quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A Herança (Brasil, 2024)

Ao receber a notícia da morte de sua mãe, Thomas(Diego Montez) retorna ao Brasil com seu namorado, Beni (Yohan Levy), e descobre ser o único herdeiro de uma casa no interior que pertenceu a uma avó que nunca chegou a conhecer.

Curioso para se reconectar com a história de sua família, eles visitam a casa, onde Thomas é recebido por duas tias, vividas por Cristina Pereira e Analú Prestes, que o tratam como um filho há muito perdido. Enquanto Thomas fica cada vez mais encantado com o lugar, Beni começa a desconfiar que algo maligno se esconde debaixo da fachada de uma vida tranquila no campo.


“Podemos assar um carneiro”, diz uma das tias, na chegada dos dois, dando o tom e pistas de que algo macabro está por vir e elas podem até ser um coven de bruxas. Porém, quanto mais nebulosa fica a história, apenas Bene parece ver que há algo errado e começa a investigar um símbolo que vê com frequência.

O diretor João Cândido Zacharias não subverte o gênero, pelo contrário ele usa de clichês clássicos, para construir uma história que celebra os elementos de casa mal assombrada, enriquecida pela direção de arte, de Elsa Romero, com cada detalhe do casarão no lugar certo e a fotografia de Guilherme Tostes, remetendo aos clássicos filmes da Hammer.


Mesmo que o filme não seja tão reflexivo, ele foca em temas como pertencimento e imigração. Thomas, vindo da Alemanha, agora se sente acolhido em algo que chama de lar. Por mais que na superfícies os vermes estejam corroendo, ele se recusa a ver. Por mais que haja indícios de que o mal se aproxima, ele quer se sentir amado.

A edição de som de Bernardo Uzedo, cria uma crescente de suspense e terror, desde o início, até cenas de sexo que são belamente filmadas, e finalmente quando o filme embarca num terror mais gráfico, com toques de body horror, por porões e criptas.

O fato do longa ser falado grande parte em inglês garante a ele uma universalidade. Tanto no desenvolvimento do tema, como em questões de distribuição. Quem é Thom afinal? Quem são essas senhoras simpáticas que se dizem suas tias? São respostas que só teremos após acompanhar essa jornada sobrenatural.

“O filme é uma conjunção de muitas coisas que fizeram eu me apaixonar pelas narrativas audiovisuais quando criança – dos filmes de terror às novelas da TV. É também um filme muito pessoal, já que lida com questões familiares e os traumas de infância que ajudam a construir os adultos em que nos tornamos. Eu perdi minha mãe durante o processo de desenvolvimento do roteiro, assim como o personagem do Thomas, e a experiência de lidar diretamente com os monstros escondidos da minha família foi essencial para a criação dessa história.”  declara o diretor João Cândido Zacharias.




terça-feira, 19 de novembro de 2024

The Greatest (EUA, 2024)

É a década de 1960, e o típico homem de negócios luta para esconder um segredo profundo no longa-metragem de Ryan Sarno, The Greatest . Para todos os efeitos, Jay McKlien (Isaac Nevrla) está no caminho rápido para realizar o sonho americano. Ele é filho do dono de um negócio de sucesso. Seu pai recompensa seu trabalho duro e perspicácia nos negócios. Ele se casa com sua linda esposa, Beverly (Isabela Jacobsen), que lhe dá um menino saudável.

Durante as férias com sua família, Jay é servido pelo belo Ricky (Sergio Acevedo). O que começa como uma amizade rapidamente se transforma em algo mais intenso. Quando a família retorna para casa, Jay e Ricky começam a se ver mais, se encontrando secretamente nos bares gays locais. Por melhor que Jay seja em esconder o relacionamento entre Beverly e o mundo, as rachaduras começam a se formar.


O relacionamento de Jay com Ricky se desenvolve e os dois passam muitas noites juntos em um bar gay enquanto Jay supostamente trabalha até tarde. Embora os dois homens sejam de lados um pouco diferentes dos trilhos, eles se conectam bem e compartilham uma forte química física. Ricky está muito mais confortável em sua pele queer do que Jay, que ainda está muito no armário. As coisas chegam ao auge uma noite quando o bar é invadido pela polícia e os dois são presos.


