terça-feira, 21 de novembro de 2023

O NEW QUEER CINEMA

 

Se há uma nouvelle vague do CINEMA LGBT+ esse é o New Queer Cinema. O movimento surgiu no início da década de 90, mas só ganhou o título em 1992, quando a crítica de cinema B. Ruby Berch, da Sight & Sound, notou uma expressiva produção com títulos  em sua apresentação de identidades sexuais, que desafiavam tanto a heteronrmatividade quanto resistiam a promover imagens "positivas" de pessoas LGBTQIA+.

No mundo do New Queer Cinema, a sexualidade é muitas vezes uma força caótica e subversiva, que é alienante e muitas vezes brutalmente reprimida pelas estruturas de poder. Os filmes do  movimento  frequentemente apresentavam representações explícitas e sem remorso da atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo. O movimento era uma resposta para a crise da AIDS, já que eles não só criticavam o sistema de saúde, como também eram feitos em grande parte por ativistas.


O New Queer Cinema, que aconteceu principalmente nos EUA e na Inglaterra, serviu de resposta aos opressivos Governo Reagan e Thatcher, revelando grandes cineastas como Todd Haynes, Gregg Araki, Bruce LaBruce, Cheryl Dunye  e Gus Van Sant. A página elegeu algumas obras essenciais desse importante período cinematográfico e de contracultura LGBTQIA+.


No Skin Off My Ass(de Bruce LaBruce, Canadá, 1991)



Um cabeleireiro punk (Bruce LaBruce) fica obcecado por um skinhead neonazista aparentemente mudo (Klaus von Brücker) que caminha pelas ruas de Toronto sem ter para onde ir. Um dia, ele o encontra num parque e o convida para sua casa, onde dará banho, conversará e aprisionará o desconhecido no quarto de hóspedes. É um dos grandes exemplos presentes no movimento New Queer Cinema por transgredir padrões culturais e tabus sexuais, além de romper com a heteronormatividade. Filmado em preto & branco, e em 8 mm, se tornou um filme cult e curiosamente era favorito de Kurt Cobain.

O Par Perfeito(Go Fish, de Rose Troche, EUA, 1994)


O filme, de Rose Troche é um manifesto feminista que se passa no campus de uma universidade americana. Kia é uma professora que divide o quarto com a estudante Max. O filme fala de identidade sexual, estereótipos, e todo tipo de tabus que estão presentes no cotidiano de mulheres homossexuais.


Línguas Desatadas(Tongues Untied, de Marlon Riggs, EUA, 1990)


Línguas Desatadas, é o tipo de recado urgente de uma sociedade negra e gay que vivia nos Estados Unidos sob as administrações Reagan e Bush; é um relatório das próprias margens, composto de alguma forma fora da linguagem habitual. O diretor Marlon Riggs coloca à frente e no centro um núcleo de depoimentos - alguns falados, outros cantados, outros em rap- refletindo sobre o duplo preconceito enfrentado por homens, negros e gays, no epicentro da AIDS: atacados tanto por sua cor de pele quanto por preferências sexuais.


Zero Patience(de John Greyson, Canadá, 1993)

Zero Patience, de John Greyson, conseguiu fazer o que parecia impossível: trazer humor e leveza para a problemática da AIDS. Para escrever o roteiro, Greyson se inspirou na história do comissário de bordo Gaëtan Dugas, um franco-canadense, apontado por levar o vírus aos Estados Unidos. Colorido, lúdico, bem-humorado e corajoso, o filme é um musical marcado por cenas icônicas e letras que levantam uma bandeira de militância e crítica social desmontando o mito por trás da história do paciente zero, com uma linguagem de videoclipe


Swoon - Colapso do Desejo(Swoon, de Tom Kalin, EUA, 1992)



Poeticamente rodado em PB, Swoon - Colapso do Desejo, reabre o notório assassinato do menino Bobby Frank, cuja morte na década de 1920, se tornou um escândalo internacional quando foi revelado que dois jovens homossexuais ricos de Chicago, Richard Loeb(Daniel Schlachet) e Nathan Leopold Jr.(Craig Chester), haviam cometido o crime a ponta-pés.

