quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Invasão (Invasión, Espanha, 2024)

"Invasión", de David Martín Porras, é uma ficção científica espanhola com uma abordagem inovadora e minimalista ao gênero de invasões alienígenas. Adaptado da peça teatral homônima de Guillem Clua, autor de "Smiley", o filme entrelaça três histórias paralelas em um cenário apocalíptico, explorando temas profundos como confiança, vulnerabilidade e o amor como salvação em meio ao caos.

A trama se desenrola durante uma invasão extraterrestre que submete a Terra, focando em três núcleos distintos: dois prisioneiros de lados opostos presos em uma cela, três soldados espanhóis refugiados em uma fábrica abandonada e um casal de cientistas isolados com um alienígena cativo. Cada segmento constrói tensão através de diálogos intensos e interações claustrofóbicas, forçando os personagens a confrontar inimigos internos e externos. O roteiro de Clua, fiel à sua origem teatral, prioriza o desenvolvimento psicológico sobre efeitos especiais grandiosos.

A direção de David Martín Porras se entrega à elegância visual e pela economia de recursos, transformando limitações orçamentárias em forças estilísticas. A cinematografia de José Martín Rosete captura paisagens costeiras de Tenerife com uma luz luxuriante, evocando uma atmosfera de liberdade em meio ao confinamento

As performances são cativantes e elevam o filme a um patamar de excelência emocional. Claudia Salas e Fran Berenguer entregam interpretações hipnóticas como protagonistas de um dos segmentos, capturando interações complexas cheias de vitalidade. Sofía Oria, Álvaro Rico e Andrés Gertrúdix brilham como os soldados, transmitindo a efervescência cultural pós-invasão, enquanto María Adánez e Carlos Fuentes formam um casal de cientistas convincente, explorando temas de superação e criatividade

"Invasión" oferece uma camada sutil e alegórica de presença queer, alinhada ao histórico de Porras e Clua em narrativas LGBTQIA+. Embora haja dois personagens claramente gays na trama, os temas de "o outro" como inimigo e a necessidade para construir laços ressoam com experiências queer de marginalização e aceitação. David Martín Porras, diretor de obras como a rom-com gay "Smiley", infunde o filme com uma sensibilidade progressista, onde o confinamento forçado entre opostos pode ser lido como metáfora para dinâmicas de identidade e desejo reprimido, especialmente no segmento dos prisioneiros, que ecoa Un Chan’t D”amour (1950).

O filme se sobressai pela profundidade emocional e pela mensagem humanista de amor como saída para conflitos. É uma reflexão sofisticada sobre a efemeridade da vida e a importância da empatia. Através de um sci-fi introspectivo, Porras confirma seu talento em criar obras cheias de vitalidade e resistência cultural.

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