quarta-feira, 20 de março de 2024

Três Tigres Tristes(Brasil, 2022)

Ganhador do Teddy, prêmio máximo do Cinema LGBTQIA+ , no Festival de Berlim, Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre, caminha entre drama, comédia e musical usando a pandemia causada pela Covid-19 para criar um mundo distópico onde um vírus que produz amnésia invade a população.

Vinagre e a roteirista Tainá Muhringer criam um divertido estudo sobre memória, lembrança e o coletivo a partir das experiências dos três personagens principais e seus encontros com coadjuvantes, onde juventude e maturidade se reúnem para falar sobre HIV/AIDS, prostituição, maquiagem, morte e tudo mais.


No centro do filme estão Isabella (Isabella Pereira), uma garota trans, e Pedro (Pedro Ribeiro) . Ele é um camboy que está de luto pela perda de seu amado que se suicidou por causa da pandemia. Pedro, também conhecido como BabyFace geme para seus clientes usando uma jockstrap.


Em questão de horas, Jonata (Jonata Vieira), sobrinho, com HIV, de Pedro, vai passar a noite no minúsculo apartamento, para uma consulta médica no dia seguinte. São três personagens principais queer jovens falando de suas experiências de marginalidade a deriva na metrópole.


Há muito cuidado no filme, seja na fotografia de Cris Lyra, ou nos fabulosos números musicais. É a obra mais bem trabalhada de Vinagre, que traz situações surpreendentes vindas de um contexto político repressor, enquanto faz um cinema queer radical, que tem muito o que dizer.


Através das conversas, ouvimos falar sobre a Mãe Natureza e salvar o planeta, e a onça-pintada, um animal ameaçado de extinção, que surrealmente reencarna em uma mulher-pantera, interpretada por nada menos que Inês Brasil.

Pedro, Isabella e Jonata, três tigres tristes, além do trava-língua, sabem viver na adversidade... mas, além disso, conhecem o amor, a solidão e a amizade; especialmente num regime que teve como alvo minorias. Porque apesar de toda a abstração, Três Tigres Tristes é um filme profundamente político. Mais de uma vez se fala em ‘capetalismo’. Os protagonistas não são politicamente ativos, mas a crítica social, é!


O filme rejeita uma estrutura narrativa convencional, preferindo adotar uma abordagem muito mais experimental, mas evitando cuidadosamente tornar-se alienante. É um manifesto cativante sobre a natureza da juventude, filtrado pela perspectiva de um diretor promissor com muito a oferecer.

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