Inicialmente ingênua e reduzida à mente de uma criança, Bella é mantida sob o olhar atento do Dr. Baxter , também referido sem sutileza pelo apelido Deus, e seu aluno/assistente Max McCandles (Ramy Youssef). Ele foi trazido para tomar notas detalhadas sobre os processos cognitivos de Bella e acabou sendo persuadido a pedir a mão dela em casamento. No entanto, Bella não está disposta a ser amarrada em sua nova vida, apesar dos crescentes sentimentos paternos do cirurgião que a reanimou.
Bella rapidamente desenvolve um apetite sexual voraz, e traz cores ao filme, sem as armadilhas da sociedade abotoada da Inglaterra vitoriana, foge com um advogado, Duncan Wedderburn(Mark Ruffalo). Ele se apresenta como libertino, mas rapidamente se revela como sendo emblemático de muitos dos preconceitos de sua sociedade patriarcal.
Em contrapartida, Bella se vê em busca de autodescoberta e libertação. Bella e Wedderburn embarcam no que só pode ser descrito como uma odisseia hedonista ambientada nos fundos pastel de Lisboa, Cairo e Paris.
Yorgos Lanthimos se juntou ao roteirista, Tony McNamara, com quem trabalhou anteriormente em A Favorita(2018). McNamara constrói o roteiro com diálogos contundentes que oferecem um contraste gritante entre os personagens. O texto de Bella, em particular, é incrivelmente indicativo do crescimento filosófico de sua personagem ao longo do filme.
Indicada ao Oscar, Emma Stone é grandiosa, com uma atuação matizada e multifacetada que demonstra seu alcance como atriz. A personagem que ela interpreta é literalmente um monstro de Frankenstein, uma mulher vitoriana infantilizada que está em constante evolução e a inteligência pode ser observada cena a cena.
Um ponto significativo da trama é Bella optando por se voltar para o trabalho sexual, juntando-se a um bordel em Paris administrado pela excêntrica Madame Swiney (Katherine Hunter). É aqui, que a experiência também se torna um conto queer, já que Bella, vê sua ida para a prostituição como um aspecto de libertação.
Pobres Criaturas é definitivamente um filme estranho e fora do comum que cruza a linha entre comédia sombria, ficção científica e fantasia, mas faz isso para forçar o limite sobre o que significa encontrar-se. O longa mistura ambiciosamente o Frankenstein, de Mary Shelley, com uma estética steampunk e uma transformação inversa de My Fair Lady em um conto fantástico, e cínico, de autodescoberta cheio de sagacidade, cuidado, e uma certa dose macabra.
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