros e Utopias: três curtas queer”, com três curtas portugueses em pré-estreia no dia 30 de junho no Estação NET Botafogo, com lançamento oficial em 10 de julho. Os filmes são: “Entre a Luz e o Nada” (Joana de Sousa), “Sob Influência” (Ricardo Branco) e “Uma Garota Imaterial” (André Godinho), premiados em festivais como BFI Flare, Queer Porto, Frameline 47 e Queer Lisboa.


Durante os finais de semana, o Mercado QQQ no Estação NET Botafogo destaca marcas de artistas queer, promovendo novos talentos. A Mostra Quem Quer Queer? reforça a importância da diversidade e da resistência, oferecendo um espaço de celebração e reflexão por meio do cinema e da cultura LGBTQIAPN+. Ingressos e programação completa estão disponíveis em ingresso.com e nos sites dos cinemas Estação NET.
Ovnis, Monstros e Utopias: Três Curtas Queer


Ingressos: R$18 CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA!

I Don't Understand You (Itália/EUA, 2025)

 

“I Don't Understand You” traz uma premissa que gira em torno de uma barreira linguística entre dois futuros pais gays, Dom (Nick Kroll) e Cole (Andrew Rannells), cuja tentativa de aprender italiano básico desencadeia uma série de eventos em uma comédia sombria ambientada na Itália. A ideia de um mal-entendido cultural servindo como motor da narrativa carrega um certo peso, sugerindo uma exploração da incompreensão intercultural ligada à busca por paternidade queer.

A jornada de Dom e Cole, que passaram três anos no processo de adoção e agora aguardam um filho de Candace (Amanda Seyfried, cuja atuação oferece um toque de humanidade), começa como uma escapada romântica para marcar uma década juntos. A Itália, com sua promessa de serenidade, logo se transforma em um cenário de tensão quando um jantar organizado por um amigo de Dom os leva à casa de Zia Luciana (Nunzia Schiano), uma figura que encarna a hospitalidade local. A necessidade de Cole ajustar seu vegetarianismo por cortesia dá lugar a uma sequência de incidentes, marcando o início de uma narrativa que explora os limites da comunicação em um ambiente estranho.

Os diretores David Joseph Craig e Brian Crano incorporam elementos semi-autobiográficos, refletindo sua própria experiência como casal gay aspirante a pais, o que adiciona uma camada de intenção pessoal à história. A entrevista inicial de Dom e Cole, um esforço para se apresentarem como futuros pais, contrasta com a decisão de viajar na data prevista para o nascimento, sugerindo uma tensão entre planejamento e incerteza. Essa dualidade reflete as complexidades do processo de adoção, embora o filme nem sempre consiga alinhar essas emoções à narrativa de forma fluida, deixando questões em aberto.

A barreira linguística, amplificada por legendas que revelam o que o casal não compreende, torna-se um elemento central que reflete a alienação em terras estrangeiras. Os mal-entendidos — desde itens de menu obscuros até interrupções inesperadas — criam uma atmosfera de desconexão, sugerindo perigos que podem ou não ser reais.
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No cerne, “I Don't Understand You” acompanha o desejo de Dom e Cole de formar uma família, uma aspiração que atravessa os desafios impostos por um ambiente hostil e incompreensível. Os diretores, baseados em suas próprias vivências, trazem uma verdade que se manifesta nas interações do casal, mas a narrativa se desvia para um território sombrio que nem sempre encontra um propósito claro. 


segunda-feira, 23 de junho de 2025

I'm Your Venus (EUA, 2024)

O documentário “I’m Your Venus”, de Kimberly Reed,  revisita a vida e a morte trágica de Venus Xtravaganza, uma das estrelas do icônico filme “Paris Is Burning" (1990). Reed aborda o assassinato não resolvido de Venus com sensibilidade e respeito, evitando o sensacionalismo típico de documentários true crimes. Em vez disso, o filme foca na humanidade de Venus e no impacto duradouro de sua vida, explorando as emoções complexas de suas duas famílias, biológica e de ballroom, enquanto buscam respostas e celebram seu legado.

