"Segundo Premio", de Isaki Lacuesta e Pol Rodríguez, nos leva a Granada, Espanha, nos anos 1990, para um mergulho nos bastidores de uma banda de indie rock à beira do colapso. Inspirada em histórias reais de bandas como Los Planetas, a trama enfrenta a saída de um integrante essencial, pressões de uma gravadora por um hit comercial e a ameaça de perder sua essência
A história se desenrola em fragmentos, com um estilo visual que transita entre o real e o onírico, uma marca de Lacuesta. Cenas de ensaios caóticos se misturam a lembranças difusas, criando uma sensação de tempo fluido que reflete o estado mental da banda. A música em "Segundo Premio" é mais do que pano de fundo: ela pontua rupturas e reconciliações, com sessões de gravação que revelam talento e fissuras. As cenas musicais são um destaque, capturando a energia crua dos ensaios e a paixão visceral das performances.
Os personagens centrais são o vocalista (Daniel Ibañez), preso entre o bloqueio criativo e a culpa pela saída de um colega, e o guitarrista (Cristalino), cujo vício crescente em drogas coloca todos em risco. A relação entre eles, antes um alicerce sólido, agora se desfaz em silêncios e discussões veladas. A ex-integrante, May (Stéphanie Magnin), mesmo ausente, paira sobre a narrativa, influenciando cada decisão e nota tocada
Os temas de "Segundo Premio" giram em torno da luta por identidade artística e da pressão para se adaptar a um mercado implacável. Granada aparece não apenas como cenário, mas como uma força simbólica, com suas tradições pesando sobre a banda enquanto tentam se reinventar. Há metáforas visuais sutis, como um estúdio em ruínas ou uma fita cassete quebrada, que reforçam a sensação de algo prestes a desmoronar. O filme questiona o preço da criação: o que se ganha e o que se perde ao perseguir uma visão? É uma reflexão que ressoa sem forçar grandes lições.
Na representatividade queer, "Segundo Premio" é discreto, mas significativo. A relação entre o vocalista e o guitarrista carrega uma tensão que sugere algo além da amizade, revelada em gestos contidos e momentos de cumplicidade silenciosa. Não há grandes declarações ou conflitos explícitos sobre identidade; ela é tratada como parte natural da vida deles.
"Segundo Premio" tem seus méritos, mas não escapa de erros. A estrutura fragmentada, embora evocativa, pode confundir, e a falta de resolução em alguns arcos deixa um gosto agridoce. Ainda assim, a atmosfera densa e as cenas musicais hipnotizantes, que transborda paixão e caos, compensam essas falhas, ancorando o filme em algo concreto.
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