"The Writer", segundo capítulo da trilogia queer de Romas Zabarauskas iniciada com "The Lawyer" (2020) e que será concluída com "The Activist", aprofunda a exploração de relações LGBTQIA+ com uma perspectiva madura e necessária, focando em dois homens na faixa dos 60 anos, Kostas (Bruce Ross) e Dima (Jamie Day), que se reencontram em Nova York após décadas separados. Eles se conheceram no exército soviético nos anos 1980, apaixonaram-se, mas a vida os levou por caminhos distintos: Kostas, um lituano-americano, seguiu para Nova York, enquanto Dima, russo-lituano, ficou na Lituânia pós-independência. O reencontro é o palco para um diálogo intenso sobre política, homofobia e escolhas pessoais, refletindo as cicatrizes de um passado soviético e as tensões do presente. Zabarauskas, um ativista LGBTQIA+ declarado, usa o filme para dar voz a uma geração que enfrentou a repressão em múltiplas frentes, trazendo uma representatividade rara no cinema.
A narrativa, quase toda ambientada em um único espaço — o apartamento de Kostas —, funciona como uma peça de teatro, com ecos de My Dinner with Andre (1981), de Louis Malle, uma das inspirações do diretor. A troca entre os protagonistas é densa, alternando entre debates intelectuais e confissões emocionais, com Kostas adotando um tom mais acadêmico sobre mudanças estruturais e Dima enfatizando escolhas individuais. A atuação de Bruce Ross e Jamie Day é o coração do filme: Ross traz uma melancolia contida a Kostas, enquanto Day injeta uma energia passional a Dima.
Visualmente, "The Writer" impressiona com sua estética cuidadosa, uma marca de Zabarauskas desde "The Lawyer". Embora grande parte do filme se passe em Nova York, as cenas externas e os flashbacks que remetem à Lituânia foram filmados em Vilnius, a capital lituana, que já serviu de pano de fundo para outros trabalhos do diretor. A cidade, com sua arquitetura que mistura o pós-soviético e o contemporâneo, aparece em planos abertos que capturam uma melancolia nostálgica, contrastando com o intimismo do apartamento. A fotografia de Narvydas Naujalis, colaborador recorrente de Zabarauskas, usa uma paleta de cores suaves, com tons de azul e dourado, que dá ao filme uma aura onírica.
O filme também se destaca por sua abordagem política, um traço característico do cinema de Zabarauskas. A discussão entre Kostas e Dima toca em temas como o colonialismo intelectual, a homofobia estrutural (a homossexualidade só foi descriminalizada na Lituânia em 1993) e as diferenças entre capitalismo e comunismo, tudo isso entremeado por reflexões sobre o impacto do regime soviético em suas identidades queer.
"The Writer" é, acima de tudo, uma celebração da resiliência queer em um mundo que nem sempre acolhe. A escolha de focar em homens maduros, cujas vidas foram moldadas por décadas de luta e transformação, é um acerto, oferecendo uma perspectiva que raramente vemos no cinema mainstream. A narrativa também reflete a própria jornada de Zabarauskas, que, como um cineasta lituano abertamente gay, enfrentou resistência em um país onde os direitos LGBTQIA+ ainda são limitados.
O ritmo mais pausado e teatral de "The Writer" pode lembrar peças como Dois Perdidos Numa Noite Suja, de Plínio Marcos, com sua ênfase em diálogos crus e intimistas. No entanto, a universalidade do tema — o amor que resiste ao tempo e às adversidades — faz do filme uma experiência acessível e tocante. O longa é um lembrete de que o passado molda quem somos, mas o presente nos dá a chance de reescrever nossas histórias.