O Intruso abre com uma imagem impressionante: um homem negro nu emergindo de uma mala nas margens do Rio Tâmisa, em Londres. Ele é um dos vários homens idênticos que misteriosamente aparecem na praia dentro da bagagem, como refugiados chegando a uma nova terra.
Bishop Black, que interpreta o intruso, apresenta uma atuação intrigante, personificando uma figura enigmática e sedutora que desencadeia um turbilhão de emoções e desejos reprimidos. Também conhecemos o Pai (Macklin Kowal), a Mãe (Amy Kingsmill), a Filha (Ray Filar), o Filho (Kurtis Lincoln), a Empregada (Luca Federici), o sem-teto ( John Foley ) e a voz de Adrian Bracker. A narrativa visual surpreendente é dividida em segmentos (Chegada, A Família, Sedução, A Empregada, A Mãe, O Pai...) e letreiros que saltam na tela, marcas registradas do diretor, são uma constante ao longo do filme.
O Intruso usa essas relações para explorar temas de desejo, repressão, imigração e quebra de normas sociais e familiares. O filme investiga a provocação e a exploração dos limites da decência e da moralidade dentro de uma estrutura tradicional. LaBruce usa esta narrativa para desafiar as normas sociais e expor as hipocrisias subjacentes numa sociedade abastada.
O canadense sempre se declarou portador de mensagens altamente políticas e representativas do mundo queer, recorrendo muitas vezes à provocação. Cenas de sexo explícito são propostas como fonte de excitação consciente de uma mensagem que vai além da representação comum, na fotografia evocativa de Jack Hamilton, que às vezes remete a Gaspar Noé.
Como Teorema, ou até Sitcom (1998) de François Ozon, O Intruso principalmente critica a pretensão da classe alta. Antes da chegada do Visitante, a família desempenha o papel de aristocratas respeitáveis que residem em uma casa de vidro, autocontida e superior. Mas ele penetra essa ilusão. Sua presença expõe o vazio sob suas maneiras, quebrando tabus de incesto e coprofagia.
Aguçando o ataque aos sentidos, LaBruce utiliza luzes estroboscópicas, cores saturadas e uma trilha sonora de sintetizadores pulsantes. Ele filma algumas cenas de sexo em luz negra, dando aos corpos um brilho sobrenatural. A trilha sonora pulsa com uma batida hipnótica, como se estivesse levando o espectador a um estado de transe para a libertação.
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