domingo, 17 de novembro de 2024

Malu (Brasil, 2024)



"Malu" é um drama familiar íntimo sobre  três gerações de mulheres no Brasil dos anos 1990. Escrito e dirigido por Pedro Freire em sua estreia, o filme gira em torno de Malu, uma atriz impetuosa de 50 anos que luta para realizar seus sonhos artísticos. Embora excêntrica e volátil, Malu abre sua casa dilapidada no Rio de Janeiro para sua mãe idosa conservadora Lili (Juliana Carneiro da Cunha) e sua filha adulta Joana (Carol Duarte), recentemente vinda do exterior.

Os dias de gloria de Malu podem estar no passado, mas ela ainda tem grandes sonhos de transformar o prédio em ruínas em um teatro comunitário. No momento, no entanto, é o lar dela e de sua mãe cuja personalidade igualmente forte a coloca em oposição quase constante com sua filha. Morando ao lado delas está o amigo negro e queer de Malu, Tibira (Átila Bee), que habita uma das dependências ainda mais precárias do conjunto habitacional. Lili está preocupada com o hábito de fumar maconha de sua filha, um medo que é ainda mais alimentado pelo racismo e homofobia da mulher mais velha em relação a Tibira.


O que se desenrola é um retrato de amor com traumas latentes e choques ideológicos que estouram em explosões emocionais entre Malu, Lili e Joana, cujas diferenças abrangem eras políticas e ambições artísticas. No entanto, uma afeição inegável também as une novamente, incapazes de se separar apesar da mágoa mútua. 


Malu está sempre no fio da navalha de suas emoções. Seus humores mudam rapidamente entre otimismo alegre e ressentimento amargo, tanto em relação ao mundo quanto ao seu próprio destino na vida. No entanto, mesmo em seus momentos mais cruéis, Novaes instala na protagonista uma humanidade ferida.



Num sutil comentário político, a própria Malu possui a maior profundidade na compreensão de como sua concepção de arte foi afetada pelos anos tumultuados da ditadura militar. Em suas memórias ela relembra Tônia e Plínio Marcos.


As acusações voam rápido enquanto Lili culpa as lutas artísticas de Malu pelo uso de drogas, enquanto Malu se ressente do racismo e da homofobia de sua mãe em relação aos colegas artistas de Malu.


Em uma performance fenomenal, Yara de Novaes faz de Malu uma mulher imprevisível e viva. Ela habita completamente as ânsias pela vida e a excentricidade da protagonista de Pedro Freire, criando uma caracterização magnética que ganha empatia, mesmo nas tendências mais autodestrutivas.


Inspirado por sua própria mãe e seus relacionamentos tumultuados, Freire atiça as chamas desse drama familiar ao manter sua câmera próxima às performances fascinantes do trio. Com empatia e autenticidade, Malu coloca questões ponderadas sobre o ciclo de ressentimento passado entre gerações de mães e filhas.



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