quinta-feira, 26 de junho de 2025

Betânia (Brasil, 2024)


 "Betânia", de Marcelo Botta, é um drama sensível que acompanha a jornada de Betânia, uma mulher de 65 anos que, após a morte do marido, decide retornar ao pequeno povoado onde nasceu, no sertão nordestino. O filme explora temas como ancestralidade, pertencimento e as transformações sociais e ambientais que impactam comunidades tradicionais. Com uma narrativa contemplativa, Botta constrói um retrato íntimo de uma mulher em busca de reconexão com suas raízes, ao mesmo tempo em que enfrenta os desafios de um mundo em mudança.

A luz mais forte em "Betânia" é a atuação de Diana Mattos, que dá vida à protagonista com uma combinação impressionante de força e fragilidade. Sua interpretação transmite o peso do luto e o processo de redescoberta pessoal, ancorando emocionalmente a narrativa. A fotografia de Beto Martins também merece destaque, capturando a beleza crua do sertão e usando a paisagem como reflexo das lutas internas da protagonista.

Por outro lado, "Betânia" enfrenta problemas de ritmo e estrutura narrativa. Algumas sequências contemplativas, embora esteticamente belas, se prolongam demais, comprometendo a fluidez. Além disso, os personagens secundários poderiam ser mais desenvolvidos, já que suas interações com a protagonista nem sempre têm o impacto merecido.

Embora a trama principal não gire em torno dessa questão, "Betânia" inclui uma representatividade queer de forma sutil e significativa. Uma personagem queer é apresentada, trazendo à tona um conflito familiar que, mesmo explorado brevemente, ressoa com força na comunidade LGBTQIA+. Essa inclusão desafia as normas heteronormativas frequentemente predominantes em contextos rurais e enriquece a discussão do filme sobre identidade e diversidade.

O que o filme também faz bem é abordar questões sociais e ambientais relevantes. A luta da comunidade contra a desertificação e a especulação imobiliária reflete desafios reais enfrentados por muitas regiões do Brasil. A relação de Betânia com a terra e sua determinação em preservar sua herança cultural funcionam como metáforas poderosas para a resistência diante das pressões da modernidade.

"Betânia" é uma obra que, apesar de suas falhas de ritmo, oferece uma reflexão rica sobre identidade, pertencimento e resistência. A sutil inclusão de uma perspectiva queer adiciona profundidade e atualidade à narrativa, enquanto as atuações e a estética visual sustentam seu apelo emocional. Marcelo Botta entrega um filme imperfeito, mas instigante, que convida o espectador a pensar sobre as complexas camadas da transformação pessoal e social.


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