domingo, 15 de junho de 2025

#PRIDEMONTH: DAS SOMBRAS AOS HOLOFOTES


 Quando o cinema queer começou a ganhar luz, ele precisou navegar por desafios como a epidemia de AIDS, e enfrentou um período obscuro de produção, mas abraçou novos movimentos e evoluiu para expressões contemporâneas. Esta é a história de como o cinema LGBTQIA+ transformou dor em resistência, silêncio em grito, e sombras em plumas coloridas. Vem num road movie por filmes que marcaram épocas e corações. Prontes para voar nessa história de superação como uma fênix?


Os Anos 1980: A Epidemia e o Desafio

Buddies, de Arthur J. Bressan Jr.

Numa época em que a liberação sexual foi interrompida e os estigmas fortalecidos, a produção cinematográfica se manteve mais tímida, mas ainda assim muito relevante. “An Early Frost” (1985), de John Erman, e “Buddies” (1985), de Arthur J. Bressan Jr., foram pioneiros ao abordar a crise com humanidade. “Parting Glances” (1986), de Bill Sherwood, e “Meu Querido Companheiro” (1986), de Norman René, misturaram humor e honestidade na vida gay durante a epidemia. “Tongues Untied” (1989), de Marlon Riggs, trouxe a perspectiva gay negra e soropositiva com poesia crua. Derek Jarman transformou sua sorologia em ativismo em “O Jardim” (1990) e “Blue” (1993), obras viscerais que ecoam em filmes recentes como “120 Batimentos por Minuto” (2017), de Robin Campillo, “The Normal Heart” (2014), de Ryan Murphy, e “Os Primeiros Soldados” (2022), de Rodrigo de Oliveira. No Brasil, a Boca do Lixo explorou o tema com sensacionalismo em “Estou com AIDS” (1986), de David Cardoso.

Os Anos 1990: Novo Cinema Queer e Renascimento
Paris is Burning, de Jennie Livingston

Os anos 1990 marcaram o New Queer Cinema, termo cunhado por B. Ruby Rich, que rejeitou a heteronormatividade e abraçou narrativas marginais. “Poison” (1991), de Todd Haynes, “Swoon” (1992), de Tom Kalin, e “The Living End” (1994), de Gregg Araki, trouxeram política e ousadia, muitas vezes ligadas ao ativismo contra a AIDS. “Paris Is Burning” (1990), de Jennie Livingston, celebrou a cultura ballroom, tornando-se um ícone atemporal. “Orlando” (1992), de Sally Potter, com Tilda Swinton em uma performance hipnótica, explorou gênero fluido. O cinema lésbico independente brilhou com “Go Fish” (1994), de Rose Troche. Bruce LaBruce trouxe prostituição e transgressão em “Hustler White” (1996), enquanto “Priscilla, a Rainha do Deserto” (1994), de Stephan Elliott, levou o drag ao mainstream. Na Espanha, Pedro Almodóvar consolidou sua voz queer com “Áta-me” (1990), “Kika” (1993) e o Oscar de “Tudo Sobre Minha Mãe” (1999), com a inesquecível Agrado. Na Ásia, “Adeus, Minha Concubina” (1993), de Chen Kaige, “O Banquete de Casamento” (1993), de Ang Lee, e “Happy Together” (1997), de Wong Kar-wai, redefiniram o cinema queer global. No Brasil, “Jenipapo” (1995), de Monique Gardenberg, trouxe um raro personagem gay, ainda que sutil, em um período de estereótipos.


Narrativas Mainstream: Anos 2000 e Além

Cazuza o Tempo não Para, de Sandra Werneck e Walter Carvalho

O New Queer Cinema abriu portas para o mainstream nos anos 2000. “Brokeback Mountain” (2005), de Ang Lee, marcou com seu romance trágico e indicações ao Oscar. “Milk” (2008), de Gus Van Sant, celebrou o ativismo de Harvey Milk, dando à Sean Penn a estatueta, enquanto “Minhas Mães e Meu Pai” (2010), de Lisa Cholodenko, explorou famílias homoafetivas. “Plata Quemada” (2000), de Marcelo Piñeyro, trouxe um thriller queer argentino, e “Hedwig - Rock, Amor e Traição” (2001), de John Cameron Mitchell, misturou musical e subversão trans. No Brasil, “Madame Satã” (2002), de Karim Aïnouz, “Amarelo Manga” (2002), de Cláudio Assis, e “Cazuza - O Tempo Não Para” (2004), de Sandra Werneck e Walter Carvalho, retrataram a rebeldia queer e a AIDS com emoção crua, conectando-se à herança dos anos 1980 e 1970 e abrindo caminho para uma produção robusta.

Tendências Contemporâneas

Moonlight, de Barry Jenkins

Hoje, o cinema queer brilha com diversidade. “Moonlight” (2016), de Barry Jenkins, venceu o Oscar com a história delicada de um jovem gay negro. “Pariah” (2011), de Dee Rees, trouxe narrativas lésbicas negras, enquanto “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017), de Luca Guadagnino, se transformou em fenômeno. “Uma Mulher Fantástica” (2017), de Sebastián Lelio, venceu o Oscar com uma narrativa trans poderosa. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (2022), dos Daniels, venceu o Oscar com uma jornada LGBTQIA+ multifacetada. No Brasil, No Brasil, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” (2014), de Daniel Ribeiro, tornou-se um marco coming-of-age gay, enquanto “Valentina" (2020) de Cássio Pereira dos Santos, e “As Boas Maneiras” (2017), de Juliana Rojas e Marco Dutra, ditaram tendências. Premiações como Queer Palm, Queer Lion, Teddy Award e o Festival MixBrasil amplificam essas vozes.


Legado:
“Das Sombras aos Holofotes” é a saga de uma fênix que renasce. Dos anos 1980, com “An Early Frost” e “Buddies” enfrentando a AIDS, ao New Queer Cinema de “Paris Is Burning” e “Poison”, até o mainstream de “Brokeback Mountain” e o Oscar de “Moonlight” e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. No #PrideMonth, honramos essas histórias que pavimentam um futuro cintilante para todas as identidades.

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