domingo, 13 de julho de 2025

As Núpcias de Drácula (Brasil, 2018)

Matheus Marchetti subverte Bram Stoker com "As Núpcias de Drácula", seu longa de estreia, uma releitura audaciosa e experimental do clássico, publicado em 1897. Ambientada em uma paisagem exuberante da América do Sul, longe das sombras góticas da Transilvânia, o filme transporta o Conde Drácula (Daniel Simioni) para um cenário tropical, onde ele caça jovens amantes, tanto homens quanto mulheres, em uma busca que transcende o simples desejo por sangue. A proposta de Marchetti é reimaginar o mito vampiresco com uma narrativa que explora sexualidade, poder e identidade.

Visualmente, o filme é deslumbrante, trazendo as marcas visuais características do diretor, como o uso de neon, simbolismos e piscinas, combinadas a uma estética artesanal.  Filmado em locações como a Praia do Camburizinho, em São Paulo, "As Núpcias de Drácula" utiliza a beleza natural como pano de fundo para a escuridão do vampiro. A fotografia, de João Paulo Belentani, cria uma atmosfera onírica, sedutora e ao mesmo tempo perturbadora, captando a dualidade entre luz e trevas.

Rodado totalmente de forma independente após o curta  “Bosque dos Sonâmbulos”, o filme contou com equipamentos emprestados pela FAAP, onde Matheus se graduou em 2017. A maneira como o filme foi feito, coletivamente, onde atores também exerceram funções técnicas, sem receber por isso, reflete a paixão nesse que é o trabalho financeiramente mais enxuto de Marchetti.

Evocando o universo de Jean Rollin e Jess Franco, “As Núpcias de Drácula” explora temas como sexualidade e poder de maneira inovadora. Aqui, Drácula não é apenas um predador, mas um ser que constrói um harém de vítimas e amantes, entre eles Jonathan (Henrique Natálio) e Mina (Isabella Melo). O homoerotismo, especialmente na relação entre o Conde e Jonathan, moderniza o mito do vampiro e o torna relevante para discussões atuais sobre identidade e desejo, além de traçar um paralelo com o HIV, o que adiciona uma leitura social.

A abordagem criativa de Marchetti oferece mais beleza do que sangue, mas quando o vermelho aparece, ele reverencia os clássicos da Hammer e seus ídolos góticos.

O olhar pessoal de Marchetti, traz uma interpretação única, com muita música erudita, outra de suas marcas, refletindo sua visão sobre o mito do vampiro.

“As Núpcias de Drácula” amplia os horizontes do terror nacional e consagra Matheus Marchetti como um talento promissor no cinema queer. Ao trasladar o Conde Drácula para os trópicos com ousadia, o filme reimagina a lenda do vampiro sob uma ótica fresca e profundamente pessoal. Com sua estética hipnótica e temas contemporâneos, a obra solidifica a reputação de Marchetti, que já prepara uma nova releitura de “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, prometendo continuar sua trajetória inovadora e única no cinema.

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