A narrativa é entrelaçada com imagens de arquivo, muitas inéditas, de “Paris Is Burning", criando uma conversa tocante entre o passado e o presente, permitindo que o público sinta a presença de Venus mesmo décadas após sua morte. A direção de Reed é habilidosa ao equilibrar a investigação do crime com a exploração das questões mais amplas enfrentadas pela comunidade trans, resultando em um documentário que é um tributo emocionante que ecoa como um chamado urgente por igualdade e justiça.


Um dos aspectos mais marcantes de “I’m Your Venus” é a colaboração entre as duas famílias do ícone: os Pellagattis, sua família biológica, e a House Xtravaganza, sua família escolhida no ballroom. O filme documenta o processo de reconciliação e cura à medida que essas famílias, inicialmente estranhas uma à outra, unem-se para honrar a memória de Venus.

Além de sua narrativa pessoal, “I’m Your Venus” serve como um comentário social sobre as lutas contínuas da comunidade trans. O filme destaca as barreiras sistêmicas que Venus enfrentou em vida e as que persistem após sua morte, como a dificuldade em corrigir seu nome legal postumamente e o reconhecimento de sua casa de infância como um marco histórico. Reed conecta a história de Venus às questões mais amplas de violência transfóbica e à necessidade de maior visibilidade e proteção para pessoas trans, especialmente mulheres trans.

O uso de imagens reeditadas de “Paris Is Burning” permite que Venus “fale” diretamente com sua família, criando uma sensação de diálogo através do tempo. Essa abordagem deliberada permite uma exploração mais profunda das emoções e temas, enfatizando a gravidade da perda e a importância de seu legado.

“I’m Your Venus”  transcende o gênero true crime para entregar uma narrativa de amor, perda e resiliência. A direção de Reed garante que a história de Venus seja contada com a dignidade que ela merece, enquanto desafia os espectadores a confrontar as injustiças que persistem. Ao unir as famílias biológica e de ballroom de Venus, o filme celebra sua vida e afirma seu lugar como um ícone trans cuja influência continua a inspirar. 

domingo, 22 de junho de 2025

O Futuro do Cinema Queer: Novas Vozes, Novas Fronteiras


 No Cinematografia Queer, o futuro é uma tela em branco que pulsa com vozes diversas, narrativas subversivas e tecnologias que abrem portas para o inimaginável. Cineastas como Julia Ducournau, com a visceralidade de “Titane” (2021), Gustavo Vinagre, premiado com o Teddy Award por “Três Tigres Tristes” (2022), Juliana Rojas, que mistura realismo e fantasia em “Cidade; Campo” (2024), e Xavier Dolan, com a poesia emocional de “Mommy” (2014), pavimentaram o caminho para uma nova geração que redefine o que significa ser queer no cinema. Na Semana 4 do especial #PrideMonth, celebramos talentos emergentes que cruzam gêneros, formatos e fronteiras, trazendo histórias que são ao mesmo tempo políticas, vibrantes e cintilantes. O futuro do cinema queer já chegou – e ele é sem limites. Preparades para essa viagem? Então vem!

Narrativas que TRANSformam

Teenage Sex and Death at Camp Miasma
O cinema queer do futuro é moldado por quem transforma vivências em arte com coragem e inovação. Alice Maio Mackay, a australiana prodígio de 20 anos, reina no horror camp usando narrativas trans e humor afiado como armas de resistência. Jane Schoenbrun, cineasta não-binária, cria obras-primas viscerais: “I
Saw the TV Glow” (2024) é uma adição valiosa ao horror queer, explorando o “egg crack” trans com uma estética neon, enquanto seu próximo slasher, “Teenage Sex and Death at Camp Miasma”, promete ainda mais subve
rsão. River Gallo, ativista intersexo salvadorenha-americana, lança “Ponyboi” (2024), um thriller sobre um trabalhador sexual intersexo. "Deserie Lines", de Jules Rosskam, é um híbrido, de sci-fi e documentário, sobre um homem trans iraniano. Vera Drew, com o ácido “The People’s Joker” (2022) criou todo um transverso, e Vuk Lungulov-Klotz, com o intenso “Mutt” (2023), fazem parte desse time de visionáries que reescrevem as regras do cinema queer com narrativas que desafiam e transformam.

Romances e Desejos: Novas Perspectivas
Twinless

O amor e o desejo queer ganham contornos radicais nas mãos de cineastas que celebram o afeto em suas formas mais intensas. Rose Glass incendeia com “Love Lies Bleeding” (2024) e já prepara seu terceiro longa, prometendo mais tensão sáfica. Agathe Riedinger, com “Diamant Brut” (2024), explora a crueza do desejo feminino em uma narrativa sobre fama e identidade. James Sweeney entrega “Twinless” (2025), uma comédia sombria com Dylan O’Brien, sobre uma amizade queer que nasce da perda. Harry Lighton provoca com “Pillion” (2024), um romance kinky estrelado por Harry Melling e Alexander Skarsgård, que mistura submissão e liberdade em uma narrativa que estreou em Cannes. Essas histórias redefinem o romance queer, trazendo subversão, humor e uma pitada de perigo.

Brasil em Chamas: Vozes que Resistem e Criam

O Retrato de Dorian Gray, de Matheus Marchetti

No Brasil, o cinema queer é uma chama que não apaga, enfrentando preconceitos com narrativas potentes. Matheus Marchetti, após “Verão Fantasma” (2022), promete estremecer o vale com “O Labirinto dos Garotos Perdidos” (2025) e uma releitura homoerótica de “O Retrato de Dorian Gray”. Henrique Arruda, com “Filhas da Noite” (2025), celebra ícones trans do Recife, trazendo amor pela cultura drag nordestina. Juh Almeida, cineasta trans e preta, impacta com “Náufraga” (2018), enquanto Cibele Appes brilha em “Se Trans For Mar” (2023). Nayla Guerra, do coletivo Cine Sapatão, desponta com “Ferro’s Bar” (2023), e George Pedrosa, de “Macho Carne” (2021) prepara o sci-fi “Defesa Pura” (2025), sobre um casal trans numa nave especial. FUTURO PURO! Essas vozes são a prova de que o cinema brasileiro é resistência, transgressivo e visionário.


Expectativa
Ruas da Glória, de Felipe Scholl
O cinema queer de 2025 está pegando fogo com estreias que cruzam fronteiras e gêneros. Julia Ducournau retorna com “Alpha”, pronta para chocar ao abordar estigmas. No Brasil, Daniel Nolasco estreia “Apenas Coisas Boas”, um drama romântico queer dos anos 80, enquanto “Ato Noturno”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, mergulha no desejo com suspense neo-noir kinky. Gustavo Vinagre e Gurcius Gewdner unem forças no terror gore nacional “Privadas de Suas Vidas” (2025), uma obra que mistura distopia queer com visceralidade extrema. “Ruas da Glória”, de Felipe Scholl, traz uma narrativa brasileira vibrante sobre resistência e comunidade. “Touch Me”, de Addison Heimann, explora desejo e intimidade queer com ousadia. Gregg Araki volta com “I Want Your Sex”, prometendo sua assinatura provocativa e pop. Ethan Coen segue sua trilogia sáfica com “Honey Don’t”, trazendo experimentação lésbica. “Cactus Pears (Sabar Bonda)”, de Rohan Kanawade, destaca vozes interseccionais da Índia e Reino Unido. “Duas Mulheres”, de Chloé Robichaud, oferece um olhar sáfico sensível, e “A Metros de Distancia”, de Tadeo Pestaña Caro, mistura comédia e aventura queer em Buenos Aires. Apesar da recepção morna em Cannes, “The History of Sound”, de Oliver Hermanus, deve emocionar com sua história de amor. Tina Romero, a filha do homem, traz zumbis e drag queens em seu longa de estreia "Queens of the Dead", e Pedro Almodóvar, volta ao seu idioma de origem e promete muita metalinguagem com o já aguardado “Amarga Navidad”.

Legado

De “Twinless” a “Ponyboi”, de “O Labirinto dos Garotos Perdidos” a “Teenage Sex and Death at Camp Miasma”, o futuro do cinema queer é uma revolução em movimento. Cineastas como Alice Maio Mackay, James Sweeney, Jane Schoenbrun, River Gallo, Matheus Marchetti e outres são a vanguarda, trazendo inovação, coragem e narrativas que desafiam normas e celebram a diversidade. No Cinematografia Queer, esse legado é nossa chama – e ela só esquenta!

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