quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Jezabel(Venezuela/México, 2022)

Lolo, Cacá, Eli e Alain, quatro jovens da classe alta da Venezuela, vivem uma vida poliamorosa de sexo e drogas até que um dia Eli é brutalmente assassinada. Dezesseis anos depois, Alain sofre com as lembranças do passado e, em sua presença despreocupada, reflete sobre o fato de que aquele que foi declarado o assassino pode não ter sido o verdadeiro culpado.

Em 2033, a Venezuela está à beira de uma eleição presidencial que está causando discussões acaloradas no país. No entanto, pessoas como o repórter Alain (Gabriel Agüero) não são afetadas por isso.

Como muitos de seus colegas, ele perdeu a fé no sistema. No entanto, uma notícia o tira de sua rotina habitual: seu amigo e autor Salvador (Erich Wildpret) está falando sobre um livro de não-ficção sobre assassinatos não resolvidos e casos de pessoas desaparecidas na década de 2010. Os dois começam um relacionamento, durante o qual Salvador percebe que algo está errado.

Quando ele continua perguntando, o amante lhe conta sobre sua época de adolescente (então interpretado por Luis Carlos Boffill), bem como sua amizade com seus colegas Eli (Eliane Chipa), Loló (Johanna Juliethe) e Cacá (Skati Maal). Na faculdade, os três eram inseparáveis e dividiam tudo: drogas, álcool e sexo. Ele conta a Salvador sobre suas brincadeiras, que logo deixam de ser inofensivas, mas decidem o destino de seus pais ou professores. Eles também estão ligados pela condenação de um professor de sua escola, pela morte de Eli, que foi cruelmente executado na prisão..


Apesar dos protestos de Alain de que quer acabar com o passado, Salvador parte em busca de testemunhas e arquivos que possam confirmar ou expandir a história. Cada vez mais, ele não apenas acompanha a história de 2017, um ano de agitação e revolução em Caracas, mas também a questão de saber se o professor foi realmente o assassino da época ou se há uma verdade muito pior por trás de sua condenação. 

Luis Carlos Boffill e Gabriel Agüero interpretam duas versões de um personagem que quer romper com o passado, mas escorrega cada vez mais fundo no turbilhão de uma mentira.

Em seu roteiro, o diretor Hernán Jabes e o co-roteirista, e autor do romance de origem, Eduardo Sánchez Rugeles,  destacam como a narrativa se torna uma saída semelhante às escapadas sexuais dos jovens, que tentam, sem sucesso, se distanciar dos mais velhos. A história trabalha repetidamente com a memória nebulosa do personagem principal, com a conexão do passado e do presente, o que compõe uma parte da dramaturgia do filme e chega a uma resolução muito interessante.


Jabes traz esta parábola bíblica contemporânea onde os meandros da memória individual enganam a memória coletiva para reescrever uma história que, ao que parece, na Caracas de hoje, ninguém quer lembrar. E muito menos as classes altas, fomentadas na corrupção e envoltas na impunidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário