“Twinless", de James Sweeney, é uma espécie de romance funerário, um filme sobre perda, identidade e sobre como reconstruir o que nos restou. Roman (Dylan O’Brien) vive marcado pela morte do irmão gêmeo Rocky, figura viva em flashbacks, cuja ausência ainda molda quem ele é. Ao entrar num grupo de apoio para pessoas que perderam seus gêmeos, Roman conhece Dennis (James Sweeney), homem gay cuja própria dor espelha, em formas diferentes, a de Roman. Entre amizade, segredos e desejo de pertencimento, nasce algo inesperado, nem só conforto, nem só conflito, mas uma teia de afetos instáveis.
O enredo de “Twinless" evita o maniqueísmo. Dennis não é “o amigo coitado” nem “o vilão queer”; ele convive com sua excentricidade, suas falhas, sua manipulação e sua necessidade de apego. Roman, por sua vez, alterna entre viver sob a sombra de Rocky e buscar uma vida própria. A presença de Marcie (Aisling Franciosi), colega de Dennis, adiciona outra camada: quando Roman começa a namorá-la, a dinâmica entre os dois homens é sacudida, revelando ciúmes, desejos soterrados e a ambiguidade da amizade íntima. O filme explora como o luto pode se transformar em dependência emocional, e como o desejo pode emergir ali onde menos se espera.
“Twinless” tem momentos de pura beleza e estilo. A fotografia de Greg Cotten capta o vazio, a arquitetura de Portland, o espaço dos apartamentos, o uso de reflexos, de espelhos, de divisões visuais, como a tela dividida que aparece em instantes significativos. Há também cortes de som silenciosos que amplificam a tensão, e a música de Jung Jae-il (sim, o mesmo de “Parasita") ajuda a dar textura emocional: notas suaves, pausas, uma melancolia que parece respirar.
O que torna “Twinless” especialmente interessante é como ele mexe com gêneros de vínculo masculino, de identidade homoafetiva, sexo, desejo e ambivalência entre mensurabilidade emocional e performance pública de masculinidade. Dennis é gay e expressa isso, Rocky era um irmão abertamente gay; Roman carrega essa herança também. Há cenas de nudez parcial, de momentos de desejo explícito, e sexo quente que viralizou na internet. O filme não se envergonha de mostrar os corpos, o toque, a atração, mas nunca abre mão do humor.
“Twinless” é uma obra profunda e incômoda. É um filme que pergunta, mais do que responde, sobre como o passado ainda está presente, sobre como o amor nem sempre alivia, mas também sobre como a amizade pode ser perigosa, bela, dolorosa. James Sweeney entrega não só um retrato de luto, mas uma reflexão sobre identidade, pertencimento e o peso de “ser o que resta” de alguém.
https://pinkmovie.com.br/movies/watch/twinless/997
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