"Los Domingos Mueren Más Personas", dirigido, escrito e estrelado por Iair Said, é uma tragicomédia argentina que combina humor e melancolia de maneira sutil. A história acompanha David (Iair Said), um homem judeu, gay, na casa dos 30 anos, que retorna de Roma a Buenos Aires após a morte de seu tio. No entanto, o verdadeiro peso da trama está na revelação de que o pai de David está em coma há um ano, e sua mãe, Dora (Rita Cortese), planeja desligar o respirador. Enquanto lida com o fim de um relacionamento amoroso, David parece mais afetado pela perda romântica do que pelos eventos familiares.
A homossexualidade de David, um cara acima do peso, é um aspecto importante, mas não o centro da narrativa, sendo tratada com naturalidade. Ele tenta se reconectar com outros homens após o término, frequentando encontros casuais. No entanto, esses momentos são retratados de forma mais melancólica do que celebratória, refletindo a vulnerabilidade de um homem em crise.
A família de David traz um contraste vibrante à sua apatia. Dora entrega uma atuação intensa, quase teatral, enquanto a irmã Elisa (Juliana Gattas) e a prima Silvia (Antonia Zegers) complementam o elenco com energia e emoção. Essas mulheres lidam com o luto de maneira expressiva, enquanto David permanece reservado, quase alheio às tragédias ao seu redor.
O filme opta por um tom contido, alinhado à personalidade introspectiva de David. Não há grandes explosões emocionais ou diálogos memoráveis; a morte e o luto são tratados com uma certa leveza, quase cotidiana. Essa abordagem reflete a forma como as pessoas enfrentam tragédias na vida real, mas carece de um momento de catarse.
Visualmente, "Los Domingos Mueren Más Personas" adota um estilo naturalista, com uma fotografia que não busca embelezar a realidade. A escolha combina com a figura de David, um homem comum, fora dos padrões estéticos idealizados do cinema. Ainda assim, a simplicidade da estética destaca a humanidade dos personagens, especialmente as fraquezas de David, que sustenta a empatia do espectador.
O longa é uma obra que valoriza a sutileza, capturando a complexidade das emoções humanas sem recorrer a grandes gestos dramáticos. O título, que faz referência à tradição judaica de realizar enterros no domingo quando a morte ocorre no Shabat, é um detalhe simbólico que enriquece a narrativa. A história de David, com sua fragilidade e busca por conexão, cria uma empatia genuína, mesmo que às vezes seja atrapalhada pelo ego do diretor.

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