segunda-feira, 29 de junho de 2020

Revelação(Disclosure, EUA, 2020)


O documentário da Netflix Revelação é um importante registro de como a transexualidade é abordada no cinema desde o seu princípio até os dias de hoje, apresentando uma interessante cronologia.

No princípio, já no início dos anos 1900 a figura do crosdresser, o homem vestido de mulher, já era trazida à telona sempre em forma de alívio cômico e assim seguiu por muitos anos a frente. A representação de pessoas trans no cinema era tão controversa como o polêmico blackface.

Com depoimentos de transexuais como Laverne Cox, Lili Wachocsky, Candis Cayne, MJ Rodriguez e Chaz Bono o filme coloca em questão a identificação na tela dos transgêneros que por muitos anos foram tratados como cômicos, marginais e prostituídos.

Uma representação mais fiel só veio nos anos 1990 com Traídos pelo Desejo filme que gerou muita discussão pela repulsa causada no homem heterossexual ao descobrir que sua paixão tinha um pênis. A lista de filmes mostrados é enorme e inclui Tootsie, O Silêncio dos Inocentes, Uma mulher fantástica, O beijo da mulher aranha e Minha vida em cor de rosa.

O trans homem tão pouco representado é abordado quando se abre um debate sobre Meninos não choram, uma obra prima trágica que abre a discussão sobre trans masculinos. Chaz Bono também aparece falando do filme onde mostra seu processo de transição. Também é discutido a representação de transexuais por atores Cis como em A garota dinamarquesa e Clube de Compras Dallas.

A cena ballroom e as famílias queer também são abordados quando o filme discute Paris is Burning, obra que é um ícone para a comunidade.

Chegando nos dias de hoje percebemos que houve uma grande evolução recente dessas personagens que demoraram uma eternidade para ganhar voz, mas que hoje em séries como Pose são colocadas em evidência. Ainda há muito o que avançar mas é bom saber que esse trabalho já está sendo feito.

Carol(EUA, 2015)


Os filmes de Todd Haynes costumam nos transportar para outro tempo. Assim como Longe do Paraíso, ele volta para o universo das mulheres abastadas, dos anos 1950, para desenvolver um melodrama, com um romântico cenário natalino.


O filme acompanha Carol Aird (Cate Blanchett), cujo casamento está em processo de implosão quando ela conhece a charmosa vendedora Therese (Rooney Mara) em uma loja de departamentos. Ambas sentem uma conexão que se constrói lentamente quando se encontram para almoçar e, em seguida, Carol convida Therese para passar o dia com ela em sua casa de campo.


À medida que elas lentamente avançam em direção ao amor e a uma realização que ambas estavam procurando,o marido de Carol, Harge (Kyle Chandler), começa a perceber o que está acontecendo. Ele sabe que Carol já teve pelo menos um namoro anterior com uma mulher e por isso não fica muito chocado, mas ele começa a questionar a aptidão de Carol para ser mãe e pede à Justiça a guarda total de seu filho, com sua esposa nem mesmo permitida visitas.


O longa é baseado no romance "The Piece of Salt", de Patricia Highsmith, sobre um caso de amor lésbico, no qual a autora também processa suas próprias experiências. Acima de tudo, a profissão da personagem Therese, de cuja perspectiva o filme é contado, foi alterada. Em vez de cenógrafo, ela é uma fotógrafa, como a própria Highsmith na época.

Todd Haynes lida com tudo com destreza e, como já mostrou antes, com uma verdadeira empatia e interesse pelas mulheres e retratando-as em seus próprios termos, e não apenas como elas são vistas pelos homens. Ele também ajuda a garantir que esta seja uma representação lindamente intrincada da década de 1950.

Exemplar de um cinema de enorme sofisticação, tanto estética quanto narrativamente, Carol não só nos deixa seduzidos, mas também envolvidos e comovidos: precisamente em virtude da tensão entre as suas partes, de seu controle constante.




quarta-feira, 17 de junho de 2020

Legendary é prato cheio para fãs de Pose e Paris is Burning


Quando o universo dos ballrooms foi apresentado ao mundo através do documentário Paris is Burning e mais recentemente na série Pose todos puderam conhecer a realidade daquelas noites loucas de Nova York, onde famílias que eram casas de acolhimento disputavam por troféus em diversas categorias.

Agora, longe dos anos 80 e 90 quando a cena teve seu auge o reality show da HBO traz para a atualidade os bailes e o movimento onde diferentes casas competem em categorias como carão, corpo, cabelo e em desfiles que são coreografados com muito vogue para causar.

Apresentado pelo mestre de cerimônias Dashaun Wesley o programa têm como jurados o estilista Law Roach, a superstar dos bailes Leiomy Maldonado, a cantora Megan the Stallion e a atriz Jameela Jamil, que funciona como uma espécie de co-apresentadora. Toda semana têm convidados como a babadeira trans Dominique Jackson, a Elektra de Pose.

