quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Conann(Bélgica/França/Luxemburgo, 2023)

O conto clássico de Conan foi criado durante a era das revistas pulp, dos anos 1930, para encantar aqueles que procuravam aventura através de uma lente de fantasia e imortalizado no cinema em ‘Conan, o Bárbaro', de 1982, estrelado por Arnold Schwarzenegger. O realizador francês Bertrand Mandico, inverte o gênero, rebatiza Conann, e dá uma chance às mulheres de se tornarem brutais, senhoras da guerra e bárbaras, neste filme de arte sexualmente fluido.

Na velhice, no inferno da amnésia. Conann (Françoise Brion) ouve a história de sua vida, narrada por Rainer (Elina Löwensohn), a cadela do submundo, que a leva a lembrar de tudo, desde sua escravidão em Sanja e sua ascensão como bárbara, até sua entrada em um mundo cercada de crueldade.  Bertrand Mandico reformula a figura de Conann entre flashes, brilho, violência, sangue, amor, fogo, crueldade e morte, de um ponto de vista estritamente conceitual e filosófico.


De espadas arrancadas, feridas que nunca cicatrizam completamente e mutações grotescas, o sangue flui livre como vinho para o cálice de Conann. Isso sem falar nos horrores existenciais da guerra e toda a carnificina gratuita que vem com ela, o que impulsiona os aspectos mais perturbadores do filme.


Ao apresentar a protagonista interpretada por seis diferentes atrizes, cada uma com dez anos de diferença, Mandico cria essencialmente uma estrutura episódica. Algumas sequências se inclinam mais para os nichos da fantasia, enquanto outras vão em uma direção cyberpunk. No entanto, o diretor consegue fazer tudo fluir bem de uma maneira onírica.




As atrizes que interpretam as várias iterações da protagonista são todas excelentes - Claire Duburcq, Christa Théret, Sandra Parfait, Agata Buzek, Nathalie Richard e Françoise Brion. O desempenho de apoio de Elina Löwensoh, como o cachorro metamorfo, também é incrivelmente transformador.

Esteticamente, Conann é absolutamente magistral. Rodado num galpão, o filme é uma visão única, esotérica e caótica, mas cada quadro funciona. A fotografia, de Nicolas Eveileau, encontra o equilíbrio perfeito entre épico e ambicioso, mas dimensionado para permitir que funcione como uma homenagem a um gênero conhecido por sua opulência.


Talvez os melhores momentos do filme ocorram quando Conann pondera uma vida além da violência e da imortalidade, questionando o que significa criar um legado que realmente perdure. À medida que amadurece, Conann aprende com seus arrependimentos. Ela se torna cada vez mais complexa, experiente e ponderada, mas não menos bárbara.

Em entrevista à Variety, Mandico mencionou que Conann é a terceira parte da "Trilogia Afterlife", com Les Garçons Sauvages(2017) representando o Paraíso, After Blue(2021) sendo Purgatório e Conann,  Inferno. 



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