quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

La Bête dans la Jungle(França/Bélgica/Áustria, 2023)

O filme, de Patric Chiha, começa em uma boate francesa sem nome, em 1979 e vai até 2004, evoluindo na música, na estética e no cenário social. A estudante de história da arte May (Anaïs Demoustier) passou pela severa e misteriosa hostess, interpretada por Béatrice Dalle, e está dançando com seus amigos quando seu olhar de repente para em John (Tom Mercier), que está observando os dançarinos da varanda.

Das danças ainda ao ritmo da febre disco, sob o céu estrelado da Sardenha, começa uma odisseia histórica, passando pela exuberante new wave e as batidas pesadas do techno, serpenteando como um passo de dança pelos fracassos e sucessos da humanidade.

O cenário do filme, lembra o clássico, O Baile(1983), do diretor Ettore Scola, e funciona bem como pano de fundo para dilemas existenciais e os sentimentos não consumados de um casal de frequentadores de um clube bizarro.

Chiha construiu um verdadeiro vulcão de energia, cujas explosões movem as placas tectônicas da sociedade, o que é ansiosamente notado por um sismógrafo histórico vestido com roupas de baile ou calças de couro cravejadas. O cineasta elevou o material de origem, o conto homônimo de Henry James, de 1903, a algo muito diferente.


Muitas coisas acontecem no mundo exterior: François Mitterrand torna-se presidente francês, Klaus Nomi morre, observa-se um eclipse lunar, cai o Muro de Berlim, a crise da AIDS, perpetram-se os atentados terroristas de 11 de Setembro. Mas tais eventos só aparecem de fundo numa tela de TV.


A mesma atração que o clube e John exercem em May  é transmitida com uma incrível jovialidade visual. Vampiros, os personagens parecem existir apenas nesse clube, que também parece estar completamente afastado do mundo em suas cenas superestetizadas. Cenas de dança, música alta, close-ups expressionistas e cores impressionantes dominam a obra.


O design de produção, de Eve Martin, e os figurinos, de Claire Dubien, traçam a trajetória do clube e as pessoas que o habitam. Tudo acontece lentamente, esse acúmulo de mudanças incrementais, a iluminação inebriante mudando de vermelho vibrante e exuberante para branco estridente e, de repente, John e May estão caídos em um sofá desgastado olhando da varanda de um quarto, uma cena, uma comunidade que eles não reconhecem mais.


Por mais que La Bête dans la Jungle seja sobre sonhos não realizados, também parece um alerta sobre a potência do amor jovem, a sensação abrangente de ser notado e totalmente compreendido por outra pessoa cada vez como se fosse a primeira.

  


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