quinta-feira, 1 de maio de 2025

Homem com H (Brasil, 2025)


"Homem com H", de Esmir Filho, é uma cinebiografia vibrante que se joga na trajetória de Ney Matogrosso, um dos maiores ícones da música e da cultura brasileira. Estrelado por Jesuíta Barbosa, o filme não se contenta em narrar fatos: ele pulsa com a energia subversiva e libertária do artista, equilibrando fidelidade histórica com uma estética ousada. Filho, conhecido por Os Famosos e os Duendes da Morte (2009), transforma a vida de Ney em um espetáculo visual e emocional, celebrando sua luta por personalidade em tempos de repressão.

A narrativa abrange desde a infância de Ney em Bela Vista, Mato Grosso do Sul, marcada por conflitos com um pai militar autoritário (Rômulo Braga), até sua consagração como performer revolucionário. O filme destaca momentos-chave, como sua passagem meteórica pelos Secos & Molhados e o início da carreira solo com o icônico show O Homem de Neanderthal (1975).

Jesuíta Barbosa entrega uma atuação magnética. Ele não apenas imita Ney, mas incorpora sua essência: a androginia, o erotismo, a rebeldia. Barbosa, que perdeu 12 quilos para o papel, brilha nas cenas de palco, recriando performances com uma fisicalidade impressionante, dubladas pela voz original de Ney. A química com o elenco, incluindo Jullio Reis como Cazuza, mostrado de maneira corajosa por sinal, e Bruno Montaleone como Marco de Maria, adiciona camadas emocionais aos relacionamentos de Ney, retratados sem pudores, mas com delicadeza.

A direção de Filho é um dos pontos positivos do filme. Ele injeta uma atmosfera onírica, com fotografia de Azul Serra, que transforma o sexo em arte, com closes que exaltam a androginia de Ney e a energia erótica de suas performances e direção de arte de Thales Junqueira, que evoca a selvageria e a sensualidade de Ney. A trilha sonora, com 17 faixas clássicas como “Sangue Latino” e “Homem com H”, é um deleite, reforçando a identidade da produção. E as referências? São um prato cheio, de Bom Trabalho, de Claire Denis a Rita Lee e Keith Harring, tudo é milimetricamente conectado.

O filme não foge dos aspectos mais desafiadores da vida de Ney, como sua homossexualidade assumida em plena ditadura militar, o impacto da epidemia de AIDS e sua resistência a rótulos. Esmir Filho equilibra humor e drama, como na cena em que Ney enfrenta censores nu com ironia, destacando sua postura desafiadora.

"Homem com H" é uma celebração íntima e poderosa de um artista que redefiniu o masculino e desafiou o status quo. Apesar de alguns pesares, o filme já é um marco no gênero de cinebiografias musicais brasileiras. Não é uma simples biopic, com uma direção autoral, atuações impecáveis e um compromisso com a verdade de Ney Matogrosso, é uma obra que emociona e inspira, fazendo jus ao legado de um ícone indomável, uma lenda viva!

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