Linda, a estreia na direção de um longa-metragem, de Mariana Wainstein, utiliza uma premissa muito parecida com o clássico Teorema (1968), de Pasolini. O filme apresenta uma narrativa envolvente sobre uma família abastada aparentemente perfeita e a mulher que chega inadvertidamente expõe as rachaduras em sua fachada.
Linda (Eugenia “China” Suárez) é contratada como empregada doméstica para substituir sua prima, que está se recuperando de uma lesão. A família para a qual ela vai limpar é extremamente rica. É Luisa (Julieta Cardinali), a matriarca da família, quem conhece Linda pela primeira vez. O tempo que passam juntas é agradável e profissional, mas a tensão sexual começa a ficar palpável. O resto da família, o pai Camilo (Rafael Spregelburd), a filha Matilda (Minerva Casero) e o filho Cefe (Felipe Otaño), todos caem em um feitiço semelhante quando Linda olha para eles
A protagonista entra nos interiores brilhantes de uma casa em Buenos Aires como mais do que apenas uma empregada doméstica substituta. Ela é uma força transformadora que imediatamente energiza a dinâmica doméstica. Linda entra no mundo da família rica como um ciclone silencioso, sua presença afeta imediatamente todos os relacionamentos.
Linda provoca reações distintas de cada membro da família, mas todos compartilham uma atração quase hipnotizante por ela. A conexão mais profunda se forma com Luisa, a mãe da família. O relacionamento delas progride da hostilidade inicial para uma compreensão íntima.
O longa tece uma rede sexual, socioeconômica e de poder que emerge com uma crítica matizada do relacionamento entre uma família e a ajuda contratada. O ritmo lento e intencional do filme e os movimentos rítmicos da câmera ajudam a intensificar a ação magnética que Linda emana ao seu redor.
A fotografia de Marcos Hastrup é brilhante, aproveitando bem a variedade de tomadas para destacar os da casa, piscina e jardins, além de detalhar a ação dramática com alguns closes. A cinematografia transforma o filme em uma sinfonia visual de emoções reprimidas e tensão elétrica.
O tema central da narrativa é a dinâmica de poder. Linda não se infiltra simplesmente na casa; ela desmantela meticulosamente sua estrutura hierárquica. Sua indiferença intencional se torna uma arma, interrompendo relacionamentos típicos entre empregador e empregado. Ela transforma o anseio da família em uma arma, tornando-os vulneráveis e dependentes, ao mesmo tempo em que mantém completo distanciamento emocional.
Linda é uma releitura livre de Deolinda Correa, uma famosa história sul-americana de uma mulher que atravessou o deserto com seu bebê em busca do marido. Diz a lenda que ela morreu de fome e sede, mas o bebê sobreviveu porque o peito de Deolinda ainda estava produzindo leite. Enquanto a versão de Linda envolve algum sacrifício porque ela tem que deixar seu filho para trás, o filme reformula a história como uma história de desejo e transformação.
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