É 31 de dezembro de 1982. O biólogo Suzano(Johnny Massaro), está de volta à Vitória, na casa da irmã Maura(Clara Choveaux) e do sobrinho Muriel(Alex Bonini), após uma temporada em Paris. O personagem já começa a apresentar sintomas, de algo que ele sabe que contraiu, e se prepara para a proximidade da morte.
Os Primeiros Soldados, de Rodrigo de Oliveira, descentraliza a ação do eixo Rio-SP, e nos leva para o Espírito Santo, para tratar de um tema até então pouco explorado no cinema nacional: o início da epidemia da AIDS, e faz isso de forma nunca antes vista.
Em seu primeiro grande papel no cinema, Renata Carvalho se destaca como Rose, ela surge em cena dizendo que ‘travesti não é bagunça’. Ela, que sonha em ser a Blanche, em Um Bonde Chamado Desejo, brilha em diversos momentos, especialmente quando apresenta e performa uma inusitada canção na Festa de Ano Novo.
“Festa de entendido não se dispensa”, diz Joca(Higor Campagnaro), o ex de Suzano, resgatando as gírias do passado, e que quer reatar, mas não sabe que algo pode estar acontecendo. Por outro lado Humberto(Vitor Camilo), um videomaker, está acompanhando os passos de Rose, enquanto demonstra um interesse por Jean.
Mas oito meses após a noite de Réveillon, nada mais será o mesmo. Suzano informa a família que voltará para Paris, Rose e Humberto desaparecem, e o que vinha sendo documentado como um show, acaba se tornando o registro dos sintomas e da evolução dos primeiros impactados pelo HIV, no sudeste brasileiro.
A narrativa, não completamente linear, nos permite acessar esses momentos de felicidade, que são acompanhados pela trilha original de Giovani Cidreira junto à clássicos de Secos e Molhados, 14 Bis, Fernando Mendes e Gonzaguinha, ao convívio do grupo LGBTQIA+ tentando se adaptar e descobrir mais sobre essa sua nova condição.
O poder da atuação de Johnny Massaro e Renata Carvalho potencializado pela estética de vídeos-amadores, que são captados por Humberto, um personagem secundário, mas igualmente importante, dá vida a esse roteiro maravilhoso, sobre pessoas com seus corações partidos e que precisam aprender algo fascinante sobre a barbárie, antes de partir.
“Eles tentam nos matar desde que o mundo é mundo e o que a gente faz é sobreviver, sendo linda”, diz Rose, num dos momentos mais inspirados do roteiro de Oliveira. Os Primeiros Soldados, é claro que não proporciona um final feliz, mas sim uma reflexão sobre aqueles que iniciaram e perderam essa guerra invisível, para que outros pudessem triunfar no futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário