"Sauna", de Mathias Broe, nos transporta para o mundo úmido e sombrio de uma sauna gay em Copenhague, um lugar que pulsa com mistério e decadência. Adaptado do romance de Mads Ananda Lodahl, o filme transforma a sauna Adonis em mais do que um simples pano de fundo: ela reflete os conflitos internos dos personagens, com seus corredores mal iluminados e cabines de sexo espelhando os desejos e as angústias de quem os habita.
No centro de "Sauna" está o relacionamento intenso e imperfeito entre Johan (Magnus Juhl Andersen), um recepcionista da sauna perdido em encontros casuais, e William (Nina Terese Rask), um homem trans em busca de afirmação. Os dois se conhecem através de um aplicativo de encontros, e a surpresa de Johan ao descobrir a identidade de William dá início a uma conexão que transcende o superficial. Andersen e Rask entregam performances marcantes, trazendo verdade às suas interações.
O filme se destaca ao explorar a jornada de William com sensibilidade e profundidade, oferecendo um olhar honesto sobre os desafios de ser um homem trans em um mundo que nem sempre acolhe a diversidade. A cena em que ele é expulso da sauna por ser considerado “mulher” em um espaço exclusivo para homens gays é um golpe emocional, mas também um ponto de reflexão poderoso sobre exclusão e transfobia. Broe trata essas questões com respeito, permitindo que William mostre tanto suas dificuldades quanto sua força interior.
Visualmente, "Sauna" impressiona com seu estilo naturalista, remetendo à Nouvelle Vague ao cinema veritè, com closes que capturam cada nuance emocional e um som ambiente que amplifica a imersão. A sauna, com sua iluminação suave e atmosfera vaporosa, ganha vida como um espaço de segredo e revelação. As cenas de sexo na sauna, escuras e "sujas", contrastam fortemente com a relação mais solar e leve entre Johan e William, destacando a dualidade entre o desejo físico e a busca por uma conexão emocional.
"Sauna" não tem medo de mostrar o sexo e o desejo em sua forma mais crua, mas faz isso com um propósito que vai além da provocação. As cenas explícitas são tratadas com honestidade, servindo como uma janela para a busca dos personagens por conexão e autocompreensão. É essa ousadia que dá ao filme sua força. Broe equilibra esses momentos com pausas reflexivas, criando um ritmo que reflete as oscilações entre o físico e o emocional.
Com "Sauna", Mathias Broe entrega uma obra íntima e universal, um retrato comovente do amor e da identidade em tempos modernos. O filme abraça a bagunça da vida real, com todas as suas contradições. Em um cenário cinematográfico muitas vezes dominado por histórias polidas, "Sauna" se destaca como uma voz atrevida, desafiando oolhar para as nuances do desejo e da aceitação.
https://pinkmovie.com.br/movies/details/sauna/928
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