A sensação de “Eu já vi isso antes” acaba nesse momento. Quando o filme entra no segundo ato, quando Jay é pego e enviado para um tratamento, é aí que a história decola e faz a diferença.  Nos anos 60, o mundo era proibido e ainda estava em um estado em que ser gay era algo que tinha que ser "curado".


The Greatest  é intransigente em sua verdade e, ainda assim, nunca desnecessariamente descontrolado. Sarno nos mergulha na cultura dos anos 60 com uma trilha sonora familiar, mas maravilhosa, lentes ligeiramente abafadas e naturais de Kareem Atallah que praticamente nos tornam companheiros de viagem.


Isaac Nevrla é  impressionante como Jay, um jovem carismático que possui força e vulnerabilidade. Seu relacionamento com Beverly parece honesto, mas de alguma forma estranho. Isabela Jacobsen captura essa falta de certeza de forma bastante poderosa .


Geoff Burt e David Arturo Sanchez são as versões mais velhas desses homens.. Burt está simplesmente extraordinário aqui, uma vida inteira de lições acompanhadas de amor, perda, supressão e arrependimento desgastados por todo o seu ser. 


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Feeling Randy (EUA, 2024)

O coming of age, de Dean Lent,  Feeling Randy, baseado em suas próprias experiências é uma aventura curta, divertida e doce. Reid Miller, de Joe Bell (2021), oferece uma atuação maravilhosa como Randy, um adolescente da East Bay, dos anos 1970 que luta contra sua sexualidade enquanto seus amigos heterossexuais falam incessantemente sobre mulheres.

Os amigos pegam um carro emprestado e viajam para um bordel em Nevada, onde cada um se gaba de quão "quente" seu sexo foi, flashbacks de cada encontro contam uma história diferente. Para Randy, a viagem é uma revelação, pois ele percebe que não consegue ter uma ereção a menos que fantasie com outro homem.


Lent, que é mais conhecido por seu trabalho como diretor de fotografia, faz um belo filme recriando a East Bay do final dos anos 1970. Um pôster de Farrah Fawcett adorna a parede do quarto de Randy, e ele assiste "Space: 1999", um programa popular de ficção científica da época, com sua mãe. Calças boca de sino e cabelos longos estão na moda. É a própria história de Lent, e ele a conta em um filme que é evocativo e muito adorável.


Embora essa história seja tecnicamente uma comédia, Lent também explora o lado sombrio da homofobia familiar. O pai de Randy (Jonathan Silverman) é verbalmente abusivo quando o pega passando batom em um momento emo angustiado. 


A jornada de Randy é repleta de desafios. E embora sua história comece com uma busca despreocupada por diversão, ela logo toma um rumo mais profundo enquanto ele silenciosamente luta com sua identidade em uma década de turbulência, marcada por mudanças culturais, quando questões de autoaceitação e descoberta pessoal raramente eram discutidas. 


Com toques de John Hughes e Porkys, o filme força o protagonista a confrontar verdades há muito reprimidas sobre si mesmo, Randy acaba levando a uma revelação profunda e inesperada que remodela não apenas sua vida, mas a amizade entre os rapazes.


domingo, 17 de novembro de 2024

Malu (Brasil, 2024)



"Malu" é um drama familiar íntimo sobre  três gerações de mulheres no Brasil dos anos 1990. Escrito e dirigido por Pedro Freire em sua estreia, o filme gira em torno de Malu, uma atriz impetuosa de 50 anos que luta para realizar seus sonhos artísticos. Embora excêntrica e volátil, Malu abre sua casa dilapidada no Rio de Janeiro para sua mãe idosa conservadora Lili (Juliana Carneiro da Cunha) e sua filha adulta Joana (Carol Duarte), recentemente vinda do exterior.

Os dias de gloria de Malu podem estar no passado, mas ela ainda tem grandes sonhos de transformar o prédio em ruínas em um teatro comunitário. No momento, no entanto, é o lar dela e de sua mãe cuja personalidade igualmente forte a coloca em oposição quase constante com sua filha. Morando ao lado delas está o amigo negro e queer de Malu, Tibira (Átila Bee), que habita uma das dependências ainda mais precárias do conjunto habitacional. Lili está preocupada com o hábito de fumar maconha de sua filha, um medo que é ainda mais alimentado pelo racismo e homofobia da mulher mais velha em relação a Tibira.