O empoderamento da comunidade queer é representado pelas casas de acolhimento House of Lanvin, Escada, Gorgeous Gucci, Ninja, Ebony, West, Balmain e St. Laurent. Cada uma delas é formada por membros da comunidade LGBTQ, que trazem à tona identidade de gênero e busca por aceitação.

O destaque é para o glamour dos desfiles quase sempre muito bem elaborados e que são um desbunde visual. Semanalmente uma casa é consagrada como a suprema e uma eliminada. Ao final, depois de 9 bailes a casa vencedora leva o título de Legendária e 100 mil doletas.

terça-feira, 16 de junho de 2020

XXY(Argentina, 2007)


Dirigido e escrito pela argentina Lucía Puenzo o drama XXY aborda a questão da intersexualidade o que ainda hoje é conhecido como hermafroditismo. O tema tão delicado e poucas vezes abordados no cinema já é revelado no título que trata dos cromossomos masculino e feminino.

Conhecemos Alex, uma adolescente de 15 anos cuja sexualidade é um mistério e seus pais, o zeloso progenitor é interpretado pelo excelente Ricardo Darín. Após a chegada de uma família em sua casa no balneário de Maldonado, no Uruguai, a trama começa a se desenvolver.

Apesar da relação bem resolvida dos pais com Alex, a chegada daquela família irá mudar todas as direções. O filho, um adolescente tímido se interessa por Alex e o pai, um cirurgião coloca em debate a ideia de uma operação.

Vencedor do Prêmio da Semana da Crítica em Cannes, o longa têm planos delicados e cheios de simbologia. Prevalece o que Vitor Ramil chamaria de a estética do frio, com uma fotografia com tons azulados e belas paisagens do Uruguai. É neste ambiente que se desenvolve uma história sobre descoberta e livre arbítrio.

A cena da primeira transa de Alex é reveladora e escancara com o clima de mistério mantido até então sobre o gênero da protagonista. O filme abre possibilidades para um debate sobre feminino, masculino, transgênero e não binário.

XXY é sem dúvida um filme corajoso, uma obra delicada e cercada por melancolia. Assisti-lo é uma oportunidade para refletir sobre identidade, gênero e quem realmente somos.

RuPaul's Drag Race Temporada 12


A 12a temporada do celebrado reality RuPaul's Drag Race chegou ao fim e em meio a pandemia foi um alento acompanhar mais essa edição da competição de drag queens. Apesar da temporada ter apresentado mais do mesmo trouxe muita diversão, queens carismáticas e looks babadeiros.

Assim como a 6a temporada a estreia foi dividida em duas, na primeira parte entraram Brita, Jackie Cox, Nicky Doll, Widow Von Du, Heide'n Closet, Gigi Goode e a excêntrica Crystal Methid. As 7 primeiras rainhas chegaram e no mini desafio tiveram que organizar um desfile como o da sétima temporada e no maxi criar um rap para nada menos que Nick Minaj, que divou na bancada de jurados. 

Após o primeiro episódio foi anunciado que a participante Sherry Pie foi desclassificada por assédio sexual, sua participação porém foi ao ar editada ao máximo mas a queen esbanjou talento. 

É hora do segundo grupo de drags entrar na Work Room: Jaida Essence Hall, Rock M Sakura, Sherry Pie, Dhalia Sin, Jan e Aiden Zane. As queens tiveram desafios parecidos com o do primeiro episódio, mas dessa vez sem o impacto da estreia 1.

Aos poucos as drags mostraram personalidade ou falta dela e cativaram o público que sempre elege as fan favorits. Os episódios seguiram como nas temporadas anteriores apostando no humor como nas paródias Gay's Anatomy e World's Worst.

O que senti falta nessa temporada foi de um lipsync realmente icônico, meu preferido foi o embate entre Jan e Widow Von Du. Algumas eliminações foram injustas como a saída precoce de Sakura quando Aiden Zane apresentou um desempenho claramente pior.

Um dos grandes momentos da temporada foi o rusical que homenageou Madonna, Gigi Goode e Jan acabaram roubando a cena, sendo a primeira a vencedora deste e vários outros desafios como o Snatch Game, o jogo das imitações onde parodiou uma robô celebridade. Outro ponto alto foi a participação de Whoppy Golbderg como jurada, uma das melhores sem dúvida que já passaram pela bancada do programa.

Foi uma temporada regular que cumpriu o objetivo de entreter. Teve momentos bons e outros nem tanto. Na final chegaram Jaida Essence Hall, Gigi Goode e Crystal Methid e que por causa da pandemia teve que ser adaptada e cada queen apresentou dublagens feitas de casa e pela primeira vez RuPaul apareceu desmontada numa final. Jaida acabou se saindo melhor nos lipsyncs e levou a coroa neste ano. Vida longa a rainha!