domingo, 27 de julho de 2025

Mr. Burton (Reino Unido/Canadá/EUA/Irlanda, 2025)

“Mr. Burton”, de Marc Evans, é uma cinebiografia que retrata os anos de formação do lendário ator Richard Burton ( Harry Lawtey), com foco em sua relação com seu mentor, Philip Burton (Toby Jones). Ambientado na década de 1940 em Port Talbot, País de Gales, o filme segue o jovem Richard Jenkins (futuro Burton), enquanto descobre sua paixão pela atuação sob a tutela de um professor que se torna seu guardião legal. A narrativa entrelaça temas de ambição, identidade e as pressões sociais da época, oferecendo um olhar sobre a construção de um futuro astro em meio aos desafios de uma comunidade conservadora e operária.

Um elemento sutil, porém relevante, de “Mr. Burton” é a exploração de temas queer através da figura de Philip Burton. O filme insinua que Philip pode ser um homem gay reprimido, lidando com as normas rígidas da sociedade galesa dos anos 1940. Isso é sugerido por meio de atuações contidas e diálogos cuidadosamente elaborados, como os comentários homofóbicos da comunidade e a reserva emocional do próprio Philip. Uma cena em seu quarto, onde ele e Richard compartilham um momento de tensão ambígua, sugere sentimentos não expressos, embora o filme deixe claro que não há abuso.

O longa se destaca no desenvolvimento de seus personagens centrais, especialmente nas atuações de Toby Jones como Philip Burton e Harry Lawtey como o jovem Richard. Jones transmite com sutileza a dedicação e o tumulto interno de Philip, enquanto Lawtey retrata de forma convincente a evolução de Richard, de filho de minerador a aspirante a ator. A relação entre os dois é o núcleo emocional da obra, marcada por afeto e pelo peso das expectativas sociais.

Ambientado no País de Gales pós-Segunda Guerra Mundial, “Mr. Burton” retrata com eficácia as dificuldades econômicas e os valores conservadores da época. O filme contrasta as ruas cobertas de pó de carvão de Port Talbot com o mundo aspiracional do teatro, destacando a tensão entre os sonhos de Richard e sua origem humilde. Esse contexto é essencial para compreender os desafios dos personagens, como a resistência inicial do pai de Richard à sua carreira artística e a desconfiança da comunidade em relação à proximidade entre Philip e Richard. A homofobia latente da sociedade, sutilmente inserida nos diálogos e interações, reforça os obstáculos enfrentados por ambos, embora o filme por vezes apenas toque nesses temas sem os explorar plenamente.


A direção de Marc Evans é cuidadosa, com atenção especial à atmosfera e aos detalhes. A cinematografia de Hubert Taczanowski impressiona, utilizando as paisagens ásperas e melancólicas do País de Gales para refletir os conflitos internos dos personagens.

“Mr. Burton” é um filme reflexivo e tocante que explora o poder transformador da tutoria e as barreiras sociais de sua época. Sua abordagem sutil aos temas queer adiciona uma camada de complexidade, embora excessivamente contida. O longa presta homenagem ao impacto duradouro da orientação e às lutas silenciosas daqueles que desafiam normas sociais em busca de suas paixões.

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