O que se desenrola é um retrato de amor com traumas latentes e choques ideológicos que estouram em explosões emocionais entre Malu, Lili e Joana, cujas diferenças abrangem eras políticas e ambições artísticas. No entanto, uma afeição inegável também as une novamente, incapazes de se separar apesar da mágoa mútua. 


Malu está sempre no fio da navalha de suas emoções. Seus humores mudam rapidamente entre otimismo alegre e ressentimento amargo, tanto em relação ao mundo quanto ao seu próprio destino na vida. No entanto, mesmo em seus momentos mais cruéis, Novaes instala na protagonista uma humanidade ferida.



Num sutil comentário político, a própria Malu possui a maior profundidade na compreensão de como sua concepção de arte foi afetada pelos anos tumultuados da ditadura militar. Em suas memórias ela relembra Tônia e Plínio Marcos.


As acusações voam rápido enquanto Lili culpa as lutas artísticas de Malu pelo uso de drogas, enquanto Malu se ressente do racismo e da homofobia de sua mãe em relação aos colegas artistas de Malu.


Em uma performance fenomenal, Yara de Novaes faz de Malu uma mulher imprevisível e viva. Ela habita completamente as ânsias pela vida e a excentricidade da protagonista de Pedro Freire, criando uma caracterização magnética que ganha empatia, mesmo nas tendências mais autodestrutivas.


Inspirado por sua própria mãe e seus relacionamentos tumultuados, Freire atiça as chamas desse drama familiar ao manter sua câmera próxima às performances fascinantes do trio. Com empatia e autenticidade, Malu coloca questões ponderadas sobre o ciclo de ressentimento passado entre gerações de mães e filhas.



quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O Intruso (The Visitor, Reino Unido, 2024)

Com O Intruso, o sempre controverso, porém autêntico Bruce LaBruce oferece um olhar cyberpunk e explícito para o clássico de Pasolini, Teorema (1968).  Conhecido por seu estilo ousado e subversivo, LaBruce explora a chegada de um misterioso refugiado à vida de uma família rica em Londres. O visitante, cuja origem e propósito são incertos, abala os alicerces da família ao envolver-se em relações sexuais explícitas com cada um dos seus membros, desencadeando uma série de revelações e caos.

O Intruso abre com uma imagem impressionante: um homem negro nu emergindo de uma mala nas margens do Rio Tâmisa, em Londres. Ele é um dos vários homens idênticos que misteriosamente aparecem na praia dentro da bagagem, como refugiados chegando a uma nova terra. 


Bishop Black, que interpreta o  intruso, apresenta uma atuação intrigante, personificando uma figura enigmática e sedutora que desencadeia um turbilhão de emoções e desejos reprimidos. Também conhecemos o Pai (Macklin Kowal), a Mãe (Amy Kingsmill), a Filha (Ray Filar), o Filho (Kurtis Lincoln), a Empregada (Luca Federici), o sem-teto ( John Foley ) e a voz de Adrian Bracker.   A narrativa visual surpreendente é dividida em segmentos (Chegada, A  Família, Sedução, A Empregada, A Mãe, O Pai...) e letreiros que saltam na tela, marcas registradas do diretor, são uma constante ao longo do filme.



O Intruso usa essas relações para explorar temas de desejo, repressão, imigração e quebra de normas sociais e familiares. O  filme investiga a provocação e a exploração dos limites da decência e da moralidade dentro de uma estrutura tradicional. LaBruce usa esta narrativa para desafiar as normas sociais e expor as hipocrisias subjacentes numa sociedade abastada.

O canadense sempre se declarou portador de mensagens altamente políticas e representativas do mundo queer, recorrendo muitas vezes à provocação. Cenas de sexo explícito são propostas como fonte de excitação consciente de uma mensagem que vai além da representação comum, na fotografia evocativa de Jack Hamilton, que às vezes remete a Gaspar Noé.


Como Teorema, ou até Sitcom (1998) de François Ozon, O Intruso principalmente critica a pretensão da classe alta. Antes da chegada do Visitante, a família desempenha o papel de aristocratas respeitáveis ​​que residem em uma casa de vidro, autocontida e superior. Mas ele penetra essa ilusão. Sua presença expõe o vazio sob suas maneiras, quebrando tabus de incesto e coprofagia. 