Young Soul Rebels(de Isaac Julien, Reino Unido, 1991)

Young Soul Rebels é extremamente eficiente em percorrer com fluidez todas as várias situações sociais com misturas iguais de coreografia e documentação que localizam infalivelmente a autenticidade de cada cena. O diretor Isaac Julien tem uma capacidade notável de entrelaçar todas as várias vertentes sócio-políticas da história em uma teia abrangente que não limita nem restringe seu alcance.


Morango e Chocolate (Fresa y Chocolate, Cuba/México/Espanha, 1993)

Enquanto o movimento fervilhava criativamente nos EUA e na Europa, na América Latina o conservadorismo era maior. Mas Morango e Chocolate(1993), de Tomas Gutierrez Alea e Juan Carlos Tabío, levantou uma discussão sobre a sociedade cubana dos anos 1970. O filme tem verdadeira força e charme, principalmente na maneira como nos leva a esperar um romance, e então nos dá um personagem cuja própria existência é uma crítica à sua sociedade.


Viver Até o Fim(The Living End, de Gregg Araki, 1992)


The Living End é um filme propositalmente raivoso; uma resposta a um país governado por republicanos indiferentes à epidemia de AIDS que assolava os Estados Unidos no período; um ato de rebeldia contra o mundo, onde não há sonho americano. No filme do então promissor, mas sempre subversivo, Gregg Araki, Luke (Mike Dytri) é um cara imprudente e inquieto e Jon (Craig Gilmore)é um crítico de cinema relativamente tímido e pessimista. Ambos são gays e soropositivos.


Veneno(Poison, de Todd Haynes, EUA, 1991)



Repleto de analogias e interpretações, a estreia de Todd Haynes, são três histórias entrelaçadas, sobre estranhos, sexo e violência: um pseudodocumentário sobre um garoto de sete anos que mata o pai; um cientista maluco que descobre a essência da sexualidade humana; o amor homossexual entre prisioneiros inspirado por Jean Genet.


The Watermelon Woman(de Cheryl Dunye, EUA, 1996)

The Watermelon Woman foi o primeiro filme dirigido por uma mulher negra abertamente lésbica, sendo considerado um marco para o New Queer Cinema. Sob o comando de Cheryl Dunye (que também o escreveu  e editou), o longa busca abordar temas como a dificuldade de se encontrar arquivos sobre biografias de mulheres negras queer que trabalharam em Hollywood, assim como o seu apagamento histórico.


Garotos de Programa(My Own Private Idaho, de Gus Van Sant, EUA, 1991)


Garotos de Programa, o clássico de Gus Van Sant, é uma das obras referenciais do movimento New Queer Cinema, se tornando notável pela coragem de abordar temas tabus na época como prostituição, drogas, sexo e homossexualidade. Além disso, diretor, apresenta um estilo narrativo muito próprio, ao contar a história através de uma peça de Shakespeare.


Eduardo II(Edward II, de Derek Jarman, Reino Unido, 1991)


Considerado um dos primeiros filmes a representar o movimento New Queer Cinema, no Reino Unido, Eduardo II, de Derek Jarman, através de anacronismos, como o uso de figurinos modernos e a trilha sonora contemporânea, faz um paralelo entre a história do rei inglês, que, ao escolher amar um homem, sofreu a opressão da nobreza inglesa, com a luta pelos direitos LGBTQIA+ contra o estado inglês homofóbico e repressor dos anos 80 e 90.


Paris is Burning(de Jennie Levingston, EUA, 1990)



O documentário, de Jennie Levingston, de 1990, é um dos maiores ícones do cinema gay e representa o início do movimento new cinema queer. O documentário retrata a cultura dos bailes gays no final dos anos 1980 no Harlem. Sua abordagem faz com que se abram discussões sobre gênero, ativismo negro e estudos trans. Outro ponto alto, é que ele apresenta a cultura do Vogue, mais tarde comercializada por Madonna.



Esses filmes e diretores que na década de 1990 conseguiram trazer um olhar positivo para a estigmatizada comunidade LGBTQIA+ pavimentaram um terreno para que nas décadas seguintes, surgisse um cinema queer fora do armário, com abordagens cada vez mais sérias, visibilidade mais presente e acima de tudo assumindo uma solidez nas produções, que hoje alcançam um público bem maior que os das sessões da meia noite.


REFERÊNCIAS: CLUBE DA POLTRONA MUBI LIST

WIKIPEDIA

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