No clássico do cinema italiano, Teorema(1968), de Pier Paolo Pasolini, a vida de uma família burguesa é transformada após a chegada de um estranho sedutor. Pois em Sitcom: Nossa linda família, do então iniciante François Ozon, a mesma analogia é feita, porém com um rato, em um cenário que em muito lembra as comédias de situação norte-americanas.
A comédia de humor negro é sarcasticamente filmada com o visual ágil de um programa de televisão e um tom amargo que acaba envenenando seu humor. Flertando com o surrealismo e o realismo fantástico, o longa faz uma voraz sátira à classe média.
Sitcom começa de forma bastante brutal com o som de tiros e gritos em uma casa suburbana ao som de Parabéns pra Você. O pai(François Marthouret) evidentemente não gostou da festa surpresa que a família preparou.
Em seguida, o filme volta a tempos presumivelmente mais felizes, quando a mãe (Evelyne Dandry) se preocupava com a arrumação da casa, a terapia e o filho, Nicholas (Adrien De Van), e a filha, Sophie (Marina De Van), pareciam crianças bem-educadas.
Dois novos membros da casa, um rato de estimação e uma empregada insinuante chamada Maria (Lucia Sanchez), causam alguns problemas iniciais divertidos. Uma noite, Maria chega para jantar em um vestido de gala e acompanhada por Abdu (Jules-Emmanuel Eyoum Deido), seu marido negro.
Nesta mesma noite, Nicholas anuncia abruptamente que é gay e sai para seu quarto. Abdu se oferece para ter uma conversa, mas logo fica claro que a ideia não é o que os pais têm em mente. O quarto de Nicholas torna-se o lar de um desfile de tipos estranhos fazendo sabe-se lá o quê, com legumes fálicos.
Então Sophie tem um encontro erótico com o rato, pula pela janela, se mutila e se torna uma dominatrix paraplégica mal-humorada, que usa o namorado David(Stéphane Rideau) para satisfazer seus desejos obscuros.
Sarcástico como os filmes de Buñuel que criticavam a classe média, Sitcom é extremamente eficiente ao colocar o dedo na ferida da sociedade, tratando da forma mais lúdica, televisiva e absurda temas tabus como incesto e suicídio.
Sempre que leio seus textos fico com vontade de ver o filme
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