Aguçando o ataque aos sentidos, LaBruce utiliza luzes estroboscópicas, cores saturadas e uma trilha sonora de sintetizadores pulsantes. Ele filma algumas cenas de sexo em luz negra, dando aos corpos um brilho sobrenatural. A trilha sonora pulsa com uma batida hipnótica, como se estivesse levando o espectador a um estado de transe para a libertação. 


LUFE STEFEN EXIBE DOCUMENTÁRIO NO FESTIVAL MIXBRASIL

Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil, novo documentário do cineasta, roteirista, escritor e jornalista Lufe Steffen, aborda a história e o impacto de revistas, jornais, fanzines e outros meios jornalísticos feitos por e para a comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil.

A ideia do documentário surgiu em 2020, durante a pandemia, quando Lufe começou a estudar a história da imprensa LGBTQIAPN+, investigação que rendeu um vídeo para o canal do cineasta no YouTube, publicado em 2021. 


O documentário, com duração de 110 minutos, apresenta um panorama da imprensa LGBTQIAPN+, do mimeógrafo nos anos 1960 à internet dos dias atuais, e é também um retrato da sociedade brasileira e da evolução dos direitos conquistados por esta comunidade.

 

O longa conta com depoimentos de jornalistas, sociólogos, antropólogos, historiadores, pesquisadores, escritores e ativistas, incluindo figuras ilustres da comunidade e do movimento LGBTQIAPN+: a atriz e apresentadora Nany People, os escritores João Silvério Trevisan, James Green e Renan Quinalha, os jornalistas André Fischer e Celso Curi, a editora Ana Fadigas, a compositora Cilmara Bedaque, entre outros.


Através dessas falas, o doc resgata as pioneiras publicações abertamente homossexuais nos anos 1960, 70 e 80. Eram produções artesanais e distribuídas de mão em mão, em círculos restritos do país, como O Snob, criado pelo pernambucano Agildo Guimarães no Rio de Janeiro e publicado entre 1963 e 1969, e o zine ChanacomChana, dos coletivos paulistas Lésbico-Feminista e Ação Lésbica-Feminista – do qual faziam parte Rosely Roth e Miriam Martinho. Miriam relata o episódio, em agosto de 1983, que ficou conhecido como o Stonewall brasileiro, quando as ativistas lésbicas, apoiadas por feministas e figuras políticas como o então deputado Eduardo Suplicy, invadiram o icônico point lésbico Ferro’s Bar para ler um manifesto contra a censura do bar, que não permitia a venda do zine no local.



O filme aborda ainda publicações clássicas como a revista Sui Generis, dos anos 1990, e a G Magazine, até chegar na era da internet. Desde o pioneirismo do site Mix Brasil em suas diversas fases, como o BBS, “primitivo” serviço de vídeos na rede, e depois a revista Junior, até o surgimento de diversos blogs, sites, portais, canais no YouTube, programas de TV e veículos da grande mídia, que passaram a abrir espaço para o tema LGBTQIAPN+, com colunas e editorias especificas, já nos anos 2000 e 2010.


O próprio cineasta Lufe Steffen tem sua trajetória profissional como jornalista ligada à história da imprensa LGBT+ no Brasil. Lufe trabalhou por 7 anos no primeiro e maior portal latino-americano direcionado para este público, o Mix Brasil, incluindo a época em que se usava a sigla GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes). Depois, foi jornalista do site e revista impressa A Capa, também focada no universo LGBT+, e chegou a colaborar como free-lancer para a G Magazine. 


Uma Breve História da Imprensa LGBT+ no Brasil vem, portanto, colocar mais uma peça nesse mosaico da cultura LGBTQIAPN+ brasileira.



quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Emilia Pérez (França/Bélgica, 2024)

Jacques Audiard é conhecido por dar saltos criativos . O aclamado diretor francês transita por gêneros com facilidade, de thrillers policiais corajosos a dramas emocionais. "Emilia Pérez" mira mais alto do que nunca, criando um musical impactante ambientado no mundo perigoso dos carteis de drogas mexicanos. No centro está uma história de identidade que desafia as expectativas.

Rita (Zoe Saldaña) teve muito sucesso como advogada, ela representou vários criminosos no tribunal. O talento da mexicana não passou despercebido ao chefe do cartel Manitas del Monte (Karla Sofía Gascón), por isso ela  tem uma missão particularmente delicada.  Ele quer acabar com sua vida criminosa e começar tudo de novo. Ele quer poder levar uma vida como mulher,  algo com que sonha há muito tempo.

Rita não só tem de encontrar o médico certo que possa realizar o procedimento, mas  ela também deve encontrar um novo lar para a esposa de del Monte, Jessi (Selena Gomez) e seus dois filhos, que não têm permissão para descobrir a nova identidade de Manitas.

À medida que Emilia se estabelece, Rita continua envolvida em sua história em evolução. Emilia surpreende a todos ao usar sua riqueza e perfil para lançar uma ONG, liderada com equilíbrio e graça por Rita, que auxilia as famílias das vítimas do narcotráfico. Onde antes ela causava muita dor, Emília agora alivia o sofrimento.


Nesse intermédio, sua esposa, convencida de ser viúva, se abre para uma nova vida e após conhecer Gustavo ( Édgar Ramirez ) pretende se casar novamente, enquanto cria os filhos e conhece Emilia Pérez que se apresenta como prima de Manitas.

"Emilia Pérez "usa a música, composta por Camille e Clement Ducol, para elevar sua narrativa de uma forma totalmente original. As canções misturam perfeitamente o diálogo para mover cenas de maneiras vívidas, mas orgânicas. Elas revelam percepções dos personagens e acrescentam expressão que meras palavras não poderiam.

Em sua essência, "Emilia Pérez" é uma história de transformação. A música permite que os personagens transcendam limitações e voem alto por ambientes obscuramente iluminados pela fotografia de Paul Guilhaume. Ela traz a mensagem abrangente da história de empoderamento por meio da autenticidade.


Karla Sofía Gascón desempenha com perfeição o duplo papel e os momentos em que a natureza ameaçadora de Manitas pode ser vislumbrada por trás do olhar de Emília. Zoe Saldaña e Selena Gomez também brilham, ancorando as falas mais fundamentadas.


domingo, 10 de novembro de 2024

Meu Eu do Futuro (My Old Ass, Canadá/EUA, 2024)

Elliott (Maisy Stella) mora na bela Ontário, em uma fazenda de cranberry. Ela se formou no ensino médio e partirá para Toronto, em 22 dias, para estudar. Em seu aniversário de dezoito anos, ela decide tomar cogumelos alucinógenos com suas amigas Ro (Kerrice Brooks) e Ruthie (Maddie Ziegler). Durante a viagem, Elliott é confrontada por uma versão dela mesma, de 39 anos, interpretada por Aubrey Plaza. 

A “velha bunda” de Elliott não quer revelar muito sobre o que virá, mas dá duas tarefas ao seu eu, de dezoito anos; Passe mais tempo com sua família, o que ela realmente faz se reconectando com mãe e irmãos, e nunca namore alguém chamado Chad. Este último é um pedido especial, já que Elliott é lésbica. Elliott não dá muita importância a essa conversa. Afinal, foi tudo alucinação.


Menos de um dia depois, ela encontra o ajudante de verão de seu pai e o nome dele é Chad (Percy Hynes White). De repente, Elliott tem motivos para duvidar da trip.. Afinal, era real? Afinal, ela deveria levar o conselho a sério? Chad parece tão perfeito, então o que ele poderia ter feito no futuro para que Elliott fosse avisado sobre ele e por que ela de repente sentiu sentimentos por um menino? Sua viagem a deixa com mais perguntas do que respostas. Felizmente, ela mesma, de 39 anos, colocou seu número no telefone de Elliott para que elas pudessem continuar se comunicando.


Escrito e dirigido por Megan Park, “Meu Eu do Futuro” teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance de 2024. O tom do filme é muito mais leve do que “The Fallout”, a estreia de Park na direção de um longa-metragem sobre adolescentes lidando com as consequências de um tiroteio em massa em sua escola. 


