terça-feira, 17 de junho de 2025

ZAGÊRO (Brasil, 2024)


Indicado ao Prêmio Grande Otelo de Cinema Brasileiro, ZAGÊRO, dirigido por Márcio Picoli e Victor Di Marco, é um berro pela luta antimanicomial e pela inclusão plena de pessoas com deficiência em todos os espectros da sociedade. O curta começa com uma narrativa vibrante e surreal, um mosaico visual carregado de simbolismos impactantes, que logo se transforma em um mockumentary centrado em Ian, vivido pelo próprio Di Marco. Rodado em Bagé e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o filme se destaca por sua equipe majoritariamente composta por PCDs, reforçando seu compromisso com a inclusão. Com um discurso audacioso, reflexivo e carregado de fúria, ZAGÊRO evoca a energia contestadora dos filmes de Derek Jarman, mantendo uma profundidade experimental que entrelaça elementos autobiográficos com os desafios cotidianos de viver com deficiência.

A obra desafia a normalidade com uma habilidade única, mesclando diferentes linguagens e narrativas. Um número musical é insano e hit instantâneo. A atuação de Victor Di Marco é intensa, traduzindo a exaustão de enfrentar barreiras diárias, enquanto o filme desconstrói narrativas estereotipadas sobre deficiência, como na poderosa imagem de uma clínica em ruínas, metáfora para o colapso de sistemas de suporte.

Além disso, ZAGÊRO apresenta uma perspectiva inovadora sobre a interseção entre deficiência e identidade queer, equilibrando sarcasmo, deboche e seriedade com um desfecho marcante. É uma obra provocadora, irreverente e criativa, que atinge seu objetivo com impacto. Como sátira, expõe as falhas das instituições psiquiátricas e as barreiras enfrentadas por PCDs, preenchendo uma lacuna significativa no cinema mundial. Sem dúvida, é uma produção poderosa, capaz de catalisar debates profundos e reflexões necessárias.



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