“Superstar”, minissérie de Nacho Vigalondo, reimagina a ascensão de Tamara/Yurena, nascida María del Mar Cuena Seisdedos, com uma explosão de surrealismo, sátira pop e camadas queer. Produzida por Los Javis, a série de seis episódios, cria um universo radiante que explora conflitos entre figuras públicas que definiram a TV espanhola dos anos 2000. Inspirada em Tamara/Yurena, a estrela pop que brilhou com “No cambié” antes de enfrentar controvérsias e um retorno triunfal nos anos 2010, “Superstar” é uma montanha-russa emocional. Com uma estrutura antológica, cada episódio foca em um personagem, de Tamara a sua “gangue de freaks” , mudando de linguagem e estética, o que é o grande acerto da atração.
O primeiro episódio estabelece o tom fantasioso com a infância de Tamara, interpretada pela jovem Sofía Gonzáles como “Tamarita”, a visão eternamente infantil que sua mãe, Margarita Seisdedos (Rocío Ibáñez), tem dela. Ao som de Culture Club, a garota, caracterizada com roupas e trejeitos da futura Tamara rouba a cena, evocando uma nostalgia comovente e surreal. A relação entre Tamara e Margarita, uma mãe navegando os altos e baixos da carreira da filha, transforma-se em um refúgio para mães em crise existencial, mantendo a narrativa emocionalmente ancorada.
Cada episódio é um universo visual próprio, com mudanças radicais de estilo que servem ao propósito de pintar o mundo de Yurena. O segundo episódio, centrado em Leonardo Dantés (Secun de la Rosa), evoca “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde”. O de Loly Álvarez (Natalia de Molina) é lynchiano, mas cheio de cor, enquanto o de Paco Porras (Carlos Areces, de “Os Amantes Passageiros”), um ex fake de Tamara, remete a “De Olhos Bem Fechados”, só que Camp e com fetiches queer. A saga de Tony Genil (Pepón Nieto), com saunas gays e darkrooms, adiciona camadas representativas, enquanto o episódio de Arlequín (Julián Villagrán) e o final, com Marimar, uma Yurena que nunca foi estrela, lembram Tim Burton e Michel Gondry. O surrealismo permeia todos, mas o último episódio costura imagens de arquivo reais, criando um impacto emocional que une ficção e realidade.
O elenco é um luxo! Ingrid García-Jonsson arrasa como Tamara/Yurena, capturando sua extravagância e fragilidade. Areces, como Paco Porras, cuja missão era “silenciar” Yurena, entrega uma performance magnética, misturando humor e caos. Pepón Nieto, como Tony Genil, enriquece com uma perspectiva caricata e com os momentos mais gays da série, em seu episódio próprio, enquanto a participação de atrizes trans como Ángeles Ortega, Samantha Hudson, Alex Saint e Juani Ruiz, marcas de Los Javis, adiciona genuinidade e representatividade, indo além do fanatismo pop.
“Superstar" condensa a vida de Yurena, de sua ascensão sem apoio das grandes gravadoras a seu status de “brinquedo quebrado” da TV, ao lado de Loly, Margarita, Arlequín, Leonardo, Paco e Tony. Cada episódio funciona como um filme fragmentado, unido por um fio condutor que ilumina figuras marginalizadas. Para quem busca fatos, a Netflix oferece o documentário "Eu Ainda Sou Uma Superstar", mas a minissérie é para quem quer uma sobrecarga sensorial fantástica.
Os pontos fracos são poucos. O tom surreal pode desafiar quem espera uma biografia linear, e referências culturais espanholas podem ser nichadas, mas é justamente aqui que a atração ganha força. Apesar de capítulos longos, a série nunca perde o espectador, graças à sua forte linha emocional. “Superstar” é uma celebração enérgica e respeitosa de uma era televisiva selvagem, humanizando ícones pop com humor, fantasia e um toque muito queer.