No México, na década de 1950, William Lee (Daniel Craig) é um escritor intelectual bem-educado e viciado em drogas. Por um lado, ele tem um esnobismo feroz em relação a qualquer um que não consiga discutir um trabalho literário que esteja de acordo com seus padrões. Por outro lado, ele adora misturar com pessoas sujas, sem educação e criminosos.
Ao avistar Eugene Allerton (Drew Starkey),um jovem da Marinha dos EUA, mas que atualmente é um estudante desempregado na Cidade do México. Lee sente uma forte atração, mas não tem certeza sobre qual é a sexualidade de Eugene. Allerton frequenta o Ship Ahoy (um conhecido estabelecimento para homens gays), mas também é visto namorando uma ruiva fogosa chamada Joan (Ronia Ava).
Lee está desesperado para se conectar com Allerton, envolvendo cada vez mais sua identidade na aprovação do homem mais jovem. Mas Eugene permanece afetivamente distante, para a crescente frustração de Lee. Sua dinâmica cria um drama envolvente. Por trás da sensualidade e do espetáculo, o neo-noir de Guadagnino captura a destrutividade da paixão não correspondida.
O que o filme comunica é principalmente a relação que o protagonista tem consigo mesmo, e não com as pessoas ou com o mundo ao seu redor. E esses dolorosos tormentos internos são bem transmitidos pela excelente atuação de Daniel Craig, sempre comedida e nunca exagerada, nos fazendo esquecer completamente que já foi James Bond.
“Queer” faz algumas escolhas musicais interessantes que pretendem ser não convencionais. Trent Reznor e Atticus Ross compuseram uma trilha muito moderna, com canções de Omar Apollo (que faz uma breve participação) e Caetano Veloso, dando um anacronismo ao filme que ainda tem sequências com músicas do Nirvana.
O filme é estruturado em partes. Na segunda parte, porém, os dois empreendem uma longa viagem até a Amazônia em busca da chamada “droga telepática”. Imagens oníricas, muitas vezes com cores psicodélicas, aliadas a poderosas alucinações - intercaladas com dolorosos ataques de abstinência - tomam subitamente a tela, criando uma experiência sensorial e nos levando à outra adaptação de Burroughs, The Naked Lunch (1991), de David Cronenberg.
Com "Queer", Luca Guadagnino cria uma das adaptações literárias mais ousadas da memória recente. Ele pega a estranha e inacabada obra do ícone beatnik e a transforma em uma experiência cinematográfica sensória, quase palpável que supera o livro. O filme permanece intensamente íntimo. Nas mãos habilidosas do diretor, "Queer", que pode ser considerado seu melhor trabalho até agora, transcende suas origens não convencionais para se tornar um retrato assustador da obsessão humana.
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