Christophe Honoré encharca Le Lycéen com um tom autobiográfico. É a história de um adolescente de dezessete anos, Lucas(Paul Kircher), cujo pai, interpretado pelo próprio Honoré, morre repentinamente em um acidente de carro. É a viagem caótica que segue, no estágio duplo da adolescência e do luto.
O fato de Lucas ter se envolvido em um incidente, muito menos sério, com seu pai apenas alguns dias antes, só serve para aumentar a turbulência, a perda, a culpa e o que está acontecendo com o jovem na corrida para o funeral.
Enquanto sua mãe, interpretada pela brilhante Juliette Binoche, tenta mantê-lo unido com a família, seu irmão artista Quentin (Vincent Lacoste), volta de Paris, para o buscá-lo no internato.
O inverno domina o filme e a geada ameaça o equilíbrio mental e emocional. É com uma riqueza de coadjuvantes decisivos que o cenário aquece o herói. O abrupto e terno irmão mais velho, a mãe devastada e cheia de energia, o novo amigo inspirador e os vários amantes.
Acompanhando seu irmão de volta à Paris, ele conhece e imediatamente se apaixona por seu colega de quarto, Lilio(Erwan Kepoa) enquanto descobre as liberdades de estar em uma cidade grande.
A verdade de Lucas é só dele, mas pode dialogar com qualquer um, e seus traumas ressoam na batida de faixas pop, injetadas da década de 1980 e contemporâneas. A perda atua como uma lupa, de modo que, para Lucas e Quentin, a alternância entre a união fraterna e a rebeldia torna-se como um gatilho.
O sexo anônimo também é um confessionário onde Lucas pode expressar coisas que não consegue com sua família. O tempo todo, sentimos a tempestade interna do protagonista, à medida que a emoção se acumula como um monte de neve.
O filme é pessoal porque Christophe Honoré também perdeu o pai quando era jovem. No entanto, Le Lycéen não é uma viagem ao passado, não é uma pura aceitação da tragédia da própria vida, é como um acerto de contas.
Música e cores são essenciais para o trabalho. Um azul familiar percorre o filme, assim como muitos tons de rosa ou lilás. O cinematografista, Rémy Chevrin, confere às imagens filmadas em material 35mm uma sensibilidade própria, muito receptiva às emoções fortes sem as exagerar.
Le Lycéen é, portanto, uma história cheia de dureza e devoção, entre o retraimento e a autoexposição, comovente, avassaladora, poderosamente devastadora, e de fácil identificação, principalmente por quem já passou pelo processo do luto.
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