quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O Intruso (The Visitor, Reino Unido, 2024)

Com O Intruso, o sempre controverso, porém autêntico Bruce LaBruce oferece um olhar cyberpunk e explícito para o clássico de Pasolini, Teorema (1968).  Conhecido por seu estilo ousado e subversivo, LaBruce explora a chegada de um misterioso refugiado à vida de uma família rica em Londres. O visitante, cuja origem e propósito são incertos, abala os alicerces da família ao envolver-se em relações sexuais explícitas com cada um dos seus membros, desencadeando uma série de revelações e caos.

O Intruso abre com uma imagem impressionante: um homem negro nu emergindo de uma mala nas margens do Rio Tâmisa, em Londres. Ele é um dos vários homens idênticos que misteriosamente aparecem na praia dentro da bagagem, como refugiados chegando a uma nova terra. 


Bishop Black, que interpreta o  intruso, apresenta uma atuação intrigante, personificando uma figura enigmática e sedutora que desencadeia um turbilhão de emoções e desejos reprimidos. Também conhecemos o Pai (Macklin Kowal), a Mãe (Amy Kingsmill), a Filha (Ray Filar), o Filho (Kurtis Lincoln), a Empregada (Luca Federici), o sem-teto ( John Foley ) e a voz de Adrian Bracker.   A narrativa visual surpreendente é dividida em segmentos (Chegada, A  Família, Sedução, A Empregada, A Mãe, O Pai...) e letreiros que saltam na tela, marcas registradas do diretor, são uma constante ao longo do filme.



O Intruso usa essas relações para explorar temas de desejo, repressão, imigração e quebra de normas sociais e familiares. O  filme investiga a provocação e a exploração dos limites da decência e da moralidade dentro de uma estrutura tradicional. LaBruce usa esta narrativa para desafiar as normas sociais e expor as hipocrisias subjacentes numa sociedade abastada.

O canadense sempre se declarou portador de mensagens altamente políticas e representativas do mundo queer, recorrendo muitas vezes à provocação. Cenas de sexo explícito são propostas como fonte de excitação consciente de uma mensagem que vai além da representação comum, na fotografia evocativa de Jack Hamilton, que às vezes remete a Gaspar Noé.


Como Teorema, ou até Sitcom (1998) de François Ozon, O Intruso principalmente critica a pretensão da classe alta. Antes da chegada do Visitante, a família desempenha o papel de aristocratas respeitáveis ​​que residem em uma casa de vidro, autocontida e superior. Mas ele penetra essa ilusão. Sua presença expõe o vazio sob suas maneiras, quebrando tabus de incesto e coprofagia. 


Aguçando o ataque aos sentidos, LaBruce utiliza luzes estroboscópicas, cores saturadas e uma trilha sonora de sintetizadores pulsantes. Ele filma algumas cenas de sexo em luz negra, dando aos corpos um brilho sobrenatural. A trilha sonora pulsa com uma batida hipnótica, como se estivesse levando o espectador a um estado de transe para a libertação. 


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