Após três anos de espera, a segunda temporada da aclamada Euphoria, série de Sam Levinson, para a HBO, chegou, mais sombria, obscura e menos lúdica e colorida mas igualmente realista e imersiva. O primeiro episódio começa revelando as origens do traficante Fez(Angus Cloud).
Somos transportados a um bordel repleto de sexo explícito onde o menino é resgatado por sua avó, uma bandida da pesada e inserido no submundo ilícito. O personagem enfim ganha protagonismo e já adulto aparece ao lado do minidealer Ash(Javon "Wanna" Walton) e Rue, a brilhante Zendaya, novamente se envolvendo em problemas.
Após uma tentativa de reabilitação, Rue recaiu e seu comportamento cada vez mais fora da realidade acaba por afastar as pessoas queridas, assim como colocá-la em riscos físicos e mentais. Ainda neste começo, em uma Festa de Ano Novo, regada a sexo, álcool, música e muita droga somos apresentados ao personagem Elliot(Dominic Fike) que mais tarde irá desempenhar um papel fundamental no relacionamento de Jules(Hunter Shafer) e Rue.
Ainda sofrendo as consequências da primeira temporada Sydney Sweeney exibe sua beleza melancólica em cenas repletas de erotismo que definem sua personagem Cassie, submissa, objetificada, porém enigmática e que disputa secretamente o amor do vilão Nate(Jacob Elordi), com a melhor amiga Maddy(Alexa Demi).
O passado do obscuro Cal Jacobs é revelado no terceiro episódio, que humaniza o personagem, destaca o talento de Eric Dane e fornece momentos oitentistas embalados por INXS, marca a volta do tão característico neon e faz ainda uma referência ao clássico Happy Together. Enquanto isso, no presente, Lexi(Maude Apatow), já muito bem mais desenvolvida, além de flertar com Fez, começa a planejar a peça que será essencial no desfecho da trama.
Quando o quarto episódio começa vislumbramos as melhores referências, durante a abertura, com Jules e Rue recriando filmes e obras de arte, como O Nascimento de Vênus, Brokeback Mountain, Yoko e John Lennon, Ghost, Frida Kahlo, Branca de Neve e Titanic. Embora as cenas sejam lindas e cintilantes, elas carregam o tom do andamento do relacionamento entre as protagonistas, que a essa altura é de partir o coração.
Assim como a relação entre Jules e Rue não será mais a mesma, algo também acontece com a amizade de Cassie e Maddy, abalada por Nate, que nessa temporada está ainda mais odioso, obsessivo, ambíguo e a ponto de um feminicídio.
Quando Labrinth, o compositor da trilha, aparece em uma participação, vislumbramos esperança para a protagonista, mas que nos episódios seguintes será quebrada com Rue sofrendo uma crise violenta de abstinência, correndo pelas ruas, sofrendo riscos, destilando verdades e mostrando os efeitos devastadores da droga na vida de um dependente químico.
Enquanto uns minguam, como Kat(Barbie Ferreira) que teve sua participação reduzida ao relacionamento com Ethan(Austin Abrams) e alguns carões, outros crescem, que é o caso de Lexi, que finalmente leva sua peça aos palcos e expõe, de forma muito sombria, os personagens, especialmente o vilão Nate. Servindo de muita metalinguagem, o espetáculo da irmã de Cassie acontece nos dois últimos episódios.
O tom adotado nessa segunda temporada certamente é mais sombrio. Embora o uso explícito de drogas tenha sido diminuído ainda há muitas carreiras e imagens impressionantes, como uma agulha espetando a pele. No entanto, mesmo obscuras, as cenas são plasticamente belas e há um momento memorável de Maddy experimentando as roupas luxuosas no close de sua patroa, ao som de Judy Garland.
Por falar em Judy Garland, a trilha mais uma vez incrível traz nomes como Lana del Rey, Tove Lo, James Blake, Bonnie Tyler, Ben E. King, Missy Elliot, Mazzy Star, Mahalia Jackson, Jonathan Richman, Sinead O’Connor, INSX, Roxette, Erasure, Echo & The Bunnymen, Lenny Kravitz, CAN, 2Pac, Orville Peck, Sharon Cash, Captain & Tenille, e é claro Labrinth.
O vazio que habita em Rue e que só pode ser preenchido com doses de droga é o que a consome e a destrói, e também é o fio condutor da série, mas sempre há uma luz, sempre há uma esperança, e por mais que Euphoria não seja moralista, ela é realista mesmo em um universo lúdico que traz beleza para a escuridão.
Quando chega em seu oitavo e último episódio, Euphoria é catastrófica e trágica com toques tarantinescos e momentos comoventes. A resolução da peça de Lexi, traz o desfecho para os personagens(nem todos), e alguns são surpreendentes, enquanto outros desoladores.
As consequências do vício, do abuso, da criminalidade e das amizades tóxicas custam um preço alto. Mas o final, mostrando a sobriedade de Rue traz luz, um caminho de respostas e o anúncio da terceira temporada de um dos maiores sucessos televisivos dos últimos tempos.