domingo, 21 de julho de 2024

Arturo a los 30 (Argentina, 2023)

Buenos Aires em março de 2020, em um dos últimos dias antes do início da pandemia. Um casamento está sendo celebrado, um carro capota. Articulações, beijos, boquete e a lembrança de uma perda são compartilhados. No centro dessa comédia de erros está Arturo, interpretado pelo diretor Martín Shanly, um homem de 30 anos.

Este acidente,  que acontece a caminho do casamento, leva Arturo ao passado, para recordar acontecimentos antigos, incidentes não superados que, no agora, mudaram a sua vida. Uma vida que, como vemos tem tudo e nada, cheia de contradições e, sobretudo, cheia de um vazio que, justamente, a enche de sentido.


O clima é traçado pelo caos, como num filme de Woody Allen, e o filme mantém um bom ritmo e um tom agridoce, evitando piadas fáceis e duplos sentidos. Shanly e os co-roteiristas Ana Godoy, Federico Lastra e Victoria Marotta, se arriscam com a estrutura da história, que consiste em uma rede de saltos ao passado, a maioria deles a partir de desenhos que Arturo fez em seu diário, e depois retornam ao presente.


À medida que o filme avança, a ruptura da cronologia linear cria uma sensação de desorientação, com passado e presente se misturando. Essa escolha estilística transmite efetivamente não apenas o choque após o acidente de carro, mas também o tumultuado caos que caracteriza a vida de Arturo, marcada por uma série de desventuras constrangedoras.

Também estão presentes os amigos mais próximos de Arturo. Nico, seu ex-companheiro de quarto, recentemente se tornou pai após a transição para uma identidade masculina. O personagem retrata  um grupo diverso e positivo que incorpora sutilmente o progresso em termos de direitos LGBTQIA+, na Argentina.

Martín Shanly faz um diário audiovisual onde mostra as contradições contemporâneas que nos atravessam. Do amor romântico à crise da idade e descoberta da identidade, passando pela impossibilidade das relações. E o diretor faz isso de forma divertida, mostrando os capítulos de um caderno rabiscado, mas bastante honesto, justamente, com essas contradições.


Arturo a los 30 capta profundamente a angústia existencial predominante na vida moderna. A criação de Shanly não é apenas um testemunho de suas sensibilidades artísticas, mas também serve como um espelho reflexivo para uma geração que luta para encontrar seu lugar no mundo.




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