Aubrey Plaza, embora tenha destaque no material promocional, desempenha apenas um pequeno, porém fundamental, papel. Com seu humor seco, a atriz tem a oportunidade aqui e ali de mostrar um pouco mais de profundidade da Elliot adulta.


‘Meu Eu do Futuro’ entende de seu elemento queer. A diretora captura como os jovens falam sobre o tema e que o tabu não é mais o que era. Elliott e Ro têm uma conversa hilária e alegre sobre o repentino interesse de Elliott por um garoto. Isso significa apenas que, ao contrário do que ela pensava, ela não é lésbica, é bi.

Além das performances, Park infunde nostalgia no filme por meio de uma cinematografia lírica de Kristen Correll. A estética dourada e nebulosa e as paisagens florestais exuberantes quase agem como outro personagem. O cenário remoto da comunidade do lago enfatiza a separação dessa bolha adolescente antes que as realidades adultas se instalem.


Embora pudesse haver mais cenas entre a Elliott mais jovem e a Elliott mais velha, o filme faz questão de mostrar que esta história não quer depender muito de um truque de viagem no tempo. E apesar do título do filme ser "Meu Eu do Futuro", o foco da história permanece consistentemente da perspectiva da Elliott do presente.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

32º Festival MixBrasil

O 32ª edição do  Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade,  maior evento cultural LGBT+ da América Latina, abre na próxima quarta (13/11) e vai até dia 24/11 (presencial e online). Com o tema "É na Luz que a gente se encontra", a programação traz 93 filmes de 32 países e de 12 estados, experiências XR vindas da França, Finlândia, Polônia, Chile, EUA, Portugal e Brasil, exposição, música, literatura, games, festas, performances, workshops, Crescendo com a Diversidade, destinado para o público infantil, e o tradicional Show do Gongo, que este ano traz  a edição especial Gongada Drag. 

O evento irá homenagear com o prêmio Ícone Mix o canadense Bruce LaBruce, um dos mais instigantes cineastas contemporâneos da cena independente, que ganhará também a exposição em sua homenagem, "Bruce LaBruce: sem censura", no MIS e apresentará seu novo filme "O Intruso". 


Entre os destaques de cinema estão os  internacionais: Maré Alta, produção norte-americana estrelada pelo brasileiro Marco Pigossi que faz sua première em SP, Tudo Vai Ficar Bem, vencedor do Prêmio Teddy de Melhor Ficção em Berlim,  a, seleção oficial de Toronto,  Sebastian, seleção oficial de Sundance, e os nacionais O Melhor Amigo de Allan Deberton, que faz sua première nacional dentro do MixBrasil, Baby de Marcelo Caetano, Salão de Baile - This is Ballroom,  "Avenida Beira-Mar", vencedor do Festival do Rio, que irá abrir o Mix no dia 13/11. 

 

A programação também traz Emi Ofe, nova obra  da artista multimídia  brasileira Igi Lola Ayedun, toda gerada por inteligência artificial, a comemoração dos 30 anos de Mercado Mundo Mix, shows com Totô de Babalong, banda Cão,  e Edy Star que dividirá o palco com a incomparável Maria Alcina,  e também fará a pré-estreia do seu filme "Antes que me Esqueçam, Meu Nome  é Edy Star",  e muito mais.

 

O  Festival MixBrasil acontece no Cinesesc, Centro Cultural São Paulo, Spcine Olido, MIS – Museu da Imagem e do Som, Teatro Sérgio Cardoso, IMS–Instituto Moreira Salles, Biblioteca Mário de Andrade, Ocupação Artemisia/naUapi, Galeria Vermelho e Galeria Piege. O evento também estará online nas plataformas do Itaú Cultural Play, Spcine Play e Sesc Digital.


Tudo sobre o Festival em:
mixbrasil.org.br



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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

In the Summers (EUA, 2024)

Em seu filme de estreia In the Summers, a diretora Alessandra Lacorazza oferece um olhar íntimo sobre os complexos laços da paternidade. Estruturado em quatro capítulos ao longo de uma década, o filme mapeia o frágil relacionamento entre o pai Vicente(o rapper Rresidente)  e suas duas meninas, Violeta e Eva. Vemos as alegrias e tensões de seus reencontros de verão no Novo México, enquanto a possibilidade juvenil dá lugar ao ressentimento sobre as falhas do pai.

