quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Greta(Brasil, 2019)


Existem filmes que exaltam o talento de grandes atores, Greta é um desses. No longa de estreia de Armando Praça, Marco Nanini brilha do início ao fim como um enfermeiro homossexual na faixa dos 70 anos. 

O roteiro é levemente inspirado no conto dos anos 1970 "Greta Garbo, quem diria acabou no Irajá", obra que mostrava a figura gay de forma caricata. Armando Praça porém foi para outro caminho e criou um relato delicado sobre a homossexualidade fora dos padrões jovens de academia e loja de grife.

"Me chama de Greta Garbo" esse é o desejo de Pedro que vive os dramas da terceira idade chegando enquanto tenta ajudar sua única amiga, a transexual Daniela a cuidar de sua saúde. Esse aliás talvez seja um dos poucos deslizes do filme já que a trans é interpretada por uma atriz cis Denise Weinberg, que defende por sinal muito bem o seu papel.

Com um clima claustrofóbico e referências ao cinema do alemão Rainer Fassbender e do espanhol Pedro Almodóvar, Greta aborda a relação entre Pedro e um assassino a quem ajudou a fugir do hospital. É nesse amor bandido que Pedro entra numa jornada de autoconhecimento e reflexões sobre a solidão e o desejo. Marco Nanini se desnuda completamente em uma performance visceral com nudez, sexo em saunas e muito brilhantismo.

Ambientada em Fortaleza e grande destaque do 29o Cine Ceará o filme é uma obra belíssima cujo momento mais nordestino é uma linda performance burlesca de Daniela para o sucesso Bate Coração. Cenas com transformistas cantando num palco são lugar comum no cinema queer, mas essa com certeza possui uma identidade forte.

Pulsando liberdade Greta é uma obra que não deverá agradar a todo o tipo de público, porém deveria ser visto como muito mais que um filme LGBTQ+ já que é uma obra sobre o ser humano e suas expressões. O longa é um presente para o público que junto a um senhor, uma trans e um bandido é posto em reflexão durante o tempo todo de projeção até o seu impressionante desfecho.

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