domingo, 8 de junho de 2025

Lente Subversiva: O Cinema Queer dos Anos 60 e 70

No Cinematografia Queer, o orgulho é uma chama que não apaga. Após desenterrar as raízes rebeldes do cinema queer na Semana 1, a segunda parte do nosso especial #PrideMonth celebra os anos 60 e 70, quando diretores romperam correntes com narrativas audaciosas, desejos escancarados e estéticas que desafiavam o comum. De Pasolini a Akerman, de Bressane a Waters, essa era foi um vulcão de vozes queer que incendiaram o mundo num tour-de-force de cores, sombras e transgressão!


Ícones Revelados

Os anos 60 e 70 trouxeram ícones que moldaram o cinema queer com coragem. Claude Chabrol dissecou a burguesia com tensão erótica em "Les Biches" (1968). Pier Paolo Pasolini estreou com "Accattone" (1961) e criou uma obra visceral até seu último e polêmico "Salò" (1975), lançado pouco antes de sua morte.

Eloy de la Iglesia, na Espanha, trouxe paixão queer e vício no regime franquista em filmes como "La Semana del Asesino" (1972). Tony Richardson ("A Taste of Honey", 1961) e Basil Dearden ("Victim", 1961) enfrentaram tabus na Inglaterra. Andy Warhol fez do desejo pop art em movimento. Rainer Werner Fassbinder pintou amores queer com dor e muita intensidade como em "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" (1972) e "Num Ano de 13 Luas" (1978). Derek Jarman emergiu com "Sebastiane" (1976). Rosa von Praunheim desafiou o sistema com documentários como "Não é o Homossexual que é Perverso…" (1971). Chantal Akerman ("Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles", 1975), Lizzie Borden ("Born in Flames", 1983) e Ulrike Ottinger ("Madame X – Eine absolute Herrscherin", 1978) moldaram olhares femininos únicos, celebrando a diversidade queer.

Jubilee (1978), de Derek Jarman


Cinema Nacional em Chamas

Enquanto ícones globais incendiavam as telas, o Brasil dos anos 60 e 70 fervia com um cinema marginal que desafiava a ditadura e abraçava desejos subversivos. "A Rainha Diaba" (1974), de Antonio Carlos da Fontoura, reinou com sua protagonista travesti, um marco de visibilidade queer. Walter Hugo Khouri teceu subtextos homoeróticos em "Noite Vazia" (1964) e um romance sáfico em "As Filhas do Fogo" (1978). Júlio Bressane ("Matou a Família e Foi ao Cinema", 1969) e Rogério Sganzerla ("Copacabana Mon Amour", 1970) explodiram no cinema marginal com narrativas que debochavam da moral. Braz Chediak ("Navalha na Carne", 1969) e Arnaldo Jabor ("Toda Nudez Será Castigada", 1973) trouxeram tensões rodrigueanas, enquanto Paulo Cesar Saraceni ("A Casa Assassinada", 1971) e Antonio Calmon ("Nos Embalos de Ipanema", 1978) enfrentaram a censura com ousadia.

Nos Embalos de Ipanema (1978), de Antonio Calmon


Narrativas de Ruptura

O cinema queer rompeu tabus com provocações que transbordam desejo. Joseph Strick ("The Balcony", 1963) adaptou Genet com identidades cruzadas. Jack Smith ("Flaming Creatures", 1963) criou um delírio queer que chocou o mundo. Toshio Matsumoto ("O Funeral das Rosas", 1969) reimaginou Édipo com mulheres trans em Tóquio. James Bidgood ("Pink Narcissus", 1971) filmou um sonho erótico em tons pastéis. John Waters, com sua musa Divine, celebrou o trash em "Pink Flamingos" (1972) e "Female Trouble" (1974). John Schlesinger ("Midnight Cowboy", 1969) abordou prostituição masculina. Ken Russell ("The Music Lovers", 1971) e Luchino Visconti ("Morte em Veneza", 1971) deram visões de genialidade e desejo. Sidney Lumet levou Al Pacino ao extremo em "Um Dia de Cão" (1975). Vicente Aranda ("Cambio de Sexo", 1977), Arturo Ripstein ("El Lugar sin Límites", 1978) e Ron Peck ("Nighthawks", 1978) exploraram gênero, identidade e a vida gay com honestidade.


Pink Flamingos (1972), de John Waters


Horror Queer: Vampiros e Criaturas

Além das narrativas de desejo, o cinema queer encontrou no horror um espaço para celebrar a alteridade. Vampiros e criaturas tornaram-se metáforas da marginalidade queer, desafiando normas de gênero e sexualidade. Jean Rollin trouxe lesbianidade gótica em "Le Frisson des Vampires" (1971) e "La Vampire Nue" (1970). Jesús Franco injetou erotismo queer em "Vampyros Lesbos" (1971). Juan López Moctezuma criou um pesadelo sáfico em "Alucarda" (1977). Alan Clarke teceu homoerotismo místico em "Penda’s Fen" (1974). "The Rocky Horror Picture Show" (1975) de Jim Sharman transformou o horror em uma festa transgênero, com Dr. Frank-N-Furter cantando “Don’t Dream It, Be It!”, um hino de liberdade que ecoa como um fenômeno de culto até hoje.


Alucarda(1977), de Juan López Moctezuma


Legado

O cinema queer dos anos 60 e 70 deixou um impacto profundo, influenciando o New Queer Cinema dos anos 90 e cineastas atuais. De Warhol a Matsumoto, de Rollin a Bressane, essas obras foram atos de coragem que pavimentaram o caminho para a visibilidade LGBTQIA+. No Brasil, o Cinema Marginal e filmes como "A Rainha Diaba" inspiraram gerações. Divine, musa de John Waters, resume esse espírito com "FILTHY IS MY LIFE!", um grito de transgressão e diversidade que ecoa até hoje.


Fox and His Friends (1975), de Rainer W. Fassbinder

POSTS RELACIONADOS:

Nenhum comentário:

Postar um comentário