No capítulo de abertura, somos apresentados ao pai devotado Vicente, esperando ansiosamente suas filhas Violeta e Eva no aeroporto local do Novo México. Já faz um tempo que ele não vê as meninas, agora estudantes do ensino fundamental cheias de curiosidade.  A charmosa casa latina, herdada da avó das meninas, garante um charme único e reafirma as raízes dessa família.


Mas, na segunda reunião, alguns anos depois, surgem pequenas fraturas nessa visão infantil. Vicente parece distraído, lutando para lembrar detalhes básicos sobre a vida das filhas. Vislumbres de seu alcoolismo e explosões de temperamento explicam sua cautela. Ainda buscando conexão, a pequena Eva suporta os comentários insensíveis de seu pai, enquanto a desafiadora Violeta encontra consolo na amiga da família Carmen, cuja autoconfiança a inspira a abraçar sua própria identidade queer.

As coisas pioram ainda mais no terceiro capítulo, com Violeta não fazendo a viagem. No quarto capítulo , tanto Eva (Sasha Calle) quanto Violeta (Lio Mehiel, de Mutt), agora tendo transicionado, encontraram algum senso de paz nos limites que têm com seu pai, já que ele está criando outra filha, esperançosamente mudando a trajetória de sua vida. 


Nada sobre In the Summers é descomplicado. Vicente é um pai ruim, mas não a versão estereotipada. Ele não bate nelas ou abusa delas fisicamente; ele não nega a homossexualidade de Violeta, e ele realmente parece tentar ser o melhor pai que pode ser. Mas ele também é um cara machista que não sabe como expressar seus sentimentos.


O longa consegue capturar o sentimento de anseio por conexão que pode ser sentido entre pais afastados e seus filhos, ao mesmo tempo em que reconhece que algumas fraturas não podem ser curadas por nenhuma férias de verão. Existem machucados que nem a água da piscina podem lavar.





terça-feira, 5 de novembro de 2024

Eat the Night (França, 2024)

Apolline (Lila Gueneau) e seu irmão Pablo (Théo Cholbi) ficam sozinhos a maior parte do tempo. O pai viaja muito, por isso eles cuidam um do outro. Os dois compartilham a paixão pelo videogame online, o Darknoon, que jogam com devoção e frequência. Um dia, porém, o fim de Darknoon é anunciado: o jogo será colocado offline no solstício de inverno.

Pablo parece estar cada vez menos interessado em Apolline e no jogo desde que conheceu o traficante Night (Erwan Kepoa Falé). Os dois passam muito tempo juntos, eles próprios fabricam tablets e os vendem. Eles têm problemas com uma gangue inimiga porque vendem drogas em seu território. Um tempo incerto começa com um resultado incerto para Apolline, Pablo e Night. 


O romance queer apaixonado de Pablo e Night introduz camadas adicionais. Apesar de retratar vividamente os aspectos mundanos  de seu relacionamento, o filme mostra seu amor em meio à turbulência, não apenas como objetos de desejo. Suas identidades e laços amorosos persistem apesar da oposição externa.


Os diretores Caroline Poggi e Jonathan Vinel exploram temas pesados ​​de vício, sobrevivência e fuga de um mundo moderno sem esperança. Seu filme estreou na prestigiada Quinzena dos Cineastas de Cannes. Eat the Night atrai o público imaginativamente entre uma recriação perfeita do imersivo Darknoon e a realidade sombria dos personagens, criando uma sensação hipnótica de dois mundos colidindo.


Darknoon ganha vida por meio de sequências de animação impressionantes misturadas perfeitamente com ação ao vivo. Testemunhamos os avatares de Pablo e Apolline matando feras e navegando no reino digital e seus conceitos abolidos de tempo, espaço e gravidade. Os diretores conseguem atrair os espectadores imaginativamente entre mundos online e offline. 


A pitoresca cidade costeira de Le Havre serve como um cenário encantador, com seus trechos litorâneos e residências descombinadas criando um palco de sonho. Atrás das câmeras, o diretor de fotografia Raphaël Vandenbussche traz uma textura etérea aos procedimentos com tons azuis nebulosos. Os cineastas entrelaçam magistralmente as jornadas de Pablo, Apolline e Night entre a realidade e seu reino digital.


