domingo, 27 de fevereiro de 2022

Lamb(Islândia/Polônia/Suécia, 2021)

A grandeza sombria e pitoresca que os prados e montanhas da Islândia provocam é impressionante e ao mesmo tempo desoladora. A paisagem, integra a narrativa do filme, e se desdobra, de acordo com o misticismo que a estreia de Valdimar Jóhannsson, Lamb, se desenvolve.  

A ação começa na véspera de Natal no curral, onde acontecem coisas ultrajantes. Close-ups dos rostos dos animais peludos por si só criam tensão. O que o diretor de fotografia Eli Arenson traz para a tela aqui só pode ser descrito como uma grande obra de arte. 


Após essa introdução, começamos a acompanhar o casal de camponeses Maria (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason), que vivem com seus animais completamente sozinhos nas montanhas. Não há muito diálogo entre eles, as primeiras palavras chegam depois de cerca de quinze minutos de projeção. O clima entre os dois é o de uma rotina amortecida, que logo será alterada por um acontecimento fantástico.


O que Maria encontra em uma de suas ovelhas um dia é tudo menos um cordeiro comum. O casal claramente tem sentimentos parentais pelo ser que chegou ao mundo. E o fato da criatura, que foi o resultado daquele Natal assustador no início, ser criada como sua própria ‘filha’ traz a eles um vislumbre de esperança.


Batizada de Ada, a personagem híbrida pode ser vista como uma alegoria para a disforia de gênero, afinal ela cresce em um mundo que não lhe pertence, apesar de ser muito bem aceita por seus ‘pais’ e provoca estranhamento, medo e fobia no irmão do protagonista, Petur(Björn Hlynur Haraldsson).

Quando tudo parece perfeito  surge mais do que uma nuvem escura que paira sobre o idílio. O filme abre um leque de interpretações para temas como perda, família e, por último, mas não menos importante, natureza. Em Lamb, Maria e Ingvar certamente rompem a ordem natural que reina ao redor e acima deles, mas suas ações estão longe do que se poderia chamar de mal. 

A princípio, parece óbvio classificar Lamb como um terror folk ou fantasia. Muito mais, Valdimar Jóhannsson criou uma saga cinematográfica que também poderia ser relacionada aos Irmãos Grimm em outros dados geográficos. Aqui o sobrenatural não é de modo algum motivo de terror, mas até mesmo de realização de desejos mais íntimos.


Produção da badalada A24, Lamb prova que um jovem cineasta ainda pode criar uma obra original inteiramente de acordo com as suas próprias ideias, sem se deixar guiar por expectativas e categorias. É um filme para ser lembrado por seus momentos mágicos com suas montanhas, criaturas e coisas que escapam à lógica humana.

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