Priscila (Nathalia Rincón) é uma prostituta transgênero que, acusada de um assassinato, foge para casa de seu pai, Samuel (Roamir Pineda). Ele é o último pescador de garoupas que mora na ilha de La Aguja, no Panamá, e vive há 15 anos solitário e amargurado pela partida de sua mulher e seu filho.
O reencontro atinge a vida de Priscila e Samuel como uma tempestade e, isolados na ilha e confrontados por suas diferenças, pai e filha vão precisar buscar nos afetos do passado a compreensão para o presente.
Em uma comunidade machista e patriarcal, além de muito isolada do mundo externo, Samuel não consegue aceitar Priscila, e ela não consegue perdoá-lo por eventos do passado. Mas acontecimentos dramáticos acabam obrigando os dois a buscarem por uma reconciliação. Esses diálogos entre pai e filha são quase sempre carregados de emoção e de uma dor palpável que precisa ser curada.
O filme mergulha nas águas cristalinas do Mar do Caribe, através da cinematografia de Rafael González, com muitas cenas de pesca, areia e maresia, e mostra como esses paraísos às vezes podem não ser tão paradisíacos assim.
Nathalia Rincón é um destaque como Priscila, ela oferece todas as nuances que não tornam sua personagem monótona, além de atingir outro patamar quando, por convenções provincianas, precisa vestir roupas masculinas.
Temas como transfobia, homofobia, trauma, perda e violência doméstica são tratados, mas sem nunca pesar o tom na estreia da direção de longas do colombiano Edgar De Luque Jácome, que também assina o roteiro.
É uma estreia louvável vinda de um lugar de onde surgem poucas obras queer: “Vejo ‘A Filha do Pescador’ como uma história universal sobre aqueles que têm que enfrentar seus demônios e resolver suas diferenças mais profundas num contexto simples e poderoso, como é o mar, que, com sua corrente, os leva até a margem, até uma segunda chance”, explica o diretor.
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