quarta-feira, 16 de julho de 2025

Cazuza: Boas Novas (Brasil, 2025)

"Cazuza: Boas Novas", de Nilo Romero e Roberto Moret, retrata um dos períodos mais marcantes da vida de Cazuza, ícone da música brasileira. Entre 1987 e 1989, o cantor enfrentava o diagnóstico de AIDS e um declínio severo de sua saúde, enquanto vivia um momento de intensa criatividade: lançou três álbuns, recebeu diversos prêmios e realizou mais de 40 apresentações do memorável show "O Tempo Não Para". O filme explora essa fase de resiliência e genialidade, oferecendo um olhar íntimo sobre o artista em um Brasil culturalmente efervescente dos anos 80.

Nilo Romero, que também roteiriza o filme, traz uma perspectiva próxima, construída a partir de sua relação pessoal com Cazuza. Isso se reflete em imagens de arquivo inéditas e depoimentos de nomes como Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Frejat, Leo Jaime e Lucinha Araújo, mãe do cantor. A narrativa foca nos bastidores da vida de Cazuza, mostrando sua fraqueza diante da doença e sua força nos palcos.

A montagem, feita por Jordana Berg com apoio de Bianca Peres, alterna entre cenas de palco e momentos pessoais, valorizando performances de músicas como "Codinome Beija Flor", "Blues da Piedade", "O Tempo Não Para" e "Um Trem para as Estrelas". Um dos pontos altos é o show dirigido por Ney Matogrosso, cujas imagens de arquivo em VHS dos bastidores trazem um toque nostálgico e genuíno. Uma cápsula do tempo!

O filme trata a luta de Cazuza contra a AIDS de maneira sutil e comovente, sem transformá-la no foco principal. Depoimentos como o de Lucinha Araújo sobre a internação em Boston e os desafios nas gravações de "Burguesia" emocionam. A entrevista concedida a Marília Gabriela, na qual Cazuza nega estar com a doença, é incluída, evidenciando o estigma que o acompanhava e que, até hoje, permanece associado a ele. Ainda assim, o documentário prioriza a arte e a resistência do cantor, o que torna a homenagem mais delicada e humana.


"Cazuza: Boas Novas" destaca a resistência de Cazuza em um contexto de transformações no Brasi. O filme oferece uma janela histórica valiosa e celebra a força criativa do artista, alcançando tanto fãs quanto novas gerações, mesmo sem dialogar diretamente com o presente. Diferente da cinebiografia "Cazuza: O Tempo Não Para" (2004), que cobre toda a vida do cantor, o doc foca em um recorte específico, com um tom mais íntimo e depoimentos exclusivos.

O documentário é uma homenagem íntima e emocionante a um dos maiores nomes da música brasileira. Com imagens exclusivas e uma trilha sonora marcante, o filme resgata a memória de Cazuza de forma sutil e comovente, e com respeito, mas sem fazer dela o centro da narrativa. É uma obra tocante, que celebra a genialidade e a força do artista.

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