quarta-feira, 22 de julho de 2020

Hombres de Piel Dura(Argentina, 2019)


O controverso diretor José Celestino Campusano viaja até os pampas argentinos para mostrar padres pedófilos. Ariel, um adolescente sempre se relacionou com um padre como se fosse uma coisa normal, desenvolveu assim sua homossexualidade e se preparou para encarar outros relacionamentos, enquanto o padre vive o dilema da vocação e perversão.

Hombres de piel dura impressiona por mostrar atores profissionais em situações polêmicas. Ariel se envolve com um dos empregados da fazenda de seu pai e as cenas de sexo chamam a atenção pela crueza e pelo ator parecer realmente muito jovem.

Após ser rejeitado pelo padre que obviamente procura por garotos mais novos, Ariel embarca em um mundo de descoberta, preconceito e experiências com diversos homens. Apesar de toda a sexualidade aflorada ainda mantém um ar inocente que permite continuar em relações abusivas.

A relação com o pai castrador e machista também é destacada na falta de aceitação do filho, enquanto isso a irmã mais velha compreende perfeitamente a situação de Ariel.

O longa vale a pena por tratar de um tema atual com aspereza e inteligência, há momentos poéticos e crus, mas ainda assim parece que deixa um pouco a desejar por não se aprofundar muito nos temas e deixar tudo muito subentendido.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

WIG(EUA, 2019)


Nova York parece mesmo o berço da comunidade queer, um lugar onde as pessoas LGBTQIA+ encontram acolhimento para ser quem quiserem. Assim como a cena ballroom  é mostrada no documentário Paris is Burning em Wig podemos ver a ascensão das drag queens na Big Apple, desde a underground década de 1980 até os dias de hoje onde essas excêntricas personagens encontraram seu lugar no mainstream.

O filme do diretor Chris Morkasel é apresentado através do ponto de vista da lendária drag queen Lady Bunny, criadora do festival Wigstock que, desde 1984 ao longo de 20 anos, celebrou a cultura LGBTQIA+ e levou a expressão drag à luz do dia.

RuPaul aparece em diversos momentos sendo a figura bagunçada dos anos 1980 em um rico arquivo de imagens ou em momentos mais recentes de seu celebrado reality show RuPaul's Drag Race, que após 12 temporadas segue sendo uma plataforma para lançar drags ao estrelato mundial.

Queens do passado como Linda Simpson e Tabbo! dão seu depoimento falando de como uma arte que antes era fadada ao submundo encontrou reconhecimento e representatividade em todo o mundo.

Wigstock passou pelos piores dias da epidemia da AIDS, enfrentou um governo conservador mas não sobreviveu ao 11 de setembro de 2001. Uma edição especial foi realizada por Lady Bunny em 2018 e marcou a celebração do amor com performances de artistas como Bianca del Rio, Alaska Thunderfuck, Amanda Lepore e Neil Patrick Harris caracterizado como a trans Hedwig.

O documentário também mostra o performer Kevin Aviance, icônico na noite nova yorkina e que fala sobre um ataque homofóbico que sofreu.

Wig é um interessante retrato sobre a cena noturna LGBTQIA+ em Nova York e que dá luz às verdadeiras lendas do Drag, que abriram caminho para o frissom que essas artistas geram hoje em dia.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Minha vida com Liberace(Behind the Candelabra, EUA, 2013)


Minha vida com Liberace narra os anos de relacionamento entre o famoso pianista e Scott Thornson. O longa traz um irreconhecível Michael Douglas no papel do excêntrico artista e Matt Damon em sua melhor e mais versátil forma.

O diretor Steven Sodebergh foge de seu estilo, marcado por filmes como Erin Brocovitch e Doze homens e um segredo, para mergulhar em um romance homossexual cercado de brilho, banhos de espuma, sexo, champanhe e muito luxo.

Inacreditavelmente o filme não chegou aos cinemas indo direto para a TV e levando o Emmy nas principais categorias, incluindo melhor filme para a TV.

Baseado no livro de Scott Thornson o longa é narrado pelo ponto de vista dele. Seu relacionamento com Liberace que no início era quase paternal acabou se tornando uma relação abusiva com muitas brigas, drogas e cirurgias plásticas.

Com o excesso de autoridade sobre Scott, bancando mansões, joias e outros luxos, Liberace é quem dá as cartas da relação. Scott precisa se adaptar a nova vida e ceder aos caprichos e excentricidades do pianista até que a relação chega ao fim acabando em escândalos e um processo judicial.

O grande trunfo do filme são seus protagonistas completamente a vontade na pele de dois homens gays. Douglas não se limita apenas a fazer um Liberace afetado, mas sim um personagem com diversas camadas.

Como tudo que não começa bem também não termina bem. O final de Liberace é conhecido e é recordado por um Michael Douglas quase irreconhecível em estado terminal. Minha vida com Liberace pode não ser a obra prima de Sodebergh, mas é, com certeza, um filme bem acima da média.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Ligue Djá! O lendário Walter Mercado(Mucho, mucho amor, 2020)


Capas deslumbrantes, jóias, botox e muito laquê, o documentário Ligue Djá! O lendário Walter Mercado revela a carreira, intimidade e segredos do famoso astrólogo. O longa dirigido por Cristina Constantine e Kareen Tabsh documenta os últimos meses de vida do vidente da estrelas.

Nascido em Porto Rico, Walter entrou para o mundo das artes na adolescência, sempre rompendo barreiras de gênero e caminhando a frente de seu tempo, virou ator de telenovela e em seguida começou a fazer aparições como astrólogo em programas de TV falando sobre signos e enviando mensagens positivas às pessoas. Surgiu o fenômeno!

Narrado por ele mesmo, o filme mostra as diversas facetas do personagem Walter Mercado focando no seu jeito excêntrico, kitsh e único. Mercado nunca se assumiu gay e sua sexualidade é tratada no filme com certo mistério. Porém ele sempre foi uma referência para a comunidade queer por ser uma figura andrógena que dialogava com o masculino e o feminino.

Cada vez fazendo mais sucesso, Mercado rodou o mundo e teve programas em diversos canais de televisão se tornando famoso por seu estilo e pelos bordões mucho amor e Ligue Djá! esse especialmente no Brasil através da famosa linha de 0900.

O documentário aborda ainda um triste episódio na vida de Walter, quando o empresário Bill Bakuda em quem confiava cegamente o fez assinar um documento onde lhe passava todos os direitos sobre seu nome e imagem. Começou assim uma batalha judicial que durou anos e muitos anos de desgaste emocional e físico para Walter Mercado. O ícone desapareceu da TV e quando finalmente ganhou na justiça teve um infarto. Bakuda fala no filme e é simplesmente nojento quando se descobre a verdade sobre ele.

Os últimos dias de Walter Mercado são marcados no filme e junto o reconhecimento pelos 50 anos de carreira em uma exposição em Miami. O documentário é uma bela oportunidade para quem não conhece conhecer e para quem conhece se deleitar com essa lindíssima homenagem que reforça o nome de Walter Mercado como ícone da cultura POP.