O thriller jurídico, de Justine Triet, sopra constantemente quente e frio. No filme, o comportamento gelado de Sandra, as respostas ambíguas e os olhares evasivos funcionam contra ela. Ela não chora o suficiente, tem moral livre demais, ela parece a culpada ideal. É isso que o advogado misógino da parte civil tenta demonstrar.
Anatomia de uma Queda é também a dissecação de um casal, a dissolução de uma história de amor, neste caso dois artistas em rivalidade. Em flashbacks, as cenas de argumentos são confusamente precisas.
O advogado de Sandra, Vincent (Swann Arlaud), tem que distorcer a imagem de seu falecido marido para que todos no tribunal acreditem na história de seu suicídio. Mas não conhecemos os heróis e só vemos o que o filme decide nos mostrar.
Uma história que o promotor conta é sobre a bissexualidade de Sandra. Seis meses antes da morte do marido, ela o traiu com uma mulher. A infidelidade é usada como prova de sua ambiguidade. O promotor se alimenta de um estereótipo clássico. Ele enquadra Sandra como uma mulher bissexual criminosa conivente que emasculou seu marido e depois o empurrou para a morte.
Apesar de sua duração, a relação e o drama de tribunal são fascinantes, e esperamos até o último momento para ver quais perguntas o filme responderá e quais permanecerão apenas vagando. São levantados os temas de saúde mental, infidelidade e sexualidade, culpa, aspirações de carreira e realização artística, ideia de criar um filho. E, no final, o veredito cabe ao público.
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