O relato meticulosamente detalhado de David France é como um grupo furioso e ferozmente comprometido de pessoas altruístas e destemidas, que ao enfrentar a indústria farmacêutica e as instituições governamentais, eles fizeram uma diferença real e salvaram incontáveis vidas.
Esta é, obviamente, a história da epidemia de AIDS que trouxe a formação da organização AIDS Coalition to Unleash Power, mais conhecida como ACT UP, um grupo de ativistas gays cujo sucesso contra tantas probabilidades nunca deve ser subestimado, pois gerou resultados muito relevantes.
O documentário usa um tesouro de imagens de arquivo (filmadas por cerca de 33 pessoas diferentes) que incluiu muitas das primeiras reuniões do ACT UP e suas grandes demonstrações públicas quando provaram o quão hábeis eram em eventos de alto perfil para atrair a atenção da mídia. O filme mostra, por exemplo, o icônico protesto, realizado durante uma missa.
Seu logotipo Silêncio = Morte falava muito e enquanto eles lutavam contra a hostilidade aberta dos políticos e a indiferença das agências governamentais como o F.D.A., você podia sentir sua raiva crescendo, especialmente porque o número de mortos continuava subindo astronomicamente.
O que surge não é apenas a realidade de que se ressentia da presença do ACT UP, que promovia ‘funerais políticos’, mas o fato de que o governo e a sociedade estavam tão visivelmente desconfortáveis com um grupo minoritário fazendo suas demandas de forma tão agressiva e com indignação tão óbvia e totalmente indispostos a recuar.
Isso foi eficaz para aumentar a consciência sobre uma calamidade tão estigmatizada que o presidente Ronald Reagan quase ignorava, George H.W. Bush observava como 'comportamental' e Bill Clinton, em campanha eleitoral, mal estava na vanguarda da causa e parecia assustado quando era alvo de manifestações.
Mas o ativismo da AIDS não se limitou a atos políticos. O filme destaca cientistas, pesquisadores e um químico aposentado, nem todos convivendo com HIV, que fez um trabalho inestimável ao chamar a atenção para um protocolo de tratamento e medicamentos promissores em todo o mundo. Surpreendentemente, a ACT UP conquistou assentos em conselhos de supervisão da crise, como observou um funcionário federal: "Eles sabem mais do que nós".
Hoje sabemos que houve um grande manejo incorreto da epidemia naquela época, com drogas ineficazes, caras e difíceis de encontrar e absoluta ignorância no tratamento de pessoas com HIV/AIDS, e sem a defesa brutal do ACT UP, a situação talvez fosse ainda pior.
Como sobreviver a uma Praga é um filme devastadoramente triste, pois faz reviver a dor avassaladora de perder tantos amigos e te entorpece de choque. Em 1996, após inúmeras tentativas frustradas com o AZT, uma combinação de três remédios foi uma bênção para aqueles que ainda estavam vivos, mas infelizmente, tarde demais para os milhões que já haviam partido.
Não é fácil enfrentar essa parte dolorosa do passado recente, mas é uma causa necessária e obrigatória, até porque hoje conviver com o HIV é uma realidade completamente plausível. Muitos dos sobreviventes, como Larry Kramer, que lançou a peça The Normal Heart, mais tarde adaptada para o cinema por Ryan Murphy, seguem a batalha até hoje. E o filme é também uma lição notável sobre o poder de falar e lutar pelo que acreditamos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário