quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Patagonia(Itália, 2023)

Depois do clipe para I Wanna Be Your Slave, do Måneskin, o aguardado longa de estreia de Simone Bozzelli, Patagonia, aborda a masculinidade tóxica, as dinâmicas de poder sexual, a abundância de drogas recreativas e os (graves) desequilíbrios psicológicos num ambiente jovem queer.

No centro estão dois jovens. O primeiro é Yuri (Andrea Fuorto), que vive em um ponto indefinido na costa de Abruzzo, na Itália. Ele tem quase vinte anos, e é infantilizado, seus pais não estão lá e suas tias o repreendem a cada dois meses. Tratam-no como uma criança que nunca cresceu: fazem-no pequenas tarefas durante o dia, dão lhe banho, vestem-no com roupas menores do que o seu tamanho. Esta é a vida dele. Indefinida, incubada num casulo eterno.


Um dia ele encontra o outro jovem. Trata-se de Agostino (Agostino Mario Russi) que vive em um acampamento abandonado e trabalha como palhaço em festas de aniversário para ganhar a vida. Seu cabelo é tingido de vermelho, seu rosto e corpo estão cobertos de piercings. Ele diz que quer ser livre, que não quer pagar aluguel e por isso se muda constantemente de uma rave para outra. Yuri fica fascinado e parte com ele, deixando sua infância para trás, com o sonho de ir à Patagônia.


Mas a história de Patagonia não é de príncipes encantados. É uma história de vidas lutando com o que encontram. É a história de uma vida incrustada de sujeira. Há sujeira nas laterais dessas estradas de uma província sem fim, sem perspectiva, há sujeira em Agostino, há sujeira nas roupas, na pele, sob as unhas, no sexo.


A relação tóxica que se desenvolve entre os dois é a base da narrativa de Patagonia que rapidamente deixa o público desconfortável. Ele assiste impotente à terrível tomada do poder entre o jovem Yuri, que é ao mesmo tempo fascinado, ingênuo  e talvez já apaixonado sem perceber, e Agostino, um sedutor à vontade, manipulador, que fisga seu peixe elogiando-o e imediatamente faz uma crítica contundente, criticando e desprezando constantemente sua vítima.


Em Patagonia, Simone Bozzelli aborda temas complexos e  faz muito bem: normalidade alheia ao bom pensamento, sujeira e nojo, decisões erradas, relações que não podem ser definidas. O grande triunfo do diretor é a escolha dos atores: o elenco é cheio de talento e força, começando por Andrea Fuorto e Augusto Mario Russi ricos em facetas e profundidade.




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