Se há uma nouvelle vague do CINEMA LGBT+ esse é o New Queer Cinema. O movimento surgiu no início da década de 90, mas só ganhou o título em 1992, quando a crítica de cinema B. Ruby Berch, da Sight & Sound, notou uma expressiva produção com títulos em sua apresentação de identidades sexuais, que desafiavam tanto a heteronrmatividade quanto resistiam a promover imagens "positivas" de pessoas LGBTQIA+.
No mundo do New Queer Cinema, a sexualidade é muitas vezes uma força caótica e subversiva, que é alienante e muitas vezes brutalmente reprimida pelas estruturas de poder. Os filmes do movimento frequentemente apresentavam representações explícitas e sem remorso da atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo. O movimento era uma resposta para a crise da AIDS, já que eles não só criticavam o sistema de saúde, como também eram feitos em grande parte por ativistas.
O New Queer Cinema, que aconteceu principalmente nos EUA e na Inglaterra, serviu de resposta aos opressivos Governo Reagan e Thatcher, revelando grandes cineastas como Todd Haynes, Gregg Araki, Bruce LaBruce, Cheryl Dunye e Gus Van Sant. A página elegeu algumas obras essenciais desse importante período cinematográfico e de contracultura LGBTQIA+.
O Par Perfeito(Go Fish, de Rose Troche, EUA, 1994)
O filme, de Rose Troche é um manifesto feminista que se passa no campus de uma universidade americana. Kia é uma professora que divide o quarto com a estudante Max. O filme fala de identidade sexual, estereótipos, e todo tipo de tabus que estão presentes no cotidiano de mulheres homossexuais.
Línguas Desatadas(Tongues Untied, de Marlon Riggs, EUA, 1990)
Línguas Desatadas, é o tipo de recado urgente de uma sociedade negra e gay que vivia nos Estados Unidos sob as administrações Reagan e Bush; é um relatório das próprias margens, composto de alguma forma fora da linguagem habitual. O diretor Marlon Riggs coloca à frente e no centro um núcleo de depoimentos - alguns falados, outros cantados, outros em rap- refletindo sobre o duplo preconceito enfrentado por homens, negros e gays, no epicentro da AIDS: atacados tanto por sua cor de pele quanto por preferências sexuais.
Zero Patience(de John Greyson, Canadá, 1993)
Zero Patience, de John Greyson, conseguiu fazer o que parecia impossível: trazer humor e leveza para a problemática da AIDS. Para escrever o roteiro, Greyson se inspirou na história do comissário de bordo Gaëtan Dugas, um franco-canadense, apontado por levar o vírus aos Estados Unidos. Colorido, lúdico, bem-humorado e corajoso, o filme é um musical marcado por cenas icônicas e letras que levantam uma bandeira de militância e crítica social desmontando o mito por trás da história do paciente zero, com uma linguagem de videoclipe
Swoon - Colapso do Desejo(Swoon, de Tom Kalin, EUA, 1992)
Poeticamente rodado em PB, Swoon - Colapso do Desejo, reabre o notório assassinato do menino Bobby Frank, cuja morte na década de 1920, se tornou um escândalo internacional quando foi revelado que dois jovens homossexuais ricos de Chicago, Richard Loeb(Daniel Schlachet) e Nathan Leopold Jr.(Craig Chester), haviam cometido o crime a ponta-pés.
Young Soul Rebels(de Isaac Julien, Reino Unido, 1991)
Young Soul Rebels é extremamente eficiente em percorrer com fluidez todas as várias situações sociais com misturas iguais de coreografia e documentação que localizam infalivelmente a autenticidade de cada cena. O diretor Isaac Julien tem uma capacidade notável de entrelaçar todas as várias vertentes sócio-políticas da história em uma teia abrangente que não limita nem restringe seu alcance.