Poggi e Vinel encenam o coming of age com habilidades de observação ao nível dos olhos que transformam os três protagonistas em carne e osso.. E o thriller sobre drogas mergulha em uma espiral de violência sem se importar com as perdas, cujas reviravoltas brutais devem ser processadas.



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

The Groomsmen: Second Chances (EUA, 2024)

The Groomsmen: Second Chances, da rede de TV Hallmark, é o segundo filme da trilogia Groomsmen , de Ron Oliver, sobre três melhores amigos de longa data. Cada filme conta suas histórias individuais enquanto eles perseguem a pessoa dos seus sonhos com o apoio de seus melhores amigos.


Em Second Chances, o impulsivo Danny (Jonathan Bennett, o ator preferido do canal) segue seu amigo e empresário Zack (Alexander Lincoln, de Ao Seu Lado) até a Grécia para ajudá-lo a planejar o casamento com um advogado, mas enquanto eles trabalham juntos no planejamento, Danny não consegue mais esconder que está apaixonado por Zack. 


O primeiro filme desta trilogia foi The Groomsmen: First Look, oferecia uma história de amor heterossexual. The Groomsmen: Second Chances entrega o romance para Danny, que tem nutrido sentimentos por seu amigo e empresário Zack. Mas Zack não tem a mínima ideia. Ele está planejando seu casamento, mas seu noivo está sempre ausente. É neste ponto que Danny percebe que quer contar a Zack como se sente.


Após a vinícola onde o casamento seria realizado cancelar, Zack e Danny correm por toda a Grécia procurando um novo local, bufês, tudo, e em um ponto, os dois têm um momento terno que os deixa com uma percepção compartilhada de que existe uma faísca entre eles. Quando Danny traz isso à tona para Zack no dia seguinte, Zack explica defensivamente que ele vai se casar e nada realmente aconteceu.


Como Zack, Alexander Lincoln contrasta com o Danny engraçado e excêntrico de Jonathan Bennett. Embora ele deva ser todo profissional, ele consegue dar camadas ao personagem para que ele não seja apenas um empresário de uma nota só. Ele interpreta o papel com empatia e sinceridade.


Aos poucos a Hallmark vai acertando o tom em seus filmes queer. Second Chances pode ser um pouco previsível, mas apresenta o primeiro casamento gay do canal e há uma fórmula vencedora com os três protagonistas, da trilogia, e sua natural química um com o outro. 


A Vilã das Nove (Brasil, 2024)

Odete Roitman. Branca Letícia de Barros Motta. Laurinha Albuquerque Figueroa. Carminha. Nazaré Tedesco. Bia Falcão. As vilãs d horário nobre permeiam o imaginário brasileiro, como aquelas personagens que amamos odiar.

O filme segue Roberta (Karine Teles), uma mulher que precisa enfrentar fantasmas do passado quando sua história pessoal é revelada para o mundo. Vivendo a melhor fase da sua vida, ela percebe que a trama da nova novela das nove é baseada na sua própria história. Roberta deixou seu marido Bento (Otto Jr) e a filha Débora (Alice Wegmann) para trás em busca de sua felicidade. 


Ao se dar conta de que teve sua história roubada, Roberta tenta a qualquer custo descobrir quem está por trás do plano de desmarcara-la,eis que é a filha abandonada, que sofre com traumas dolorosos causados pela ausência da mãe.


O diretor Teodoro Poppovic dá o tom de comédia satírica para narrar um melodrama, e depois um melodrama dentro de outro. O filme homenageia ao mesmo tempo que critica a telenovela, como produto, que dita moda, comportamento e até molda personalidades.


A metalinguagem se dá através da novela exibida  dentro do filme. Ela é tão intensa que é quase mexicana. Com o comando de Débora, a atração está sendo escrita por Modesto (Antônio Pitanga), cuja personagem principal é a vilã interpretada por Paloma (Camila Márdia, de Que Horas Ela Volta).


O filme foca no folhetim, mas lança o questionamento, até que ponto nossas escolhas nos tornam heróis ou mocinhos da vida real. É uma decisão, que no final cabe ao público, já que A Vilã das Nove, ao contrário de muitos melodramas, deixa margem para interpretações.