Ripley, a adaptação episódica, do icônico romance de Patricia Highsmith, de 1955, não é só uma obra de arte pelas referências de Picasso à Caravaggio, ou pela arquitetura italiana e ainda sua maravilhosa fotografia em PB. A atração escrita e dirigida pelo showrunner Steve Zaillian(indicado ao Oscar pelo roteiro de O Irlandês), apresenta multicamadas dos personagens encabeçada por uma interpretação tour de force de Andrew Scott.
Scott, que vem do hype de Todos Nós Desconhecidos(2023), tem aqui a oportunidade de mostrar seu imenso potencial como ator. Seu Ripley é cheio de nuances, com atenção em cada detalhe, o que apesar de toda ambiguidade o dota de humanidade.
Em 1960, Alain Delon deu vida ao personagem em O Sol Como Testemunha , de René Clément; em 1999, Matt Damon reprisou o papel em O Talentoso Ripley, de Anthony Minghella. Ripley tem muito em comum com esses filmes, já que todos eles praticamente compartilham a mesma premissa e história geral, mas Zaillian consegue fazer algo novo na série da Netflix.
Thomas Ripley é um zero à esquerda, um vigarista na Nova York, dos anos 1960. Mas, ele é contratado por um milionário para ir à Itália e convencer seu filho errante a voltar para casa. Depois de aceitar o trabalho, Tom entra em um mundo complexo de engano, fraude e assassinato.
Quando ele chega à pitoresca cidade costeira de Atrani, Tom fica instantaneamente apaixonado pela área e pelo estilo de vida luxuoso de Dickie(Johnny Flynn). Ele ganha a confiança do milionário e é convidado para ficar em sua opulenta vila. À medida que se aproxima de seu novo amigo, Ripley se vê com ciúmes da namorada de Dickie, Marge Sherwood(Dakota Fanning), e se torna hostil com amigos como, Freddie Miles(Eliot Sumner).
Além disso, outro destaque da minissérie são as locações. Nápoles e Roma tornam-se dois elementos essenciais. Eles são integrados à história e adicionam ainda mais sensação de decadência e melancolia à atmosfera e à imagem. Tudo é embalado por divas italianas como Mina e Nilla Pizzi.
A homossexualidade aqui é ainda mais latente, do que no filme de 1999. Vemos a ambiguidade sexual do protagonista o tempo todo, além disso, a atração tem tempo suficiente para aprofundar mais a questão, um tabu na época, e a estender para outros personagens e situações.
Dakota Fanning, em um papel que foi de Gwineth Paltrow, se destaca em sua interpretação de Marge Sherwood. Quando Tom se joga pela primeira vez na vida de Dickie, ela imediatamente sente que há algo de errado nele. Maurizio Lombardi, como o Inspetor, garante alguns momentos de humor involuntário.
Como o personagem titular, Tom Ripley é magnânimo em um momento e rancoroso no outro. Oscilando entre mesquinho e pensativo, a performance de Scott permanece dentro de cada uma das peles que ele usa para fazer o público se apaixonar. E volta e meia somos traídos. Arrepiante, romântica e tensa, a série guarda um desfecho brilhante, totalmente à sua altura.
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