Morango e Chocolate (Fresa y Chocolate, Cuba/México/Espanha, 1993)
Enquanto o movimento fervilhava criativamente nos EUA e na Europa, na América Latina o conservadorismo era maior. Mas Morango e Chocolate(1993), de Tomas Gutierrez Alea e Juan Carlos Tabío, levantou uma discussão sobre a sociedade cubana dos anos 1970. O filme tem verdadeira força e charme, principalmente na maneira como nos leva a esperar um romance, e então nos dá um personagem cuja própria existência é uma crítica à sua sociedade.
Viver Até o Fim(The Living End, de Gregg Araki, 1992)
The Living End é um filme propositalmente raivoso; uma resposta a um país governado por republicanos indiferentes à epidemia de AIDS que assolava os Estados Unidos no período; um ato de rebeldia contra o mundo, onde não há sonho americano. No filme do então promissor, mas sempre subversivo, Gregg Araki, Luke (Mike Dytri) é um cara imprudente e inquieto e Jon (Craig Gilmore)é um crítico de cinema relativamente tímido e pessimista. Ambos são gays e soropositivos.
Veneno(Poison, de Todd Haynes, EUA, 1991)
Repleto de analogias e interpretações, a estreia de Todd Haynes, são três histórias entrelaçadas, sobre estranhos, sexo e violência: um pseudodocumentário sobre um garoto de sete anos que mata o pai; um cientista maluco que descobre a essência da sexualidade humana; o amor homossexual entre prisioneiros inspirado por Jean Genet.
The Watermelon Woman(de Cheryl Dunye, EUA, 1996)
The Watermelon Woman foi o primeiro filme dirigido por uma mulher negra abertamente lésbica, sendo considerado um marco para o New Queer Cinema. Sob o comando de Cheryl Dunye (que também o escreveu e editou), o longa busca abordar temas como a dificuldade de se encontrar arquivos sobre biografias de mulheres negras queer que trabalharam em Hollywood, assim como o seu apagamento histórico.
Garotos de Programa(My Own Private Idaho, de Gus Van Sant, EUA, 1991)
Garotos de Programa, o clássico de Gus Van Sant, é uma das obras referenciais do movimento New Queer Cinema, se tornando notável pela coragem de abordar temas tabus na época como prostituição, drogas, sexo e homossexualidade. Além disso, diretor, apresenta um estilo narrativo muito próprio, ao contar a história através de uma peça de Shakespeare.
Eduardo II(Edward II, de Derek Jarman, Reino Unido, 1991)
Considerado um dos primeiros filmes a representar o movimento New Queer Cinema, no Reino Unido, Eduardo II, de Derek Jarman, através de anacronismos, como o uso de figurinos modernos e a trilha sonora contemporânea, faz um paralelo entre a história do rei inglês, que, ao escolher amar um homem, sofreu a opressão da nobreza inglesa, com a luta pelos direitos LGBTQIA+ contra o estado inglês homofóbico e repressor dos anos 80 e 90.
Paris is Burning(de Jennie Levingston, EUA, 1990)
O documentário, de Jennie Levingston, de 1990, é um dos maiores ícones do cinema gay e representa o início do movimento new cinema queer. O documentário retrata a cultura dos bailes gays no final dos anos 1980 no Harlem. Sua abordagem faz com que se abram discussões sobre gênero, ativismo negro e estudos trans. Outro ponto alto, é que ele apresenta a cultura do Vogue, mais tarde comercializada por Madonna.
Esses filmes e diretores que na década de 1990 conseguiram trazer um olhar positivo para a estigmatizada comunidade LGBTQIA+ pavimentaram um terreno para que nas décadas seguintes, surgisse um cinema queer fora do armário, com abordagens cada vez mais sérias, visibilidade mais presente e acima de tudo assumindo uma solidez nas produções, que hoje alcançam um público bem maior que os das sessões da meia noite.
REFERÊNCIAS: CLUBE DA POLTRONA MUBI LIST
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