Este acidente, que acontece a caminho do casamento, leva Arturo ao passado, para recordar acontecimentos antigos, incidentes não superados que, no agora, mudaram a sua vida. Uma vida que, como vemos tem tudo e nada, cheia de contradições e, sobretudo, cheia de um vazio que, justamente, a enche de sentido.
O clima é traçado pelo caos, como num filme de Woody Allen, e o filme mantém um bom ritmo e um tom agridoce, evitando piadas fáceis e duplos sentidos. Shanly e os co-roteiristas Ana Godoy, Federico Lastra e Victoria Marotta, se arriscam com a estrutura da história, que consiste em uma rede de saltos ao passado, a maioria deles a partir de desenhos que Arturo fez em seu diário, e depois retornam ao presente.
À medida que o filme avança, a ruptura da cronologia linear cria uma sensação de desorientação, com passado e presente se misturando. Essa escolha estilística transmite efetivamente não apenas o choque após o acidente de carro, mas também o tumultuado caos que caracteriza a vida de Arturo, marcada por uma série de desventuras constrangedoras.
Também estão presentes os amigos mais próximos de Arturo. Nico, seu ex-companheiro de quarto, recentemente se tornou pai após a transição para uma identidade masculina. O personagem retrata um grupo diverso e positivo que incorpora sutilmente o progresso em termos de direitos LGBTQIA+, na Argentina.
Martín Shanly faz um diário audiovisual onde mostra as contradições contemporâneas que nos atravessam. Do amor romântico à crise da idade e descoberta da identidade, passando pela impossibilidade das relações. E o diretor faz isso de forma divertida, mostrando os capítulos de um caderno rabiscado, mas bastante honesto, justamente, com essas contradições.
Arturo a los 30 capta profundamente a angústia existencial predominante na vida moderna. A criação de Shanly não é apenas um testemunho de suas sensibilidades artísticas, mas também serve como um espelho reflexivo para uma geração que luta para encontrar seu lugar no mundo.
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