Baseado no best-seller, de Fernanda Melchor, considerado impossível de adaptar devido à complexidade de suas descrições detalhadas e ao fio da consciência narrativa, o filme dirigido por Elisa Miller nos leva à cidade de Veracruz cheia de segredos, violência e morte.
Em um dos canais nos arredores de Veracruz, um grupo de adolescentes encontra o cadáver de La Bruja (Edgar Treviño). Esse fato marca a comunidade e desencadeia fofocas por parte dos vizinhos ávidos por saber a verdade, mas poucos sabem os reais motivos por trás do crime, os segredos da cidade e a realidade de seus habitantes.
Como uma pessoa transgênero, La Bruja teve que lidar com muita homofobia e transfobia. Além de bruxa, ela também é chamada de bicha e cadela. Como na vida real, muitos desses homofóbicos são totalmente hipócritas.
A vida noturna escondida na pequena vila mexicana está vindo à tona cada vez mais devido ao assassinato e à busca pelo autor. O roteiro, adaptado pela diretora junto com Daniela Gómez, faz uso particular do efeito Rashomon (popularizado por Akira Kurosawa em seu filme de mesmo nome) para adicionar camadas de profundidade à história com o testemunho de cada personagem.
Essencialmente, a Temporada de Furacões é dividida em segmentos onde a mesma história é contada a partir da perspectiva de uma nova pessoa. Num momento é da visão de mundo de uma menina grávida de 14 anos, no outro é um jovem que se sente no direito a uma vida melhor e roubado da liberdade.
Por outro lado, cada uma dessas histórias nos apresenta problemas complexos da realidade mexicana: abandono familiar, abuso infantil, gravidez na adolescência, prostituição, crime organizado, machismo, violência doméstica, repressão sexual, homofobia.
O filme impressiona pela parte técnica: a cinematografia, de María Secco, ajuda a transmitir a decadência e a pobreza da cidade através de uma câmara em constante movimento que recorre a tomadas longas e sem cortes, não para exibir a maestria por detrás das lentes, mas para privilegiar as atuações do elenco.
Com Temporada de Furacões, Elisa Miller nos convida a contemplar um microcosmo da realidade de milhões de mexicanos através de seu engenhoso roteiro. Suas imagens não usam filtros românticos: são cruas e sórdidas.
No final, o filme apresenta a família, o machismo e a crença no sobrenatural como nuvens negras flutuando sobre o território, sempre esperando o momento certo para desencadear a tempestade.
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